Autor: Eberth Vêncio

Quando a violência é um ato de loucura, só nos resta sentar e chorar

Quando a violência é um ato de loucura, só nos resta sentar e chorar

Sonhei que um jardim ardia em chamas. Havia naquele escopo onírico, o qual se revelara, na verdade, um tenebroso pesadelo, um homem aturdido de meia-idade, cuja mente apodrecera, gangrenara com o vigor das horas, sufocado pelo emaranhado das heras, um verdadeiro poço de ira que regava, combalido pela anorexia de afeição, um canteiro novinho-em-flores com gasolina de alta octanagem.

Vou ficar pelado em praça pública e me tornar um dos maiores  fenômenos literários de todos os tempos da última semana

Vou ficar pelado em praça pública e me tornar um dos maiores fenômenos literários de todos os tempos da última semana

Precisarei desovar a minha produção literária, antes que os gatos a enterrem. Causarei, pelado, a despeito do uivante conservadorismo da direita raivosa e da praga de mosquitos da dengue que infesta a metrópole, uma bela, criativa, calorenta e, assim espero, exitosa tarde de autógrafos. Levem dinheiro. Não vendo fiado. Não aceito cartões de crédito. Acreditem, tudo é o que parece ser. Não faço escambo, muito menos, troca-troca.

Prometo não ejacular no seu pescoço

Prometo não ejacular no seu pescoço

Senti a presença de um jato morno a bater ritmado contra a minha nuca, um sensação ímpar, como se um par de gaivotas me cuspisse pelas cloacas rajadas de merda. Levei a mão no pescoço e senti a inconfundível textura da gosma, uma espécie de catarro repleto de espermatozoides anônimos nadando desenfreados, a esmo, acrescido do tradicional aroma de água sanitária. Não entendo como ainda tem gente que bebe isso.

Pequenos atos de amor são fundamentais para tornar o mundo  um lugar melhor para se viver

Pequenos atos de amor são fundamentais para tornar o mundo um lugar melhor para se viver

Qualquer coisa serve. Qualquer coisa de mais simples já serve. Qualquer pequeno ato impagável, de alguém por outro alguém, como pagar um almoço para quem tem fome, já servirá. Qualquer mínima atitude que releve a tradicional má fama do ser humano terá valia. Recaídas de ternura; como eu, por exemplo, aqui e agora. Apagar um foco de incêndio. Acender o brilho no olhar de um ser desencantado.

Quando eu surtar, por favor, me avise

Quando eu surtar, por favor, me avise

O calor de agosto derrete os vestígios de humanidade que agonizam na minha mente. Parece um contrassenso, pois, apesar do aumento da temperatura média no planeta, resta frieza nos meus olhos. Quisera ser abduzido, mas, não acredito em extraterrestres. Quisera sair do próprio corpo, mas, não acredito em alma. Acreditem, hoje estou que não me aguento. Devo esboçar aquela aparência aterradora de quem está prestes a petrificar, porém, conforme eu já disse, não consigo evaporar, evadir-me da carne para enxergar o imbecil que sofre preso ao volante do carro.