É possível passar por uma vida inteira e morrer sem enxergar de verdade
Aprendi a ver de verdade enquanto olhava para um relógio, esperando consulta médica que ficava cada vez mais distante. Até aquele dia, só olhava, sem nada ver direito. Flagrei o momento exato em que o ponteiro começou a dançar frenético de um lado para outro. Ele ia e voltava entre o décimo sexto e o décimo sétimo segundo de um minuto, aprisionado naquela impertinência de quem não se sabe medíocre. Comecei a caçambar os joelhos entre uma perna e outra da cadeira, com agonia pelo relógio e pela demora.