Alguns escritores eram assumidamente apaixonados pelas cidades onde moravam e tiraram delas a inspiração para escrever grandes obras, descrevendo detalhadamente seus cenários. Em “Noites Brancas” (1848), Doistoiévski disse: “Há algo inexplicavelmente comovente na natureza de São Petersburgo quando, com a aproximação da primavera, ela mostra de repente todo o seu vigor…”. Já Ernest Hemingway escreveu um livro inteiro para homenagear sua cidade preferida: “Paris é Uma Festa”, publicado em 1964. O legado desses autores continua inspirando turistas, que viajam todos os anos para conhecer as terras que serviram de lar para seus escritores favoritos. A Revista Bula realizou uma pesquisa e reuniu em uma lista as 15 melhores cidades para os amantes da literatura. Além dos lugares citados em obras clássicas, a seleção também priorizou cidades que abrigam importantes livrarias, bibliotecas e festivais literários.
Para os que adoram caminhar por bibliotecas antigas e charmosas, Buenos Aires pode ser um verdadeiro paraíso. A cidade possui um dos maiores números de livrarias por habitantes no mundo: segundo um relatório de 2016, são 690 no total. E há algumas que são verdadeiras joias, como a El Ateneo Grand Splendid, biblioteca que funciona em um antigo cinema e foi eleita e segunda mais bonita do mundo pelo jornal “The Guardian”.
Apesar de ser uma cidade supermoderna e tecnológica, Tóquio não abandonou a tradição dos livros impressos. O distrito de Jimbocho, conhecido como “A cidade dos livros de Tokyo”, é totalmente dedicado à literatura e abriga mais de 170 livrarias, das quais aproximadamente 50 são especializadas em livros raros. Como os espaços são reduzidos, as lojas expõem os livros do chão ao teto, em prateleiras e mesas de sua.
A biblioteca do Trinity College, em Dublin, abriga uma das obras mais raras da Idade Média, o Livro de Kells, um manuscrito de 680 páginas feito por monges celtas por volta de 806 d.C. Todos os anos, quase um milhão de cientistas e curiosos visitam Dublin para conhecer o livro. A cidade também possui um museu dedicado à vida e obra do escritor irlandês James Joyce, autor do clássico “Ulisses”, publicado em 1922.
A cidade litorânea de São Francisco já foi palco para muitas obras de ficção clássicas e hoje impressiona pela quantidade de livrarias que abriga. A mais famosa delas é a City Lights Bookstore, inaugurada em 1953. Conhecida por ser a pioneira nos livros de bolso, a livraria é considerada uma referência em edições de autores da contracultura. No colorido bairro Mission District também é possível encontrar muitas livrarias alternativas.
Nenhuma outra cidade atraiu tantos escritores em busca de um lar como Paris. Em seus bares e salões de festas, circularam grandes nomes da literatura, como Ernest Hemingway, Simone de Beauvoir, Scott Fitzgerald e Marcel Proust. Esses autores deixaram um legado e, hoje, Paris possui mais de 900 livrarias, que abastecem as novas gerações de leitores. Uma das mais reconhecidas é a Shakespeare and Co., que abriga escritores em início de carreira.
Essa bucólica vila, que possui pouco mais de dois mil habitantes, pode passar despercebida pelos turistas. Mas, nas últimas semanas de maio, Hay-on-Wye se transforma no paraíso dos amantes da literatura. Todos os anos, a cidade realiza o Hay Festival, evento que reúne mais de 150 mil visitantes, entre escritores de renome, críticos, artistas, músicos e leitores em geral. A pequena vila possui mais de 30 livrarias, que também participam do festival, organizando exposições e palestras.
A história de Nova Orleans se entrelaça com a da literatura. Por diversas vezes, a cidade foi o cenário preferido de autores como William Faulkner, Truman Capote e Mark Twain. Todos os anos, Nova Orleans realiza um famoso festival literário dedicado à Tennessee Williams, autor que viveu e trabalhou na cidade e ganhou o Prêmio Pulitzer em 1959. A casa onde morou William Faulkner é hoje uma livraria que ainda preserva parte da mobília original do escritor.
