Poderoso e quase perfeito, obra-prima na Netflix faz o espectador entrar na alma dos personagens Julien Panié / Synapse Distribution

Poderoso e quase perfeito, obra-prima na Netflix faz o espectador entrar na alma dos personagens

Uma cena sintetiza o terror na França ocupada: policiais franceses, e não alemães, prendem um suspeito de ser judeu. Mas ele não é. Apenas trocou de identidade com seu ex-patrão joalheiro judeu para roubar-lhe os depósitos bancários. A troca de identidades foi um crime pontual em consequência de um acordo de guerra. O dono da joalheria, para escapar, transfere seus bens para o empregado, que deverá devolver tudo depois do conflito. O desdobramento é previsível.

Um banquete chamado Expedição Abissal

Um banquete chamado Expedição Abissal

Uma colher de Guimarães Rosa, uma pitada de Jorge Amado, alguns gramas de Carmo Bernardes, uma xícara de Gabriel García Márquez, mexa à vontade, solte a imaginação, deixe ao ponto, com muita poesia e inventividade. Assim nasceu, com preciosos e precisos toques autorais, “Expedição Abissal”, do jornalista Hélverton Baiano. Misturar os autores citados, salvo armado de extrema habilidade com as palavras, poderia resultar num Frankenstein literário. Obviamente, não foi o caso.

Profundamente filosófico e selvagem, filme na Netflix vai te levar para dentro e te perturbar por semanas Divulgação / Paramount Pictures

Profundamente filosófico e selvagem, filme na Netflix vai te levar para dentro e te perturbar por semanas

Nabil Elderkin registra as incorreções de corpos e mentes em irrefreável mutação, de almas que sofrem por tudo e por nada ao se deparar com sua natureza finita, num filme perturbador. “A Gangue” não deixa de ser uma canção sobre o ser e o nada da condição humana, particularmente numa fase em que partimos feito leões há muito enjaulados para cima da vida, sem saber muito bem em que medida a efervescência de nossos pleitos terá de submeter-se à necessidade da renúncia, mais e mais presente conforme os anos se sucedem.

Um dos mais belos filmes da história recente do cinema chegou à Netflix e você não assistiu Sabrina Lantos / Serendipity Point Films

Um dos mais belos filmes da história recente do cinema chegou à Netflix e você não assistiu

Dois irmãos (um é adotado), unidos e separados pela Segunda Guerra, participam da tragédia coletiva trilhando os caminhos da memória. O menino judeu da Polônia e gênio do violino, vai morar com a família do garoto londrino para estudar música. O estranhamento inicial cede à amizade e cada um toma seu rumo na separação de 35 anos.

Filosófico e perturbador, um dos melhores filmes de 2023 acaba de estrear na Netflix e vai te deixar sem chão

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A vida, bem mais valioso, patrimônio inalienável cujas infinitas possibilidades, de adaptação, de transformação, de beleza nunca se vai poder estimar com precisão irretocável, tende a seguir o padrão de uma qualquer parafernália eletrônica de que se desfruta até pifar, joga-se fora e troca-se por outra, melhor, com muito mais funções. O artificialismo da vida — ou do que passa a se entender como vida — é o núcleo do estimulantemente perturbador “Jung_E”, de Yeon Sang-ho.