Contos sobre mulheres vulneráveis de Jarid Arraes perdem-se em meio a lacração, militância exagerada e regionalismo afetado

Contos sobre mulheres vulneráveis de Jarid Arraes perdem-se em meio a lacração, militância exagerada e regionalismo afetado

“Redemoinho em Dia Quente”, a coletânea de narrativas curtas de Jarid Arraes, faz ecoar a voz da mulher sertaneja, clareia vidas marginalizadas e realça formas de resistência num misto de linguagem popular e identitária — e os problemas não se originam exatamente aí. Os contos de Arraes carecem de acabamento, apuro estético, coesão, estilo, verdadeira praga que acomete trabalhos da novíssima safra de escritores brasileiros, em especial “Jantar Secreto” (2016), de Raphael Montes; “Tudo É Rio” (2014), de Carla Madeira; e “A Cabeça do Santo” (2014), de Socorro Acioli. Sinal dos tempos? Toda literatura produzida será assim doravante?

O que dá medo não é o abandono, é a véspera

O que dá medo não é o abandono, é a véspera

Carla Madeira não escreve para consolar. Sua literatura não oferece redenção fácil nem explicações didáticas. “Véspera” começa com uma cena brutal — uma mãe abandona o filho na calçada —, mas o que importa não é o gesto, e sim o silêncio que o antecede. É nesse intervalo, incômodo e irreparável, que o romance mergulha. Com escrita contida, dolorosamente precisa, a autora explora as rachaduras familiares, as heranças invisíveis e os afetos malformados. Um livro necessário, não por responder, mas por iluminar o que geralmente fingimos não ver.

5 livros que só fazem sentido depois de duas garrafas de vinho e uma crise existencial

5 livros que só fazem sentido depois de duas garrafas de vinho e uma crise existencial

Nem toda leitura é para os dias de sol e juízo. Há livros que não se entregam ao leitor intacto, que exigem certa desordem, um desencaixe suave entre o que se pensa e o que se sente. São obras que não se abrem com pressa, nem com lucidez absoluta. Precisam de vinho, de um coração desarrumado, de uma noite sem rumo. E mesmo assim, não dizem nada claramente. São enigmas afetivos. Permanecem em silêncio até que o leitor vacile, escorregue, amoleça. E só então revelam sua fúria serena.

A obra-prima que fez milhões chorarem em silêncio está de volta à Netflix Divulgação / Universal Pictures

A obra-prima que fez milhões chorarem em silêncio está de volta à Netflix

Poucas histórias ousaram levar o espectador a um território tão inquietante quanto aquele explorado em “Uma Mente Brilhante”. Longe de ser uma simples adaptação biográfica, o filme dirigido por Ron Howard propõe um desafio: penetrar no universo de um homem cuja genialidade matemática convive, em silêncio, com uma percepção fragmentada da realidade. No relato sobre John Nash, a história se constrói como um jogo de espelhos, no qual a mente do protagonista reflete as verdades que apenas ele enxerga, e que, paradoxalmente, capturam também o olhar do público.

Um dos maiores filmes de todos os tempos chegou à Netflix — e quase ninguém percebeu Divulgação / Sunset Boulevard

Um dos maiores filmes de todos os tempos chegou à Netflix — e quase ninguém percebeu

Poucos filmes desafiaram tanto o tempo quanto “E.T. – O Extraterrestre”, uma narrativa que permanece viva não apenas pela memória afetiva que desperta, mas pela sensibilidade com que capta um anseio universal: o desejo de pertencimento. Steven Spielberg, que já havia consolidado seu nome com sucessos como “Tubarão”, “Contatos Imediatos do Terceiro Grau” e “Os Caçadores da Arca Perdida”, criou aqui algo que transcende o gênero da ficção científica.