Cuidado com o vazio de uma vida ocupada demais

Cuidado com o vazio de uma vida ocupada demais

Estou dispensada do mundo. Por essa razão, preciso fazer algo muito importante: absolutamente nada. Almejo ser inútil nesse dia. Escorregar do sofá pra cama, da cama pro sofá. Não quero malhar os glúteos. Quero enchê-los de gordura trans e Coca-Cola. Quero ficar sozinha, despenteada, andando maltrapilha pela casa, vestida com o pijama rasgado que minha tia me deu no natal de 1990.

A última entrevista de Cecília Meireles

A última entrevista de Cecília Meireles

“Tenho um vício terrível” — me confessa Cecília Meireles, com ar de quem acumulou setenta pecados capitais. “Meu vício é gostar de gente. Você acha que isso tem cura? Tenho tal amor pela criatura humana, em profundidade, que deve ser doença.” “Em pequena (eu era uma menina secreta, quieta, olhando muito as coisas, sonhando) tive tremenda emoção quando descobri as cores em estado de pureza, sentada num tapete persa. Caminhava por dentro das cores e inventava o meu mundo. Depois, ao olhar o chão, a madeira, analisava os veios e via florestas e lendas. Do mesmo jeito que via cores e florestas, depois olhei gente.”

Cantar mulher na rua não vai te fazer comer ninguém

Cantar mulher na rua não vai te fazer comer ninguém

É sempre a mesma coisa. A mulher está andando pela rua, a pensar sabe-se lá em quê, quando de repente ouve aquela chupada de saliva — como se alguém estivesse sugando com um canudo as últimas gotas de uma lata de refrigerante — seguida da célebre frase “Gostosa! Ô, lá em casa!”. Criativos que são, alguns ainda arriscam outras chamadas igualmente agradáveis, como “Delícia!”, “Potranca” ou “Que rabo gostoso”. É… A baixaria atingiu níveis nunca antes vistos.

Que saudade do colo da minha mãe

Que saudade do colo da minha mãe

Quando ela disse que queria sumir, que queria se matar, eu fiquei muito preocupado. A cena era de fazer dó. Contorcia-se no chão em total descontrole, curvada, encolhida, parecia uma cadela friorenta, um farrapo humano com as mãos na cabeça, em posição fetal. Só que ela era uma mulher de trinta e poucos anos a implorar, nas entrelinhas e de forma miserável, o retorno imediato para a pasmaceira do claustro uterino materno. Achei aquele espetáculo deplorável além da conta, então, fiz de tudo para tentar acalmá-la. Era casada, tinha três filhos e trabalhava na empresa que cuidava da limpeza e manutenção da clínica. Foi a primeira vez que nos falamos pra valer. E nossa conversa doeu.

Os filhos são do mundo, mas nunca deixarão de ser o mundo das mães

Os filhos são do mundo, mas nunca deixarão de ser o mundo das mães

Mãe vive chorando. E como chora. Chora desde a descoberta de que ama a sua cria mais que a si mesma. Ama com uma intensidade e honestidade que jamais pensara amar alguém, assim, um dia. Ama antes de conhecer o seu filhote e ama ainda mais quando o tem em seus braços. Segura no colo um pedacinho dela, a criatura mais linda que seus olhos já viram. Tão dependente do seu amor e de seus cuidados… Indefeso, frágil, miúdo. E o mais incrível: seu.