Expandir a consciência é tarefa árdua e inglória, até porque pode-se entender por “consciência” muitos conceitos: consciência moral, consciência política, consciência de classe, consciência afetiva. Freud explica — nós também! A Bula elaborou uma lista pra lá de plural. Tem de Hitchcock revistado, caso de “Rebecca — A Mulher Inesquecível”, desta vez sob o olhar de Ben Wheatley, a “O Egípcio”, dirigido por Michael Curtiz e com Victor Mature no papel principal. Agora é só deixar a consciência conduzi-lo por onde achar mais prazeroso, amigo leitor, querida leitora. Sem culpa!

Consciência de classe. Consciência política. Consciência humanística. São muitas as definições para consciência. Todas essas perpassam este drama de Aaron Sorkin. No longínquo ano da graça de 1968, uma manifestação pacífica contra a Guerra do Vietnã degringolava em pancadaria. A polícia reprime o protesto com violência desproporcional. No ano seguinte, o FBI indicia sete militantes políticos por conspiração. O julgamento leva mais de cinco meses, entre ameaças a testemunhas, ofensas ao juiz e espancamento de réus nas dependências do próprio tribunal. As vidas dessas pessoas nunca mais retomam o ponto de origem, mas… será que era mesmo boa a vida que elas levavam antes? Deveriam ter voltado atrás em suas posições? Ou todo o caos valeu a pena? Vale a pena ter a vida revirada por causa da tal consciência? Essas são algumas das perguntas que “Os 7 de Chicago” nos suscita, tão sutilmente quanto um martelo nas mãos de um ferreiro.

Neste road movie pelas oníricas paisagens francesas, a protagonista Anne Lockwell, vivida por Diane Lane, se desloca de Cannes, onde o marido Michael, de Alec Baldwin, produtor de cinema apresenta um filme, para a capital, Paris. Anne vai sem o marido, mas este, preocupado com ela, destina para a tarefa de acompanhá-la o sedutor bon vivant Jacques Clement, personagem de Arnaud Viard, seu grande amigo. Viard vai estendendo a viagem o quanto pode, o que deixa Anne meio ressabiada no começo. Ao longo da jornada, contudo, ela acaba aproveitando bastante o passeio.

O diretor dinamarquês Lars von Trier é muito fiel ao clássico texto do dramaturgo grego Eurípedes. Em sua adaptação, o Von Trier de muito antes do fenômeno Dogma 95 conta a mesma história tantas vezes repetida, mas que, como todo clássico, nunca se encerra. Medeia, incorporada por Kristen Olesen com toda a carga dramática que o papel demanda, faz o que todo mundo sabe. Sem um pingo de remorso. O brilhantismo do filme reside em observar com lupa as reações de Olesen, ora teatrais, ora milimetricamente calculadas, uma mistura muito bem dosada da tragédia grega com a frieza escandinava, o que confere à “Medeia” de Von Trier a natureza de fera ferida que é a essência da personagem.

Na Berlim do pós-Segunda Guerra, Bruno Ganz dá vida ao anjo Damiel, que perambula pela cidade bisbilhotando a vil existência dos simples mortais com seu colega Cassiel, de Otto Sander. Tudo vai bem, até que entra em cena a trapezista Marion, interpretada por Solveig Dommartin. Como ninguém, nem mesmo os anjos, podem ter tudo, Damiel terá de optar entre viver essa grande paixão ou continuar em sua missão celestial. Destaque para a participação do inesquecível Peter Falk, o eterno detetive Columbo, fazendo uma ponta como si mesmo ao aconselhar o anjo antes que ele tente se jogar sem rede rumo ao mais humanos dos sentimentos.

Até onde um homem pode ir movido por sua ambição e se deixando seduzir por seus pecados mais inconfessáveis e suas fraquezas mais abjetas? É isso o que Michael Curtiz tenta responder — e responde mesmo — neste clássico de 1954, com Victor Mature no papel de Sinuhé, o médico do faraó dividido entre o amor por uma mulher rica e pérfida, Bekhetanon, vivida por Gene Tierney, e a escrava Meit, de Jean Simmons. Indicado ao Oscar de Melhor Fotografia.

As cinco histórias que compõem o delicioso trabalho de cinco diretores geniais. Escritos pelo mestre americano do conto O. Henry, os enredos tratam de miséria numa cidade grande e, nos mais diversos sentidos, gélida; amizades que não resistem ao inexorável passar do tempo e o que ele faz da vida de cada um; bandidos espertalhões vencidos por um diabrete aparentemente inofensivo; doença, restabelecimento da saúde e morte; e o verdadeiro amor, capaz de superar tudo, até um Natal sem presentes caros.

Ainda na Hollywood dos anos 1950, Theodore Honey, perito em aviação interpretado pelo sempre irretocável James Stewart, descobre que a aeronave em que está voando pode entrar em pane a qualquer momento. O caráter excêntrico de Honey provoca situações vexatórias para a tripulação e para ele mesmo, ainda que ele não perceba. Este cientista maluco e doce como seu próprio nome sugere vai encontrar alento na companhia de Monica Tisdale, de Marlene Dietrich, que personifica a estrela de cinema igualmente solitária e infeliz, mas muito sensível ao drama de seu improvável amigo.

“O Anjo Embriagado” já seria digno de nota simplesmente por sacramentar a longeva parceria entre Kurosawa e seu ator-talismã Toshiro Mifune, o membro da Yakuza que descobre ter uma doença e vai ser tratado por um médico alcoólatra. Essas duas figuras gauche cada uma a seu modo serão obrigadas a conviver uma com a outra e, como não poderia deixar de acontecer, vão se deparar com situações conflitantes que desaguam numa amizade sólida. Nenhum dos dois parece disposto a abdicar da vida que leva, e também por isso o destino lhes prepara algumas surpresas.

O príncipe Hamlet está decidido a vingar o assassinato do pai, substituído por seu tio Cláudio, o novo rei. O jovem príncipe, protagonizado por Lawrence Olivier, um dos melhores atores de todos os tempos, vai descobrir que nem tudo é o que parece nesse reino podre. O atormentado Hamlet, ao descobrir quem foi o autor do crime, não desiste de querer desforrar a memória do pai, ao mesmo tempo em que se depara com questões do seu próprio âmago que lhe eram completamente desconhecidas.
Bônus

Nesta versão do icônico filme de Alfred Hitchcock, Ben Wheatley traz à cena uma história igualmente emocionante. Lily James é uma mulher recém-casada que ascende socialmente mediante o matrimônio, mas é subjugada pela lembrança que o marido ainda tem da falecida esposa, a Rebecca do título. A nova senhora Maxim de Winter faz de tudo para ajudar o marido a se livrar dessa obsessão, mas conforme esse malfadado casamento se vai constituindo, a ex-dama de companhia já não tem mais tanta certeza sobre se quer mesmo permanecer andando sobre gelo fino até que a morte os separe.