12 livros para quem tem crise existencial às 3 da manhã

12 livros para quem tem crise existencial às 3 da manhã

A vida tem ritmo. O mundo é uma imensa pista de dança, onde milhares de sensações novas florescem todos os dias, todas em algum grau feitas da urgência de colocar-se o que não serve mais para fora, seguindo a cadência da música. O homem despende muito tempo esmerando-se por escapar à banalidade, uma batalha perdida que insistimos em travar com os fantasmas menos óbvios que habitam nossas profundezas mais inacessíveis. Pensamos, uns mais, outros menos, mas todos, sem exceção, sobre se é possível voltarmos ao que fomos, se podemos ter outra vez os desejos que eram nossa própria essência. Perdemos horas de sono, que costumam se derramar para o expediente de trabalho, elucubrando, tecendo digressões as mais insanas acerca de como teria sido nossa jornada se houvéssemos tomado essa ou aquela decisão a respeito de tal ou qual assunto, e enquanto isso o baile avança e o salão enche.

Para os que creem, Deus dá ao homem o dom da existência e cabe ao homem viver sua própria vida, Deus não irá vivê-la por ele, não irá sofrer por ele; ainda que se compadeça de seu tormento e sempre o ajude de alguma maneira, não descerá de Seu Reino a fim de livrá-lo de todo perigo, não obstante esteja sempre a orientá-lo e a zelar por seu bem. Não faria sentido esperar isso de Deus. É como se nossos pais dessem-nos um presente de grande valor e o mantivessem na redoma de um vidro muito grosso e muito resistente, que só eles pudessem remover, para ser apenas admirado, e de que só nos seria concedido desfrutar de tempos em tempos. A imagem da tela em branco também é muito mais que uma simples metáfora, e a figura que surge desse quadro, nem sempre harmônica — e mesmo disfórmica, e até monstruosa —, escandaliza olhares mais sensíveis. Avulta um dos dilemas fundamentais da natureza humana: adequar sua visão de mundo ao que o restante da humanidade pensa ou sustentar a versão mais legítima de si mesmo e apresentar-se aos outros como se é em verdade, arcando com as consequências de cada escolha, tanto num caso como no seu oposto? 

Que atire a primeira pedra quem nunca se viu aflito por crises de consciência, vindas à tona depois de anos de contas a ajustar com o passado ou ao termo de um dia pleno de confrontos com as incertezas do existir. Fantasmas das mais diversas categorias assombram-nos no meio da noite, exigindo solução definitiva para nossos tormentos sempiternos, o que acaba por virar mais uma pedra no nosso caminho. Na batalha contra seus demônios, cada qual recorre a um remédio para vencer o enfaro, o desespero, a melancolia, a loucura, e nenhum gosto acre é repulsivo o bastante se oferecer ao menos uma promessa de felicidade. Livros nunca são de mais, e a lista que elaboramos o prova: muitas vezes, ocultas por dentro daquelas páginas, espera-nos a luz de que precisávamos para cessar nosso breu. Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski (1821-1881) talvez seja o escritor que melhor entendeu a respeito das dúvidas da existência, que, no seu caso, redundaram em momentos grandiosos da literatura universal. Tudo em Dostoiévski é uma beatífica junção de erudição e simplicidade, sabedoria e lucidez, o que se pode corroborar com “O Sonho de um Homem Ridículo” (1877). Philip Roth (1933-2018), por seu turno, não fica atrás quanto a esgaravatar as chagas e os sofismas do espírito, e em “O Teatro de Sabbath” (1995) faz de um titereiro caído em desgraça num mundo sem lugar para a beleza seu alter ego. Os títulos vêm elencados por ordem alfabética, e em todos eles vibra nossa frágil humanidade.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.