Em “Durante a Tormenta”, Oriol Paulo doma a aridez dos mandamentos produzidos por Albert Einstein (1879-1955) ao cabo de observações de apuro rigoroso e elabora uma ficção científica como raras já feitas pelo cinema, mas a viagem no tempo é, com efeito, apenas figura de linguagem.
Ter na pele a cor errada poderia ser a diferença entre viver e pagar com a morte pelos crimes que não ficavam bem para brancos, premissa de que Frank Darabont extrai todo o sumo de funesta poesia em “À Espera de um Milagre”, a história de um equívoco que acha o meio ideal para prosperar, deixando um rastro de tristeza indignada e muda na vida de dois homens de mundos diversos obrigados a conviver na pior das circunstâncias, olhando-se bem fundo e se reconhecendo um no outro.
Gary Winick apresenta “Cartas para Julieta”, uma profissão de fé na mais humana das emoções, dispondo de uma cadeia de imagens em que serafins; figuras pictóricas de quadros renascentistas, talvez de Caravaggio (1571-1610); personagens do cinema mudo e adoráveis peixinhos coloridos seguem a recomendação de Cole Porter e se entregam a tudo quanto importa na vida.
A atemporalidade das tragédias de família é decerto o que mantém o interesse do público ao longo dos anos, e em “Minha Solidão Tem Asas” Mario Casas replica uma fórmula de sucesso a fim de ir fundo na agonia de um garoto sem rumo, arrastando consigo outras duas almas à deriva, vítimas de suas próprias decisões equivocadas.
A novíssima ordem que se instalou após o 11 de Setembro, caótica, enigmática, sangrenta, passou a ser objeto de seus filmes, e de alguma maneira se faz presente em “Horizonte Profundo: Desastre no Golfo”, sátira involuntária, porém mordaz, acerca da ganância sem limite a avançar sobre protocolos básicos de segurança, matando pessoas e causando estragos ambientais que exigem anos para serem mitigados, com a constante tentativa dos responsáveis de dificultar investigações.
