O segredo na Netflix: um tesouro com 99% de avaliações positivas que você ainda não assistiu Divulgação / The Orchard

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Buscando retratar a jornada de um homem em busca de redenção após ter passado metade de sua vida na prisão por um crime que não cometeu, “Outside In” possui um estilo único ao contar uma história que pode parecer comum à primeira vista.

A sutileza é a palavra que melhor define o drama dirigido por Lynn Shelton (1965-2020), que acompanha a vida de Chris, interpretado com toda a dignidade por Jay Duplass em sua melhor forma. Aos 38 anos e agora em liberdade, o protagonista retorna à sua cidade natal, Granite Falls, após duas décadas na prisão. Logo na sequência inicial, enquanto Chris saboreia batatas fritas e observa a paisagem através da janela do carro, é possível perceber a esperança e o alívio em sua expressão, ao mesmo tempo em que reflete sobre o futuro incerto que o aguarda. Essa cena já indica ao público o que esperar de “Outside In” e sua perspectiva única. Conforme Chris começa a se adaptar à sua nova realidade, redescobrindo os prazeres simples da vida em liberdade, a narrativa também o transporta para seu passado, quando ainda era um jovem inocente antes de ser atingido pela adversidade da vida.

A verdade sobre o crime que levou Chris à prisão nunca é totalmente revelada, mas o roteiro deixa claro que ele é realmente inocente e que estava no lugar errado, na hora errada. Essa temática é compartilhada com “Monstro” (2018), dirigido por Anthony Mandler, no qual o personagem central também é envolvido em um crime de assalto à mão armada. Embora haja essa semelhança, “Outside In” se passa em uma pequena cidade na costa nordeste dos Estados Unidos, em contraste com a cidade grande de Nova York em “Monstro”. Talvez um dia se descubra a razão por trás dessas coincidências, mas infelizmente, a diretora Lynn Shelton, que coescreveu o roteiro, faleceu precocemente em maio de 2020 aos 54 anos, vítima de leucemia mieloide aguda.

Os obstáculos que Chris enfrenta ao tentar reconstruir sua vida assumem proporções assustadoras. Tudo é novo para ele, e fica evidente seu desconforto com o mundo ao seu redor, que mudou e evoluiu enquanto ele estava preso. Ele enfrenta dificuldades simples com tarefas de computador, tem dificuldade em usar o telefone para enviar e receber mensagens e enfrenta desafios financeiros que o obrigam a morar temporariamente na casa de seu irmão Ted, interpretado por Ben Schwartz, com quem desenvolve um crescente e incontrolável sentimento de repulsa. Ted é o verdadeiro autor do crime cometido há 20 anos, com a ajuda de um amigo em comum, e passou as últimas duas décadas visitando Chris apenas esporadicamente, sendo menos negligente do que a própria mãe deles, que nunca o visitou ou se incomodou em participar da recepção organizada para celebrar sua libertação, mas envia dinheiro e cartas que Chris dispensa sem lê-las. A única coisa que impede Chris de se rebelar conscientemente dessa vez é Carol, sua antiga professora de inglês do ensino médio, interpretada brilhantemente por Edie Falco. A partir desse momento, o filme ganha profundidade, graças ao carisma e talento de Falco, que rouba a cena e torna a jornada de Duplass, embora limitada em termos dramáticos, ainda mais cativante. A conexão entre os personagens se desenvolve, mesmo que Chris e Carol não se tornem um casal. Carol se torna a pessoa que mais se preocupa com Chris, ligando para ele semanalmente, enviando lições e estudando meticulosamente cada detalhe de seu processo, o que desempenha um papel crucial na redução de sua sentença. Shelton insinua uma possível paixão não correspondida de Carol por Chris, que, por sua vez, pode estar confuso e misturando sentimentos de gratidão com um amor platônico. O filme explora os desafios pessoais de Carol, incluindo seu casamento falido e sua difícil relação com sua filha Hildy, interpretada com graciosidade por Kaitlyn Dever.

À medida que a história avança, a fotografia do filme, comandada habilmente por Nathan M. Miller, ganha destaque. A câmera está sempre próxima das cenas, garantindo que o público não perca nenhum detalhe, capturando a atmosfera constantemente carregada de Granite Falls, uma cidade pequena e chuvosa, onde as relações humanas parecem refletir o mau humor crônico do clima.

O desfecho de “Outside In” sugere que Chris e Carol não se tornam um casal, apesar da tensão sexual palpável e do afeto que sentem um pelo outro. O filme opta por seguir a sugestão de que a vida continua seguindo seu curso normal, com a possibilidade de Chris um dia retribuir todo o bem que Carol, sua ex-professora e ex-namorada platônica, fez por ele. O filme aborda o tema do amor de uma forma desajustada, destacando que nem sempre o amor é simples e puro, podendo ser ridículo e até perverso.


Filme: Outside In
Direção: Lynn Shelton
Ano: 2017
Gênero: Drama
Nota: 9/10