Nos cinemas: o romance de Sofia Coppola que quase foi cancelado por falta de dinheiro Divulgação / American Zoetrope / A24

Nos cinemas: o romance de Sofia Coppola que quase foi cancelado por falta de dinheiro

“Priscila”, que está nos cinemas, novo filme de Sofia Coppola aposta em contar a história do relacionamento de Elvis (Jacob Elordi) e Priscilla Presley (Cailee Spaeny), sob a perspectiva de Priscilla. Diferente do filme de Baz Luhrman, de 2022, a história deste longa não tem seu foco principal na trajetória de Elvis, e sim, na de Priscilla.

O filme começa nos apresentando a protagonista que é, até então, uma jovem de 16 anos que ainda está na escola e é criada por pais conservadores e superprotetores. Certo dia, a jovem é convidada para uma festa na casa do famoso astro do rock e o encontro dá início a uma paixão envolvente entre os dois.

A diferença de 10 anos entre o casal é a problemática principal e o ponto de partida para todos os seus problemas. Elvis é mais maduro e experiente, além de ser uma celebridade desejada por todas as mulheres da época. Já Priscilla é uma menina doce e delicada, que nunca teve nenhum tipo de experiência s….. ou amorosa.

Priscilla ainda precisa terminar a escola e o relacionamento começa a distrai-la cada vez mais. Como uma jovem apaixonada, ela naturalmente fica deslumbrada e entregue à esta nova etapa de sua vida.

O casal precisa se despedir quando Elvis é convocado para o exército e precisa ficar certo tempo longe de casa. O tempo passa e Priscilla não consegue tira-lo de seus pensamentos e sempre escreve cartas para o cantor. Quando Elvis retorna, decide avançar uma etapa no relacionamento e convida Priscilla para morar junto com ele, em sua casa. Os pais da jovem mostram-se um pouco resistentes à ideia, mas Elvis consegue convence-los com a condição de que Priscilla concluiria seus estudos.

A partir deste momento, o filme se torna muito mais íntimo e retrata, principalmente, um ambiente específico: o quarto do casal. Naquele local tudo acontece: as primeiras brigas, a primeira relação s….., os momentos de carinho e as conversas.

Coppola tem em sua filmografia, a particularidade de falar dos personagens por meio de outros elementos. Os planos de câmera, a ambientação, os figurinos e a fotografia, falam mais sobre a narrativa dos personagens do que eles mesmos. É o caso de Priscilla. Uma personagem que nunca verbaliza o que está sentindo e passa todo o filme sendo tratada como uma moça ingênua e sem voz alguma. Eternamente submissa ao marido.

Seu quarto torna-se um verdadeiro cárcere. A pouca variação de ambientações e a insistência da diretora em retratar a passagem de tempo dentro de um único espaço, mostram como a personagem se sentia presa dentro de sua própria vida. Elvis não lhe dava independência para absolutamente nada e começa a controlar cada detalhe de sua vida. Escolhia e julgava suas roupas, dizia como ela deveria fazer sua maquiagem e até qual penteado usar no cabelo.

No auge de sua juventude e passando pelo florescer da descoberta s…., a jovem desejava se relacionar com Elvis, mas ele fez questão de esperar até o casamento. Uma contrariedade se instaura quando percebemos que a intimidade poderia de fato ser precoce pela idade de Priscilla, entretanto, a falta de aproximação do casal perdura durante todo o relacionamento, mostrando que Elvis nunca a desejou de verdade.

Elvis era um homem machista e conservador. Ele não queria uma mulher para ser sua parceira, ele queria uma pessoa que pudesse apoia-lo em todos os momentos, mas sem opinar ou interferir em qualquer coisa. Queria uma mulher reservada e submissa que pudesse lhe dar um filho e cuidar da casa, mas nunca, em hipótese alguma, poderia estar nas capas dos jornais. Ela deveria ser invisível para nunca absorver sua fama.

Na obra de Coppolla, Elvis Presley é abordado de uma forma pouco utilizada pela cultura pop. A diretora faz um recorte muito pessoal mostrando quem ele era dentro de casa. Como ele era com sua esposa e sua filha, e como a fama o afetava. Pouco importa se ele é um dos maiores astros do rock da história. Isso já é um fato. Mas Sofia busca outras respostas, outras provocações.

Dessa forma, Sofia constrói uma ficção que tem um toque documental e investigativo, já que imagina um retrato de dentro para fora. O que acontece dentro da intimidade da família é o ponto de partida para o desenrolar da trama, e as consequências externas retornam para a família, como um ciclo interminável.

Priscilla é, sem dúvidas, um filme indispensável para todas as mulheres, por representar de forma muito clara o sofrimento de uma mulher dentro de um relacionamento abusivo. Mesmo com as intermináveis tentativas da protagonista de dar certo, no desfecho ela finalmente se liberta e pela primeira vez, consegue dizer para Elvis como ela se sente. Mesmo que para o público já estivesse nítido há muito tempo, precisamos ouvir da boca dela que o relacionamento chegou ao fim.

Com um belo uso da trilha sonora, fotografia, escolhas estéticas e figurinos, Priscilla é uma grata surpresa e uma das melhores cinebiografias dos últimos anos. Sendo também, um filme obrigatório para todas as mulheres.


Filme: Priscilla
Direção: Sofia Copolla
Ano: 2023
Gêneros: Romance/Musical
Nota: 10