Os 12 melhores poetas da literatura brasileira contemporânea

Os 12 melhores poetas da literatura brasileira contemporânea

Certa feita, diz que, numa conferência, diante de um auditório de estudantes de Letras e afins, o acadêmico Evanildo Bechara fora apresentado pelo mediador como “o maior gramático brasileiro vivo…”. No que o espirituoso membro da ABL retrucou, resignado: “Mas a culpa não é minha se outros já morreram, ora”. Pois bem, neste artigo irei discorrer sobre os 12 melhores poetas “vivos” do sexo masculino da literatura contemporânea, visto que a responsabilidade não há de ser do cronista pela partida daqueles que nos deixaram órfãos do lirismo, neste Vale de Lágrimas. De outra feita, recordo-me da intervenção de uma aluna de Literatura Brasileira do curso de Letras da Universidade Federal Fluminense, que, ao interromper a minha explanação sobre o “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, abruptamente, fuzilou-me: “Mas, professor, isto que o senhor está falando não passa de uma mera opinião; né?” No que repliquei, educadamente: “Sim, a mera opinião de quem passou os últimos trinta e cinco anos de vida a estudar Literatura; e, afinal de contas, o que seria de mim se não expressasse as minhas conclusões em sala de aula, minha cara aluna!?!…”

Dito isto, aproveito-me do preâmbulo introdutório para chamar atenção sobre o fato de que este artigo não passa de “uma mera opinião” deste aprendiz das artes literárias, que, nestas últimas três décadas e meia, se dedica ao ofício de crítico literário, habilitado pelos estudos acadêmicos de graduação e pós-graduação em Letras (Especialização e mestrado em Literatura Brasileira — UFF, Doutorado em Literatura Comparada — UFF; e Pós-Doutorado — Universidade Clássica de Lisboa/PUC-GO), que me impulsionaram à elaboração de teses e ensaios acadêmicos; artigos de revistas especializadas; e cadernos de cultura, como o do “Jornal do Brasil”.

Por esta razão, peço licença (poética) aos(às) Leitores(as), por alguma injustiça que posso vir a cometer por olvidar-me de um ou outro autor indispensável à mesa de cabeceira. Destarte, informo que, nestas mal traçadas linhas, sobre as quais me disponho a sublinhar algumas poucas e cabíveis impressões de leitura, posicionar-me-ei como espectador da experiência lírica, exercida por:  

Embora não esteja em ordem de importância histórica e/ou estética, o primeiro nome desta seleção particular de poetas contemporâneos, que me vem à cabeça é o de Armando Freitas Filho, que, a meu ver, é o discípulo mais fiel e inspirado de Carlos Drummond de Andrade, o maior bardo brasileiro de todos os tempos imemoriais. Não obstante, como dissera outro criador, de quem Freitas Filho herdou o mapa da geologia da síntese seca e mordaz, isto ainda diz pouco, porque o autor de “Máquina de Escrever”, detentor de uma linguagem que prima pela simplicidade linguística à Manuel Bandeira, que, de sua Ítaca, às margens da Baía de Guanabara, se propõe a decifrar as coisas do mundo. Da mesma geração, surge-nos o menestrel Carlos Nejar, o Dom Quixote dos Pampas, com a sua grandiloquência épica e metafísica, que transborda da travessia mítico-humana, ávida por desaguar em foz da concepção do vocábulo forjado pela filosófica essência do Verbo bíblico e profano. “Criar é abismar-se.” — sentenciou-me, fleumático.

Inicio este parágrafo pelo neoconcreto Arnaldo Antunes, fruto do cruzamento miscigenado e apocalíptico da Pauliceia Desvairada de Mário e Oswald de Andrade, com a Geleia Geral da Tropicália ideada por Caetano Veloso e Gilberto Gil. Aliás, eu desconfio de que o vate das trevas de voz cavernosa, que abriga a platônica invenção narcísica de Sampa, vem a ser a reencarnação profética de Torquato Neto, por intermédio do nascituro do seu espírito macunaímico. “Ai, que preguiça concretista!…” O quarto nome da lista deste Schindler tupiniquim vem a ser o erudito e aristocrático, quiçá por vocação do ofício filosófico, Antônio Cícero, o Visconde do Farol do Leblon. Cultor da mensagem que se homizia por detrás da cortina do verso, Cícero se propõe ao diálogo entre visão aristotélica da Mimésis, o drama pessoano e o mito medieval de Mélusine, de cuja imagem se amolda a sua poesia: metade serpente, metade mulher. De sua arcádica atlântica, o guardador de rebanhos platônico vislumbra o Tejo em Pessoa, por ser heterônimo de si mesmo, com singular assinatura mímica: “Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado” — confidenciou-nos o Alberto Caeiro dos Trópicos.      

