7 livros com 5 frases boas e 200 páginas inúteis (ou mais)

7 livros com 5 frases boas e 200 páginas inúteis (ou mais)

As redes sociais, os vídeos curtos, os textos objetivos e os resumos breves dominam a paisagem cultural contemporânea — e esse é um caminho sem volta. Nessa conjuntura, livros extensos podem parecer anacrônicos, intimidadores ou mesmo desnecessários. Entretanto, é justamente nessa densidade que reside um de seus maiores méritos. Narrativas longas continuam sendo não apenas relevantes, mas muitas vezes insubstituíveis. Ao considerar a utilidade dessas publicações, é importante definir o que se entende por “utilidade”. Num sentido amplo, algo é útil quando proporciona valor, seja por meio do conhecimento, da reflexão, da forjadura do caráter. Ao permitirem mergulhos mais profundos nos assuntos que esgrimem, livros extensos costumam ser mais úteis e perenes do que seus homólogos mais sucintos.

Ficamos de tal maneira acostumados ao falso conforto das orações assindéticas que muitas vezes acabamos por enfrentar dificuldades em manter o foco e a constância no momento em que deparamo-nos com construções semânticas menos óbvias. Certo, nem todo mundo pode dedicar uma hora diária a um único volume. Esses obstáculos não são, no entanto, capazes de invalidar a necessidade das leituras de fôlego. Neste insano século 21, desacelerar é um ato de resistência. Com a ajuda de audiolivros e dos leitores de livros digitais, mergulhar em obras mais extensas deixou de ser uma quimera. Hoje é possível devorar um livro de mil páginas em capítulos diários, sincronizando a leitura com outras atividades do dia a dia. Além disso, há formatos que dividem grandes livros em volumes menores, tornando a experiência menos intimidadora. A tecnologia, longe de ser um carrasco, pode ser uma grande aliada quanto a democratizar o acesso a essas obras.

Livros extensos oferecem o convívio prolongado com uma ideia, mas é preciso reconhecer que a qualidade de um livro não está necessariamente ligada ao seu tamanho. É o que se observa, em maior ou menor grau, nas sete publicações que elencamos, títulos que ultrapassam as duas centenas de páginas sem ir muito além do clichê, malgrado o autor tenha o condão, de aqui e ali, burilar seu pensamento em sentenças lapidares, caso do mui controverso e nada unânime “O Apanhador no Campo de Centeio” (1951), de J.D. Salinger (1919-2010). O que leva-nos a concluir que 1) homens e mulheres de gênio não são imunes a deslizes; e 2) livros, mesmo quando enfadonhos, sempre guardam lições.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.