“Minx”, série da HBO Max, desafia o romantismo dos movimentos sociais e diz a eles que não conseguirão falar com ninguém, até que sua mensagem seja para todo mundo. E imagino que, na prática, isso deva ser uma verdade bem frustrante para os militantes de plantão, que assim como a feminista Joyce (Ophelia Lovibond), teve de renunciar a muita coisa para conseguir publicar sua tão sonhada revista sobre a libertação feminina de seu papel de acessório do marido, isenta de vontades particulares, sonhos pessoais e projetos de vida.
A história se passa nos anos 1970, na Califórnia. Joyce é uma ex-aluna de Vassar, que sonha em lançar sua revista “O Despertar do Matriarcado”, recheada de seus próprios artigos e ensaios densos e complexos com teorias feministas. Seu objetivo é revolucionar a sociedade. Por outro lado, o único empresário que se interessa por seu projeto é Doug (Jake Johnson), um figurão da pornografia, que vê na ideia de Joyce a chance de publicar a primeira revista erótica para mulheres e revolucionar… a indústria.
Com muita relutância, Joyce aceita se unir a Doug para reestruturar sua revista, que agora recebe o nome “Minx”. No caminho para a elaboração da primeira edição, Joyce se vê desafiada a renunciar vários de seus ideais para se adequar ao mercado. Entre eles, preencher, entre um e outro texto de sua autoria, páginas com pênis escancarados. Enquanto quer pregar às donas de casa dos Estados Unidos da América sobre libertação sexual feminina, ela própria se vê diante dessa dificuldade, já que ela própria é uma mulher recatada e pudica. Agora, seu trabalho é selecionar, entre filas e filas de modelos, as melhores genitálias masculinas para ilustrar suas páginas. Enquanto isso, ela também descobre que sair com homens sem compromisso por noites de prazer também pode ser divertido.
E nessa série criada por Ellen Rapoport, de personagens ambivalentes, que enfrentam as dificuldades e desafios de se criar algo completamente novo, não ortodoxo e progressista em uma sociedade completamente conservadora, vemos o pior e o melhor de cada um. E, para não ser hipócrita, a mais difícil de lidar é Joyce, uma mulher branca, heterossexual e de classe média, muitas vezes carregada de preconceitos e que não consegue ver além de sua bolha, que às vezes é rompida por seus ajudantes, Richie (Oscar Montoya), o fotógrafo gay latino, e a atriz pornô, Bambi (Jessica Lowe).
Enquanto traça paralelos entre Joyce e Doug, que parecem ter vindo de outro planeta, a série nos dá lições de vida por meio da subversão do sistema e mostra que mocinhos às vezes não são tão bonzinhos assim e negociam com mafiosos para que seus sonhos sejam realizados. “Minx” quer, acima de boas risadas dos espectadores, dizer: a mensagem é mais importante que a forma como a mensagem é passada.
Entre textões de redes sociais, artigos científicos acadêmicos e livros de autoras conceituadas sobre feminismo, estamos conseguindo falar com todas as mulheres? As donas de casa, as jovens de periferia, a patricinha do bairro nobre da cidade que vai no Coachella? Enquanto os movimentos progressistas, não apenas o feminismo, não entender, não haverá uma real transformação social. A linguagem tem que ser acessível.