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Fernando Meirelles enxergou na Joana de “Perto do Coração Selvagem” o queixo de Dadinho, autometamorfoseado em Zé Pequeno, e a partir dessa feitiçaria digna de Clarice Lispector, o público depara-se com os segredos por ainda serem revelados de “Cidade de Deus”, romance de Paulo Lins que vira um filme sobre o país que agrupa-nos todos, Clarices, Paulos, Fernandos, numa miséria para muito além do lado oeste da capital fluminense.

Uma produção sul-coreana de Park Hoon-jung, “Noite no Paraíso” é uma viagem ao inferno, na realidade. O título parece um tanto quanto irônico, quando a vida dos dois personagens centrais está no alvo de assassinos perigosíssimos da máfia. Tae-gu e Jae Yeon são duas pessoas com vidas devastadas e que não tem nada a perder. Quando o perigo se aproxima deles, a tranquila e pacífica Ilha de Jeju se transforma em um cenário sangrento de caos.

Marc Fouchard enumera alguns desses episódios constrangedoramente melancólicos e faz de “O Rei das Sombras” uma boa crônica sobre o atrito a que estamos todos sujeitos no convívio com pais e irmãos, até que deixa inescapavelmente claro que as figuras que protagonizam sua história não são bem o exemplo mais recomendado para se tratar de complicações familiares, por mais delicadas que sejam.

Uma metáfora de como o tempo voa, “Já Era Hora” é um filme italiano de Alessandro Aronadio que acompanha a vida de Dante, um homem preocupado em não perder tempo e sempre preocupado com seu trabalho. Casado com Alice, que faz uma festa de aniversário surpresa para ele no qual ele chega horas atrasado, Dante não sabe valorizar o tempo perto das pessoas que o amam. Quando ele acorda no dia seguinte, percebe que passou um ano e não se lembra do que aconteceu.

O belga Steffen Geypens usa todos os recursos típicos do suspense — e inúmeros outros — a fim de despertar o interesse do espectador e mantê-lo convenientemente aceso até o desfecho de “O Som do Caos”, hora e meia depois, mas entende muito bem que, como a receita para aborrecer é dizer tudo, deve muito mais sugerir que dar por sacramentadas algumas possíveis verdades insofismáveis desse seu trabalho, tanto no que concerne à forma como ao diz respeito a seu potente conteúdo.