Autor: Giancarlo Galdino

Na guerra que estamos condenados a encampar contra nossa própria natureza, ansiando por que se nos revele um mecanismo qualquer capaz de permitir que continuemos nossa jornada sem esmorecer frente à potência bestial da abjeção e da loucura, destaca-se um rival tão íntimo quanto desconhecido, que ataca-nos sem dó na hora menos oportuna. É dele que trata Martin Scorsese em “Ilha do Medo”, um filme sobre repulsa e delírio, imolação e castigo para males que nem o tempo consegue arrefecer.

“O Óleo de Lorenzo”, muito mais que um drama sobre percalços especialmente doídos da relação entre uma mãe, um pai e o filho que os une, é a história de amor que conhece, sim, limites, mas entende-os como uma circunstância oportuna em sua pungência para que o amor contorne as pedras e os espinhos da estrada e desponte ainda mais vigoroso, como se fosse mesmo a seiva que não cessa de nutrir a terra ainda que na estiagem mais brutal.

Em “71 — Esquecido em Belfast”, o francês Yann Demange trata os conflitos étnico-religiosos entre britânicos e norte-irlandeses como um câncer que demanda terapia intensiva, ainda que nunca se possa saber com certeza se todo o esforço há de funcionar. As hostilidades da Irlanda do Norte para com o Reino Unido já contam cinco décadas, mas, claro, remontam a um tempo quase perdido na lembrança.

A guerra contra o terror tem levado diretores de Hollywood a um dilema estimulante, para o cinema e para o público. Em “O Reino”, Peter Berg trabalha exatamente nessa frequência, tentativa desesperadamente convencer a plateia de que a guerra é democrática e a liberdade, um valor muito relativo, mas do qual ninguém deve abrir mão jamais.

Tomando esse fragmento da História americana por base, o australiano John Hillcoat fez de “Os Infratores” um enredo invulgar. Assim como em “A Proposta” (2006), também de sua lavra, no longa de 2012, Hillcoat se vale da sociedade com o músico Nick Cave, autor dos dois roteiros, e Guy Pearce, que rouba a cena nos dois filmes. Em “Os Infratores”, o diretor faz de seu malvado favorito um mocinho meio afetado, mas o único macho o bastante para frear um espiral de delinquências.