Comédia física e piadas tolas são a base do besteirol e isso não vai mudar, a despeito da chiadeira dos críticos. Feita essa ponderação, “Os Bad Boas” usa de todas as armas que pode para garantir que o espectador jamais se canse e permaneça firme até o encerramento, 95 minutos depois. O diretor Gonzalo Fernandez Carmona reproduz a fórmula do humor escrachado, de blagues que só podem sustentar-se mediante situações nonsense e muita comédia física, sobrando pouca margem para a sutileza ou respiros dramáticos. O título em português alude, claro, aos longas da franquia “Bad Boys” (1995-2024) — ainda que haja uma explicação bastante particular para o trocadilho —, e a narrativa redunda na adaptação de cenas já vistas em “Um Tira da Pesada” (1984-2024), o que acaba num todo irregular, pasteurizado, insípido. Como nas sequências que precedem o filme, os roteiristas Kenneth Asporaat, Michel Bonset e Murth Mossel sublinham o contraste dos temperamentos da dupla de protagonistas, fonte para improvisos que um deles aproveita bem.
Jack e Ramon são dois oficiais de investigação especial (buitengewoon opsporingsambtenaar em holandês, daí o nome) ainda não muito acostumados à rotina pacata de Roterdã, cidade portuária no sul da Holanda. Na introdução, Ramon sonha que enfrenta sozinho assaltantes de banco, munido da lábia e de golpes certeiros, mas seu grande desafio é convencer uma velhinha a recolher os dejetos de seu cachorro ou garantir que adolescentes rebeldes frequentem as aulas. Jack parece conseguir missões mais estimulantes, porém não deixa de manifestar seu desapontamento com a carreira que abraçou, e essa é o argumento que o diretor espreme até a última gota. Os momentos em que os protagonistas interagem, em piadas que fogem ao tema central, são os mais divertidos, especialmente pela habilidade de Jandino Asporaat quanto a incluir cacos em que elogia o perfume do colega, vivido por um travado Werner Kolf. Sem muito tato, Carmona vai virando a história em direção a um conflito de fato denso e mais original. Pena que o abandone justo na hora em que poderia fazer a diferença.
Kevin, o meio-irmão caçula de Ramon, é um tira corrupto que acaba sendo morto depois de um desentendimento com a gangue para a qual trabalhava, e leva algum tempo até que o personagem de Asporaat admita o óbvio, alertado por Jack. O que resta do enredo divide-se entre a investigação do assassinato e a perseguição aos bandidos que liquidaram Kevin, de Yannick Jozefzoon, trama que não resiste ao destaque excessivo aos tipos caricatos que compõem a divisão de Ramon e Jack, incluindo Bruno, interpretado por Ferdi Stofmeel, que sempre dá um jeito de ficar sem roupa para exibir seus dotes anatômicos, e Shakir, de Ergun Simsek, um turco que pensa resolver todos os problemas com uma sopa reforçada. “Os Bad Boas” pode ser um passatempo até razoável para quem já aprecia o gênero e o trabalho de Eddie Murphy, Martin Lawrence e Will Smith em “Um Tira da Pesada” e “Bad Boys” — desde que não espere a mesma qualidade.
★★★★★★★★★★