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O dia em que a música brasileira ficou órfã: há 36 anos o Brasil chorava a partida do maluco beleza Foto / Dan Dickason

O dia em que a música brasileira ficou órfã: há 36 anos o Brasil chorava a partida do maluco beleza

Há 36 anos, o Brasil perdeu seu maluco beleza e a música brasileira ficou órfã. A morte foi notícia, mas o que permaneceu foi a obra: canções que atravessam décadas, de vitrolas e rádios de pilha até playlists digitais. Do garoto de Salvador ao artista inquieto dos palcos, Raul transformou falha em verdade, contradição em poesia, rebeldia em legado. Hoje, sua voz ainda interrompe conversas em bares, festivais e rodas de amigos, lembrando que alguns refrões nunca envelhecem.

Ele lavava carros na madrugada. Até que um jornalista o reconheceu — e, aos 65, mudou a música brasileira

Ele lavava carros na madrugada. Até que um jornalista o reconheceu — e, aos 65, mudou a música brasileira

Pedreiro, lavador de carros, fundador da Mangueira: a biografia de Cartola atravessa pobreza, doença, esquecimento e renascimento. Nascido no Catete e feito homem no morro, transformou trabalho bruto em delicadeza de linguagem e ética de atenção. Redescoberto numa madrugada chuvosa por um cronista do Rio, reabriu caminho no Zicartola, onde cidade e morro aprenderam a conversar. Tardio na indústria, cedo no talento, partiu em 1980, já reconhecido, embora sem vaidade. duradoura.

A escritora brasileira que ficou órfã aos 7 anos, publicou 46 livros, escandalizou o país e morreu no esquecimento

A escritora brasileira que ficou órfã aos 7 anos, publicou 46 livros, escandalizou o país e morreu no esquecimento

Menina de Vinhedo, 1936, Adelaide aprendeu cedo a dividir cama, silêncio e caderno reaproveitado. Órfã aos sete, cresceu entre disciplina de orfanato, trabalho miúdo e leitura emprestada. No início dos anos 1960, instalou-se na capital, atravessou pensões, filas, empregos apertados, e encontrou voz no ruído das ruas. Escreveu para quem lê no intervalo, com urgência e clareza que não pedem cerimônia. Adotou duas crianças. A vida lhe cobrou pressa e exatidão. Em 1992, o câncer interrompeu o fôlego; ficou a figura inquieta que transformava experiência em aviso e coragem cotidiana.

Petra Costa e as imagens do Brasil atual

Petra Costa e as imagens do Brasil atual

Há uma boa novidade no cinema brasileiro recente. A cineasta Petra Costa vem construindo uma obra notável e de rara força interpretativa. Seu olhar é profundamente pessoal e, ao mesmo tempo, voltado para as urgências objetivas do presente. As imagens iluminam zonas obscuras do que ainda se pode chamar de vida nacional, num gesto que lembra a frase de Goethe tão cara a Theodor Adorno: “Destinado a ver o iluminado, não a luz”. O iluminado, no caso, são os objetos políticos do país.

Ela passou quase 30 anos esquecida em um manicômio; morreu como indigente e foi reconhecida apenas depois da morte

Ela passou quase 30 anos esquecida em um manicômio; morreu como indigente e foi reconhecida apenas depois da morte

Stella do Patrocínio nasceu no Rio de Janeiro, em 1941, e atravessou a vida entre pavilhões. Jovem, foi abordada em Botafogo e encaminhada do pronto-socorro ao Centro Psiquiátrico Pedro II; em 1966, transferiram-na para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, onde o tempo virou prontuário. Mulher negra e pobre, viveu décadas sob custódia, mas nunca silenciou: falava como quem respira. Nos anos 1980, fitas registraram essa fala. Em 1992, após amputação e infecção, morreu e foi enterrada como indigente. Hoje, sua história permanece no acervo do Museu Bispo do Rosário.