6 filmes na Netflix que vão te deixar mais inteligente, mas também vão te abalar como um soco na cara Benjamin Loeb / Netflix

6 filmes na Netflix que vão te deixar mais inteligente, mas também vão te abalar como um soco na cara

Valendo-se de expedientes despretensiosos, lúdicos até, o filósofo ateniense Sócrates disse as grandes verdades que continuam a abalar o espírito do homem passados 2.400 anos de seu desaparecimento. A propósito desses axiomas irrefutáveis, com os quais todo indivíduo deve tomar contato o mais breve possível, o pensamento socrático apontava a natureza paradoxal que os envolvia, visto que o homem é feito de verdade, bem como de carne e alma, malgrado não poder nunca a alcançar, considerando-se a fragilidade de sua composição, plena de enganos, reducionismos, preconceitos, o que o leva a métodos defeituosos e, por conseguinte, resultados imprecisos. A busca pela virtude, em contraposição à onipresença do vício na existência do homem, deve ser uma empreitada incansável, e só dessa maneira, quiçá, tenhamos alguma chance de escapar do cárcere da ignorância e da ignomínia, irmãs siamesas que assombram a humanidade desde o princípio dos tempos, nos fazem sofrer e, destarte, nos empurram para um ciclo interminável — ainda que involuntário — de perversão e horror. É dessa maldade banalizada de que deveria fugir Tomasz, o personagem central de “Rede de Ódio” (2020), do polonês Jan Komasa, ainda que não perceba; caminho semelhante é o traçado por Martha Weiss, protagonista de “Pieces of a Woman” (2020), dirigido pelo espanhol Kornél Mundruczó, filme que honra a concepção de Sócrates quanto a desenvolver no público a necessidade (e o gosto) por perguntar, perguntar, perguntar. “Rede de Ódio”, “Pieces of a Woman” e outros quatro títulos — lançados entre 2021 e 2016, os seis na Netflix —, matam dois coelhos com uma única cajadada socrática: estimulam em nós a tergiversação no que diz respeito a bater o martelo sobre o querem dizer essas histórias e nos lançam na cara nosso desconhecimento acerca do homem, ou seja, de nós mesmos.