HBO Max: se você amou Nosferatu, é hora de rever esse cult horror esquecido Divulgação / Columbia Pictures

HBO Max: se você amou Nosferatu, é hora de rever esse cult horror esquecido

É incrível como o tempo altera nossa percepção. “30 Dias de Noite”, terror vampiresco de David Slade lançado em 2007 parece completamente renovado quase 20 anos depois de sua estreia nos cinemas. Embora tenha recebido críticas mistas à época, hoje é considerado um cult horror, conquistando o coração dos fãs de terror clássico. Lá em 2007, o crítico aclamado — hoje já falecido — Roger Ebert, havia elogiado a estética e credibilidade das atuações. Devíamos tê-lo ouvido, porque reassisti ao filme depois de tanto tempo e reconsiderei minhas opiniões sobre ele.

Quando vi pela primeira vez, confesso, não tive paciência para o que para mim parecia um terror de baixa qualidade com um elenco duvidoso e maquiagens cafonas. Hoje vejo que ele envelheceu como vinho. Seu sabor aprimorou. Isso mesmo. Se tem algo que considero extremamente bregas são aqueles efeitos exagerados e superfaturados de CGI. Nada mais parece real. Os filmes parecem joguinhos bobos de videogame e a imaginação já não viaja mais com a história. Não é o caso de “30 Dias de Noite”, que investiu em uma renomada equipe de maquiagem e na criação tanto estética quanto intelectual dos vampiros. É isso mesmo, além de contratarem os Weta Workshop para criarem as feições, dentes e aparências dos vampiros, contrataram até mesmo um linguista para formular uma forma única de comunicação dos vampiros, inserindo cliques, sons guturais e expressões antigas.

A história se passa no Alasca e, embora o filme aconteça ao longo de 30 dias, a noite por lá é, na verdade, mais longa. Praticamente o dobro. Enfim, Slade preferiu seguir o próprio cronograma até para não precisar prolongar tanto o sofrimento dos protagonistas Eben (Josh Hartnett), Stella (Melissa George), Jake Oleson (Mark Rendall), Beau Brower (Mark Boone Jr), dentre outros sobreviventes. Eles vivem nesse lugar isolado, com uma população pequena, mas extremamente resistente. Afinal, como diria a estrela do filme, Hartnett, como o xerife da cidade, “se nós vivemos aqui, é porque ninguém mais consegue”.  A localidade de Barrow, no Alasca, é o cenário perfeito para a carnificina que se segue. 

Com 30 dias de escuridão por vir, a cidade se torna o lugar ideal para um grupo de vampiros sedentos por sangue fresco e que obviamente não podem ver a luz do sol. As ruas cobertas de neve trazem o contraste perfeito com o vermelho da matança que está prestes a banhar os corredores curtos da cidade, quando o ataque começa. Imagens aéreas quando ainda não havia drones para captá-las facilmente, tornam a tarefa de Slade e de seu diretor de fotografia, Jo Willems, um verdadeiro feito.

Ben Foster, como um desconhecido misterioso que conduz os vampiros para a cidade em troca da vida eterna, aparece pouco. Se teve 10 minutos de cena foi muito. Mesmo assim, consegue dominar as câmeras com seu talento único para interpretar um maluco de olhar alucinado e dentes esverdeados que anuncia para Eben o apocalipse iminente de Barrow. A cidadezinha minúscula se torna a paisagem claustrofóbica perfeita para um ataque de pânico do espectador, contribuindo para o sentimento de urgência e de medo.

“30 Dias de Medo” merece ser revisitado sem muita seriedade e sem o desejo de se encontrar uma obra-prima. Mas com a intenção de ver um esforço real por transformar o medo em palpável e realizar fantasias macabras. Os dentes dos vampiros ao estilo Nosferatu de Bela Lugosi dá muito mais a sensação de se experimentar uma obra vintage que algo que custou 100 milhões de dólares e lotou as salas de cinema. 

Filme: 30 Dias de Noite
Diretor: David Slade
Ano: 2007
Gênero: Fantasia/horror/Violência
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.