Bula conteúdo

Eu sei como alimentar o silêncio com os meus olhos

Eu sei como alimentar o silêncio com os meus olhos

Mas já me agraciaram com o diploma de estranha. Eu como com os olhos. Eu lambo com a testa. Faço a nau conforme o rio, gostosinho e sem frescura. Quem me navega já sabe que eu mais rio do que choro. Ainda assim, sou boa companhia para a solidão porque sei como alimentar o silêncio com os meus olhos. Já pari menino. Já dei de mamar. As minhas tetas despencaram. Não me falem em silicone. Tenho os pés pequenos e tantos caminhos a percorrer que até eu duvido. Se eu quisesse morrer eu já tinha morrido.

Era 29 de dezembro de 2001. O país segurou o ar. Ela tinha 39. Depois, o luto virou coro e o Brasil seguiu cantando Cássia Eller

Era 29 de dezembro de 2001. O país segurou o ar. Ela tinha 39. Depois, o luto virou coro e o Brasil seguiu cantando Cássia Eller

Entre sal, concreto e vento seco, a história de Cássia Eller se revela pelo corpo em cena e pelo silêncio do bastidor. O palco respira: a voz grave, sem enfeite, convoca plateias, erra e recomeça, aprende a medida do risco. Do circuito de bares ao “Acústico MTV”, do Rock in Rio à sala de estar, o timbre encontra canções-abrigo e parceiros de lapidação. Após a partida, fica a curva que ela abriu: consolo que provoca, coragem sem pose, presença que segue escutando em casas, ruas e fones atentos. Por perto.

Liliana Colanzi e o brilho que habita a escuridão

Liliana Colanzi e o brilho que habita a escuridão

Um retrato literário da América Latina surge das sombras, revelando histórias de dor, memória e resistência. Com uma escrita densa e sensível, a autora transporta o leitor para cenários onde o brilho e a escuridão coexistem — metáforas da ignorância, da esperança e das feridas sociais. Entre tragédias humanas e lampejos de poesia, suas narrativas expõem a vulnerabilidade diante do progresso e da ambição. Um mergulho profundo na alma sul-americana, onde o fascínio pela luz revela, paradoxalmente, as marcas que ela tenta esconder.

Morreu aos 24. Mas ensinou um país escravizado a ouvir a própria dor

Morreu aos 24. Mas ensinou um país escravizado a ouvir a própria dor

Uma vida breve acende um horizonte inteiro: quando a língua pública encontra sua hora, a juventude vira trabalho coletivo e um país ainda erguido sobre trabalho escravizado passa a ouvir a própria consciência em voz alta. Entre Bahia, Recife e São Paulo, oratória e poesia se confundem em convocação. O corpo cobra pedágio da língua, mas não a interrompe. A morte chega cedo, e mesmo assim a repercussão perdura em escolas, praças, jornais e cenas de hoje, onde versos antigos seguem escavando espaço para o ar que faltava.

 Mulheres que a História da Arte apagou Foto / Arquivo Nacional

 Mulheres que a História da Arte apagou

Durante séculos, a História da Arte apagou criadoras. O cânone consolidou-se masculino, ignorando pintoras, teóricas e performers. Sofonisba Anguissola, Artemisia Gentileschi, Berthe Morisot, Mary Cassatt, Hilma af Klint, Lee Krasner, Joan Mitchell, Helen Frankenthaler, Sonia Delaunay e Anni Albers comprovam outra genealogia possível. No Brasil, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Lygia Clark mudaram rumos, do modernismo à experimentação sensorial. Recuperar essas vozes reorganiza relações de poder, reabre arquivos e amplia referências para novas gerações de artistas, críticos e públicos.