Os 10 melhores livros brasileiros de contos de 2022

Os 10 melhores livros brasileiros de contos de 2022

Mal vê a luz do mundo, o homem se flagra numa contenda figadal contra o único adversário que jamais irá bater, passem-se duas horas ou um século. A dor de se perceber escravo do tempo, carrasco da vida que fustiga-nos com a morte — de pessoas chegadas e queridas de quando em quando e com a nossa própria, definitivamente —, faz do mais cínico dos verdugos, ou a indesejada das gentes, na pena de Manuel Bandeira (1886-1968), portador de um confortável sofisma que esconde uma promessa qualquer de felicidade, da felicidade possível, uma vez que, como sabe qualquer um que já tenha sorvido da vida o sumo mais doce e se vê instado pela sensatez a esperar uma época de naufrágios inescapáveis, a felicidade é nada mais que a quimera de ser feliz. O estar no mundo é, como na caverna de Platão (428 a.C – 348 a.C), só um arremedo das memórias mais íntimas de cada um, de todos aqueles conceitos eivados de idiossincrasias as mais diversas, as mesmas que nos mantêm mais e mais encafuados em nossos sonhos e delírios, cheios de perigo e poesia.

Realidade das mais incontestáveis dentre os postulados mais indiscutíveis, a ditadura do tempo projeta-se para além de nossa vã filosofia e nossa compreensão tão pouca, e enquanto houver alguma forma de vida que pulse quase muda no caos maravilhoso do universo, sempre haverá de existir. O problema fundamental do homem, sua lástima mais profunda e mais doída, não é o avanço despótico das horas, mas as malogradas tentativas de encontrar um meio, por mais improvável que seja, de fazer-se-lhe revelar o gozo de onde se alastra o desespero; se desvendasse tal enigma, estaria perto de descobrir alguma justificativa para fugir da vida como ela é guarnecido de alguma razão, sempre assolado pela insana necessidade de tudo justificar, calcular, tornar crível, mesmo que saiba que as infindáveis alienações que se atiram diante de nós no transcorrer da vida concorressem todas para nos aprisionar em sua própria loucura, quiçá a experiência mais assemelhada à morte, por fazer-nos ter apenas a compreensão mínima do que se passa em nosso espírito mesmo e no de quem nos rodeia, e ainda assim de forma diabolicamente enviesada.

Nem sempre a substância grossa e densa dos romances dá conta da pluralidade toda da vida, maçaroca de sensações e estímulos, ímpetos e recalques que avança pela eternidade afora e espezinha do menino ao velho, torturando corações já experimentados na mágoa. Um pouco acima da crônica, aquele gênero menor de que falou Antonio Candido (1918-2017), por quase seis décadas a encarnação da crítica literária no Brasil, os contos têm o mágico condão de traduzir em narrativas curtas o espírito do tempo em que aparecem, mesmo que nem sempre (ou também por isso) retratem com fidedignidade cartesiana a época em que saem do prelo. O paraibano Cristhiano Aguiar se vale de elementos da literatura gótica e do folclore para traçar uma espécie de panorama ideal para o futuro que nos espera — e nos ameaça. Em “Gótico Nordestino” (Alfaguara), Aguiar, crítico literário como Antonio Candido, perpassa a história brasileira moderna, indo do cangaço à ditadura militar, emitindo um parecer bastante perturbador sobre o porvir que iremos colher, não muito distinto do horror que semeamos dia após dia. “Gótico Nordestino” foi o livro de contos mais lembrado pelos leitores da Bula, consultados via newsletter enviada por e-mail, bem por meio de interações em nossos perfis no Facebook e no Twitter. O mais recente trabalho de Aguiar e outros nove títulos constam dessa lista, cujas sinopses foram fornecidas pelas próprias editoras. Se você tem sempre um pretexto para deixar para depois a leitura daquele clássico, não raro ligado ao giro incansável dos ponteiros do relógio da vida, aqui estão dez boas pequenas grandes empreitadas em que investir seu exíguo tempo.