7 novos clássicos de Hollywood na Netflix que você talvez não tenha visto

7 novos clássicos de Hollywood na Netflix que você talvez não tenha visto

A vida em sociedade, como qualquer outra coisa, apresenta vantagens e inconveniências. Ao ter de levar a vida na companhia de seus iguais, o homem se vira forçado a observar determinados códigos de como proceder em situações as mais diversas, grande parte deles apenas tácitos, sem registro formal em lugar nenhum — todavia respeitados, dada a importância do que apregoam. O respeito à propriedade privada, por exemplo, foi se firmando nas legislações das democracias mais importantes do mundo de maneira apriorística, isto é, sem necessidade de lei que a regulasse; à medida que o tempo passava, as cidades aumentavam exponencialmente e, por conseguinte, os vizinhos deixavam de se conhecer uns aos outros, tornou-se essencial delimitar a partir de que limite a posse de um terreno passava de um indivíduo para outro. Por sua vez, o convívio de muitas pessoas, sempre muito desiguais entre si, gera uma pletora de diferenças que distanciam ainda mais um homem do seu próximo. Habitando o mundo das falsas ideias, somos verdadeiramente coagidos a participar de um jogo cujo vencedor seria aquele que obtivesse o melhor diploma, conquistasse o emprego mais qualificado, ostentasse o carro mais moderno, morasse na casa mais suntuosa. Começamos a vida nus mas, um minuto depois, também começamos uma disputa por posse: antes de mais ninguém, de nossas próprias mães, ainda atordoadas com as reviravoltas emocionais — e a tortura física do parto —, sôfregas por alguns minutos de sono, mas persuadidas pelo semblante pedinchão e esfomeado do bebê a lhe dar o peito. Essa nossa primeiríssima aquisição de algo que, inconscientemente, entendemos ser nosso por direito, o soft power na sua acepção mais crua, inspira na natureza humana a infinidade das tantas outras buscas, das mais primevas às de fato memoráveis e, quiçá, históricas, uma vez que o homem, a espécie mais desgraçada da criação, só faz desejar e desejar, e ao passo que deseja, se empenha por ter, e conforme tem, impõe aos não se investiram do mesmo arrojo — ou, simplesmente, não foram agraciados com a mesma ventura — seus desígnios e sua arbitrariedade. Dominar a Terra não foi o bastante e a humanidade – que no decorrer de sua trajetória, mais tropeçara que propriamente dera um passo seguido de outro —, se arvorara a dar saltos na lua, como mostra “O Primeiro Homem” (2018), de Damien Chazelle. O diretor David Mackenzie se vale de argumento semelhante, a necessidade de autoafirmação, a fim de contar em “Legítimo Rei” (2018), a história de Roberto I, o soberano escocês Robert The Bruce (1274-1329), destituído no século 14 a mando de Eduardo III, rei da Inglaterra, e tornado um pária em sua própria terra. “O Primeiro Homem”, “Legítimo Rei” e outros cinco títulos — em cartaz nos últimos sete anos e agora os sete disponíveis na Netflix —, expõem o gênero humano no que ele tem de mais nobre e de mais torpe, seja na lua ou no Reino Unido. Ainda que nos esforcemos, falta um tanto para que possamos dizer que o mundo, efetivamente, é um lugar melhor.

Imagens: Divulgação / Reprodução Netflix