Londres, capital da Inglaterra, foi lar e inspiração para alguns dos maiores nomes da literatura, como Charles Dickens, William Shakespeare, Oscar Wilde e Jane Austen. A British Library, biblioteca nacional do Reino Unido, abriga obras originais de Darwin e alguns manuscritos históricos de até dois mil anos a.C. Numa caminhada pela cidade, é possível conhecer muitas livrarias e sebos, além de pubs e museus dedicados aos escritores que viveram em Londres.
Na cidade de Portland está localizada a maior livraria do mundo: a Powell’s City of Books. Fundada em 1971, a Powell’s cresceu e hoje ocupa um quarteirão inteiro do bairro Burnside. São mais de 120 seções, onde novos e usados ficam lado a lado nas prateleiras. Na livraria, é possível encontrar algumas raridades, como um conto de Charles Bukowski ilustrado por Robert Crumb e publicado pela editora Black Sparrow Press na década de 1980.
Washington abriga a maior biblioteca do mundo: a Biblioteca do Congresso, que possui mais de 155 milhões de volumes, incluindo livros, mapas, manuscritos, fotografias, filmes e gravações em áudio. O acervo da biblioteca contém obras em mais de 470 idiomas. O local é aberto ao público e os turistas também podem visitá-lo. Pelas ruas de Washington, também é possível encontrar centenas de livrarias e sebos badalados, com bares e cafeterias anexas.
A capital da Escócia foi reconhecida, em 2004, como a primeira Cidade da Literatura pela Unesco. Edimburgo sedia anualmente a maior feira de livros do mundo, o Festival Internacional do Livro de Edimburgo. A cidade também oferece tours inspirados em escritores famosos, que passam por lugares como o Picardy Place, onde nasceu Conan Doyle; e o Elephant House, o café onde J.K. Rowling escreveu o primeiro livro da saga Harry Potter.
Berlim pode não ser uma capital tão reconhecida pela literatura, como França e Londres, mas a cidade já abrigou grandes autores, como Franz Kafka, Christopher Isherwood e Vladimir Nabokov. Hoje, Berlim possui centenas de livrarias, inclusive a maior e mais completa da Alemanha, a Dussmann. Um dos lugares mais visitados pelos turistas é a praça Bebelplatz, local onde os nazistas queimaram milhares de livros em 1933.
A Islândia é um país famoso pelas belezas naturais, mas sua capital é conhecida como um centro de cultura e arte. Reiquiavique é considerada uma Cidade da Literatura pela Unesco e foi a primeira não nativa em inglês a receber esse título. A capital conta com uma famosa herança literária medieval. O Saga Museum é dedicado às obras islandesas escritas entre os séculos 12 e 14, que contam as histórias dos lendários reis e guerreiros noruegueses.
Entre seus becos e ladeiras, Lisboa esconde ótimas livrarias e alfarrabistas (sebos), como o Letra Livre e o Fábula Urbis. A cidade foi inspiração para escritores e poetas, como José Saramago, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa e Luís de Camões. Entre os pontos turísticos literários mais interessantes de Lisboa, estão a Casa Fernando Pessoa, que hoje é um centro cultural; o Parque dos Poetas e o Café A Brasileira, que era um ponto de encontro dos intelectuais do século 20.
Conhecida como capital cultural da Rússia, São Petersburgo aparece com frequência nas obras de grandes autores, como Fiódor Dostoiéviski, Lev Tostói e Vladimir Maiakovski. Hoje, as casas de muitos escritores foram transformadas em museus e estão abertas à visitação para o público. E, além de livrarias e sebos, a cidade abriga a Biblioteca Nacional da Rússia, uma das maiores do mundo, com um acervo de mais de 30 milhões de volumes.