O bibliófilo Antônio Carlos Secchin, cuja opinião pública insiste em conceituá-lo como o Leitor de João Cabral de Melo Neto, se posicionará através de sua escritura original que, por vezes, abarca certa coloquialidade ao flertar com a irônica irreverência sobre o sentido da vida. Ao lê-lo, percebe-se que, por receio do crítico de Literatura vir puxar a orelha do artista, o acrobático Secchin se habilita por triunfar neste compêndio de sentidos registrado por sua pena mergulhada em tinta de doce insolência, perante os obstáculos da escrita-existência. Em seu confessionário poético, portanto, revela-nos que um poeta jamais saberá onde o seu vozeio termina ou se o outro é quem lhe invade, de modo a afastar-se vulto cabrálico que o fascina e o abisma, no silêncio cúmplice de sua alcova ou biblioteca. Quanto ao menestrel Gilberto Mendonça Teles, conquanto se origine da mesma linhagem da dinastia dos semideuses da Crítica Literária, observa-se que a opulência do cultor de versos irá suplantar o exímio analista do Modernismo, da Literatura Hispano-americana e das vanguardas europeias. Poeta vigoroso de produção abundante, que adentra as entranhas das tradições históricas e folclóricas do Centro-Oeste brasileiro, em busca Homem universal, fato este que o aproxima esteticamente do alagoano magistral de nomeada Jorge de Lima, o camaleônico Mendonça Teles se faz representar por sua prosódia regional. 

O que dizer do douto-instruído Geraldo Carneiro, que não o situe como uma espécie de missioneiro coevo da Távola Redonda, que se perfaz Poeta mesmo quando se doa ao ofício da dramaturgia, das letras de música ou da tradução. Taumaturgo dos precipícios, portador das madeixas alongadas ao estilo hippie das Minas Gerais, o vate Carneiro, com o perdão da inversão do trocadilho, até poderia ser lido como ovelha negra e fugidia em pele de lobo, caso não se inscrevesse pela tradição antropofágica marioandradina, unívoca e multifacetada. Abarrancado em sua Pasárgada realística, o alquimista da fonética soletra-nos arcaísmos quinhentistas e neologismos da pós-modernidade, que abrolham em vocábulo-petála extraído do jardim dos “floriléfios” de sua inventividade lúdica e inteligente. Como acima fora mencionado o movimento hippie, o caso do trovador Mano Melo é curioso e fatídico. Marcado por ser um dos ideólogos da Poesia Falada, oriundo da Poesia Marginal ou Mimeógrafo, a obra admirável e arrebatadora deste Menestrel das Ruas passou a ser subestimada pela intelligentsia pátria, que o reduz ao patamar da oratória facunda e espetaculosa. Entretanto, creio eu que a obra poética deste magnífico clown mambembe cearense, salvo engano, há de ser deposta em pedestal da posteridade, por quem de direito: o tempo, juiz (a)cronológico.

No bojo geográfico, é preciso realçar a importância do conterrâneo de Mano Melo, o anacoreta Adriano Espínola, ledor de fina estirpe da alma humana forjada em pedra e carvão, ao se intentar ao retrato das causas mundanas em seu rascunho lírico, destila certa dose de refinada angústia perante a Máquina do Mundo. Cabe aqui uma profecia: Adriano Espínola será o Poeta das Fortalezas, assim como Manuel Bandeira se perfizera como o Bardo dos Arrecifes. Cabe neste parágrafo, a menção ao intelectual Alexei Bueno, que, sem sombra de dúvida, deve figurar neste panteão-olimpo dos maiores poetas contemporâneos, por sua racionalidade sinóptica, que nos interpenetra pelo viés da frieza abissal do bisturi pós-anacrônico, objeto incisivo e talhante. De outra feita, o exímio verdugo Bueno dilacera com a precisão que nos absorve lentamente pela sutileza do golpe psicológico, que transcende (e transfigura) a alma crua e desnuda do fragilizado(a) Leitor(a), entorpecido sobre o catre solitário da aberração do espanto.

Então chegamos ao lavrador das utopias, o neo-árcade Leonardo Fróes, que nos assombra pela lucidez de suas quimeras orquestradas por arpejos serafínicos de sua lira encantatória, à proporção que o rio caudaloso das intersecções pós-existencialistas imobiliza as (in)certezas oriundas das corpóreas cinzas do espírito. Neste sentido, o Dirceu da Pós-modernidade, quiromante alquímico da natureza morta do Homem que, nietzschianamente crucificado, se decanta na encruzilhada paradisíaca à beira do precipício da lida. Enfim, eis o enigmático Carlito Azevedo, divisor de águas da poesia brasileira que, para o bem e para o mal, influenciou toda uma geração pós-90. Por este viés, o silente-irrequieto Epicuro dos minimalismos pungentes se interpõe através de sua personalidade literária forte e marcante, que seduz e ameaça o(a) Leitor(a), sobretudo o que escreve Poesia, condenando-o, ao passo que o(a) aprisiona por seu estilo-armadilha, qual areia movediça em disfarces de oásis desértico. Como é o caso dos outrora promissores poetas Marco Antônio Saraiva e André Luiz Pinto, que naufragaram a bordo da nau-embarcação azevediana de conceitos, fórmulas e ideias.