Crônicas

Enterrando histórias na vala comum da indiferença

Enterrando histórias na vala comum da indiferença

Havia uma frieza generalizada naqueles dias, uma espécie de pandemia de indiferença que levava muitos corações velhos a definharem dentro dos peitos, até interromperem as suas inatas missões de pulsar e pulsar e pulsar. As mortes provocavam, não apenas, empáfia e mau humor nos mandatários máximos da nação, como, também, tribulação dobrada para os órgãos governamentais competentes.

Mãe, não se esqueça de mim, pois eu nunca vou lhe esquecer

Mãe, não se esqueça de mim, pois eu nunca vou lhe esquecer

É o segundo domingo de maio. A maior parte das famílias reúne-se nesse dia, põe comida na mesa e comemora o Dia das Mães. Rosas nas mãos. Faca entre os dentes. Fazer o quê? Tem dessas coisas. Família, você sabe, é um mal necessário, e elas são todas iguais. Eu gostaria de aproveitar o ensejo pra lhe fazer algumas recomendações que julgo importantíssimas pra sua saúde e pra minha paz de espírito, se é que eu ainda possua algum.

O mito de Ulisses e a vida que a quarentena nos rouba

O mito de Ulisses e a vida que a quarentena nos rouba

O confinamento nos tirou esse prazer e, consequentemente, o prazer maior do retorno. Sempre em casa, não há a noção de ausência, tampouco da necessidade do retorno ao ponto de partida. Como disse Heráclito de Éfeso, “É a doença que torna a saúde agradável e boa.” Se subtraímos a ideia de pertencimento à vida de atribulações da rua, desaparece a referência que transforma em bálsamo a quietude do lar.

Quando sua mãe é sua amiga você se sente forte para enfrentar todo o peso do mundo

Quando sua mãe é sua amiga você se sente forte para enfrentar todo o peso do mundo

Bronca, cara brava, sermão, castigo. Vez ou outra uns tapas daqueles que mais estalam que machucam, mas que cumpriam a função de desencorajar travessuras nos tempos em que palmada fazia parte do script até de famílias politicamente corretas. O rosto de minha mãe nunca escondeu a rigidez com que ela regia a casa. Jamais houve dúvidas sobre quem ditava as regras e, durante anos de imaturidade e percepção distorcida sobre as relações, eu via a autoridade dela como afronta à minha individualidade.

As mães nunca morrem. É por isso que sempre falamos nelas…

As mães nunca morrem. É por isso que sempre falamos nelas…

Carlos Drummond de Andrade disse que “mãe, na sua graça, é eternidade”. Sim, mãe é a palavra mais bela. Mãe é caminho; colo que consola. Mãe é mão que segura; beijo que ameniza febre. Porque “mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada”. Mãe vela as noites mal dormidas para espantar a dor e a angústia do seu menino. Mãe chora junto.