Teste seus nervos: produção na Netflix explora os abismos da loucura humana Divulgação / Netflix

Teste seus nervos: produção na Netflix explora os abismos da loucura humana

Uma minissérie documental de seis episódios, “Como Se Tornar um Líder de Seita” traz alguns arquivos, filmagens, entrevistas e depoimentos macabros que lembram alguns dos cultos mais bizarros que já estamparam os jornais nas últimas décadas. Vira e mexe a gente se pega pensando: “Como deixaram algo como o Holocausto acontecer? É tão absurdo que jamais ocorreria novamente!”. Aconteceria, sim. Não precisa nem ir tão longe. Religiões milenares usam dos mesmos truques utilizados por Adolf Hitler e por esses gurus para enriquecer seus líderes, manipular resultados de eleições e conseguir uma obediência cega de seus seguidores.

O programa é narrado em tom satírico pelo ator Peter Dinklage, que guia os espectadores pelas histórias que começam quase que inocentemente, contando como esses homens aprenderam a usar suas habilidades sociais para agregar pessoas e convencê-las a os obedecer, mas, aos poucos, vão tomando rumos cada vez mais sinistros.

O primeiro episódio fala sobre ninguém menos que Charles Manson, talvez o mais famoso de todos os líderes de culto do século 20. Um garoto sem pai, com a mãe presa por roubo junto com o tio, Charles é obrigado a morar na casa de parentes aos cinco anos. Sofrendo bullying na escola, o primeiro ato conhecido de manipulação de Manson foi reunir um grupo de garotas para vingá-lo. Quando a situação chegou no diretor da escola, ele conseguiu se eximir da culpa, enquanto as colegas foram punidas.

Décadas mais tarde, Manson ficaria conhecido por formar um grupo macabro que se aproximou de celebridades e chegou a assassinar a atriz Sharon Tate, à época esposa do cineasta Roman Polanski, e um grupo de amigos dela que estavam em sua mansão. Mesmo depois de presos, Manson e seu grupo, agiam como se vivessem em uma realidade paralela e não fosse os verdadeiros culpados pelo terrível massacre.

Mas ele não foi o único lunático a causar alguns estragos no mundo usando o idealismo alheio. Em cada um de seus episódios de meia hora dedicados a alguns líderes de culto manipuladores, são lembrados nomes notórios, entre eles o de Jim Jones, que culminou em um suicídio em massa no ano de 1978; Marshall Applewhite, que convenceu que ele e seus membros eram alienígenas; Jaime Gomez, que explorou financeira e sexualmente membros de seu culto; e Shoko Asahara, que empreendeu um ataque terrorista no metrô de Tóquio em 1995, bem como assassinou um cientista antisseita que queria desmascará-lo, junto com sua esposa e o bebê do casal. Outros nomes também são lembrados casualmente, entre eles, o de João de Deus, o médico curandeiro de Cachoeira de Goiás, acusado pelo estupro de mais de 600 mulheres.

É impossível repassar todos os nomes envolvidos em esquemas de manipulação, estelionato, assassinatos e outros crimes, mas a minissérie tenta desdobrar alguns dos casos mais importantes. O programa não apenas relembra estes eventos, mas também analisa algumas das táticas infalíveis utilizadas por líderes de cultos para obter o sucesso.  No último episódio, os roteiristas fazem uma reflexão sobre como nossos tempos têm sido um terreno fértil para esse tipo de coisa. Pense bem no alcance da internet e na influência de celebridades do Instagram sobre as pessoas. Em tempos de inteligência artificial, o maior risco é não pensar por si próprio.


Filme: Como se Tornar um Líder de Seita
Ano: 2023
Gênero: Documentário
Nota: 8/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.