Comédia romântica escondida na Netflix não insulta sua inteligência e vai te deixar com um sorriso no rosto Divulgação / Sony Pictures

Comédia romântica escondida na Netflix não insulta sua inteligência e vai te deixar com um sorriso no rosto

Dirigido e escrito por Mateo Gil, que também foi roteirista de “Vanilla Sky”, “As Leis da Termodinâmica” é um fakementary, um documentário falso, que se propõe a investigar as razões pelas quais o relacionamento de Manel e Elena deu dado errado. Manel é um físico neurótico que desenvolve estudos aprofundados sobre as leis da termodinâmica. Obcecado com a teoria científica, ele passa a aplicá-la em seu próprio relacionamento para tentar explicá-lo. Elena é uma modelo e atriz em ascensão. Focada em seu trabalho, ela é sempre cercada de homens bonitos e de pessoas para mimá-la.

O filme utiliza diversas teorias científicas, como a lei da gravidade, das orbitas planetárias e da relatividade de Einstein para metaforizar pessoas, relacionamentos e a forma como Manel enxerga o mundo. Seu romance com Elena é sempre comparado a da termodinâmica, objeto de seus estudos. Primeiro, ele compara o amor à força nuclear forte, porque segundo Manel, “ela mantém as partículas inseparáveis”. Ao contrário da força eletromagnética, ela não enfraquece se separada. Pelo contrário, a atração, como um elástico fica ainda mais forte. Caso o elástico se rompa, provoca danos como de uma bomba atômica.

O diretor Mateo Gil usa falas de cientistas reais para explicar as teorias de seu protagonista e desenhar os traços de seu relacionamento com Elena. Manel e ela são comparados a partículas em um vasto sistema que precisa de equilíbrio. Mas o contato entre eles faz com que um corpo transmita calor para o outro. Essa seria uma metáfora para explicar como se apaixonam. A segunda lei, segundo Manel, é uma das mais estranhas da natureza. Ela diz que todo sistema evolui até certo ponto e depois se destrói. Se chama entropia. Uma energia que, quando destruída, não pode mais ser recuperada.

Acreditando que toda a humanidade e tudo que existe no universo vive sob a regência das leis da ciência, Manel crê que o amor está restrito ao que diz as leis da termodinâmica. Quando acredita que ele e Elena já alcançaram o máximo de felicidade juntos, começa, não conscientemente, a sabotar o próprio relacionamento com crises de ciúmes, pressão e com comportamentos explosivos. Manel se torna involuntariamente abusivo, aparecendo nos trabalhos de Elena, mandando mensagens questionando onde ela está e imaginando que todos os homens ao redor dela a desejam.

Ao colocar a relação que tem com ela dentro dessa caixa restrita, que são as leis que estuda, Manel não apenas prevê o fim do romance, como induz isso a acontecer. Na terceira lei, a entropia chega ao seu valor mínimo, fazendo com que as partículas do sistema cheguem à falta de calor absoluto. E, assim, o amor termina. Durante todo momento em que se dedica a contar e explicar de maneira científica como seu relacionamento deu errado ao espectador, Manel está certo de que a ciência seguiu seu destino irrefreável. No entanto, quando escuta de Elena o que realmente houve, reflete sobre o fato de que o amor não pode ser tão restrito.

É genial a forma como Mateo Gil compara as relações humanas às teorias mais importantes da ciência, mantendo o espectador sempre curioso e interessado no que vem a seguir. No entanto, quer realmente nos fazer refletir sobre seu exato oposto: nem tudo na vida pode ser planejado, medido, calculado. As emoções são espontâneas e não há como prever ou explicar o amor. Gil nos faz refletir sobre a importância de não supervalorizar a inteligência em comparação à beleza física. Afinal, Elena não é vazia porque é bela. É ela quem ensina a Manel a lição mais importante de sua vida, de que é preciso mais naturalidade e espontaneidade no amor. É necessário soltar os freios e deixar as coisas acontecerem. É preciso não se preocupar tanto com a ordem e organização, mas é importante ser feliz e simplesmente aproveitar o momento.

O filme nos deixa a lição de que o medo é que realmente destrói as coisas, como o amor. Manel tinha tanto medo de perder Elena, que a perdeu. Nessa deliciosa sátira de documentário sobre como os relacionamentos falham, fazemos um autoexame. Estamos complicando a vida ou a simplificando? A felicidade, muitas vezes, pode estar bem perto, mas o medo de perdê-la é justamente o que a afasta de nós.


Filme: As Leis da Termodinâmica
Direção: Mateo Gil
Ano: 2018
Gênero: Comédia
Nota: 9/10