10 escritores que tiveram mortes mais bizarras que suas próprias obras

10 escritores que tiveram mortes mais bizarras que suas próprias obras

A literatura sempre foi um reflexo da complexidade da vida humana, explorando temas como tragédia, ironia e o destino inevitável. Muitos escritores passaram suas carreiras criando histórias cheias de reviravoltas, mortes dramáticas e finais inesperados. No entanto, algumas vezes, a realidade consegue ser ainda mais surreal do que a ficção. Para alguns autores, o desfecho de suas próprias vidas acabou sendo tão estranho, absurdo ou trágico que poderia ter saído diretamente de um de seus próprios livros.

Seja por acidentes bizarros, coincidências improváveis ou descuidos fatais, essas mortes deixaram o mundo perplexo e reforçaram a ideia de que o destino pode ser tão imprevisível quanto uma narrativa bem construída. Alguns, como Mark Twain, previram com exatidão o próprio fim, enquanto outros, como Molière, tiveram uma morte irônica ao encenar sua última peça. Há também aqueles que partiram de formas inusitadas, como Tennessee Williams, que engasgou com uma tampa de colírio, ou Sherwood Anderson, que morreu por engolir um palito de dente.

Nesta lista, reunimos dez escritores cujas mortes foram tão bizarras quanto algumas das histórias que criaram. Suas vidas chegaram ao fim de maneira tão inesperada que, se fossem transformadas em ficção, poderiam ser consideradas exageradas. No entanto, cada um desses casos é real, provando que, às vezes, a vida pode ser ainda mais absurda e imprevisível do que qualquer livro.


Edgar Allan Poe — Morreu delirando com roupas que não eram dele

Em outubro de 1849, Edgar Allan Poe, autor de “O Corvo”, foi encontrado vagando desorientado pelas ruas de Baltimore, vestido com roupas que não eram suas e incapaz de explicar o que havia acontecido. Levado ao hospital, ele passou seus últimos dias em estado de delírio, murmurando palavras incompreensíveis e chamando por um tal “Reynolds”, cuja identidade nunca foi descoberta. Sua morte permanece um mistério, com teorias variando entre alcoolismo, envenenamento, sífilis e até assassinato político. Curiosamente, Poe foi encontrado no dia da eleição, levando alguns a acreditarem que ele foi vítima do golpe “cooping”, onde pessoas eram sequestradas, embriagadas à força e obrigadas a votar repetidamente em diferentes zonas eleitorais. Incapaz de contar o que realmente aconteceu, Poe morreu poucos dias depois. O mestre do terror e do macabro teve um fim tão enigmático quanto suas próprias histórias, como “A Queda da Casa de Usher”.


Tennessee Williams — Engasgado com uma tampa de colírio

Tennessee Williams, autor de “Um Bonde Chamado Desejo”, teve um fim trágico e inesperado. Em 1983, ele foi encontrado morto no Hotel Elysee, em Nova York. A causa de sua morte foi tão banal quanto absurda: ele engasgou com a tampa de um frasco de colírio. Williams tinha o hábito de segurar a tampa na boca enquanto aplicava as gotas nos olhos e, por um acidente infeliz, acabou engolindo e sufocando. O excesso de álcool e barbitúricos em seu organismo pode ter prejudicado seus reflexos, impedindo-o de tossir e expelir a tampa a tempo. Para um autor que retratava o declínio e a decadência em suas peças, sua morte foi um reflexo cruel de sua própria trajetória. Seu fim poderia ter sido parte de uma tragédia que ele mesmo teria escrito, e continua sendo um dos mais inesperados da literatura.


Franz Kafka — Morreu de fome porque não conseguia comer

Franz Kafka, autor de “A Metamorfose”, passou a vida explorando temas de angústia e impotência diante de forças invisíveis e opressivas, e sua própria morte foi uma cruel metáfora de suas histórias. Em 1924, ele foi diagnosticado com tuberculose na garganta, o que tornou extremamente doloroso engolir qualquer alimento ou líquido. Como resultado, Kafka simplesmente não conseguia se alimentar e morreu de inanição, consciente de sua deterioração. Durante seus últimos dias, ele chegou a pedir morfina para acelerar sua morte e aliviar seu sofrimento, mas não foi atendido. Sua obra só foi publicada porque seu amigo Max Brod desobedeceu sua ordem de queimar todos os seus manuscritos. O destino irônico fez com que sua morte fosse tão absurda quanto as situações descritas em seus livros. Se “A Metamorfose” fala de um homem aprisionado em um corpo incapaz de viver normalmente, a morte de Kafka foi um cruel reflexo dessa mesma ideia.


Sherwood Anderson — Morreu ao engolir um palito de dente

Sherwood Anderson, autor de “Winesburg, Ohio”, morreu de maneira tão improvável que poderia ter sido um conto de sua própria autoria. Durante um cruzeiro para a América do Sul, o escritor começou a sentir fortes dores abdominais e foi levado a um hospital. Depois de exames, os médicos descobriram que ele havia engolido acidentalmente um palito de dente, que perfurou seu intestino e causou uma infecção generalizada. O que começou como um simples jantar acabou se transformando em uma morte dolorosa e absurda. Anderson sobreviveu a doenças, guerras e uma vida de excessos, mas foi derrotado por um simples palito de dente. Sua morte foi um lembrete cruel de como a vida pode ser imprevisível. Ele, que escreveu sobre as pequenas tragédias e ironias do dia a dia, acabou sendo vítima de uma delas.


Molière — Morreu no palco interpretando um hipocondríaco

Molière, autor de “O Doente Imaginário”, passou a vida escrevendo e encenando comédias, mas seu fim foi digno de uma tragicomédia. Em 1673, durante a apresentação de sua peça “O Doente Imaginário”, onde ele interpretava um homem hipocondríaco, começou a sentir fortes dores no peito. Mesmo com dificuldades, ele insistiu em continuar a atuação. Durante uma das cenas, teve uma convulsão no palco, mas o público achou que fazia parte da peça e continuou rindo. Apenas depois perceberam que algo estava errado. Molière foi levado para casa, onde morreu horas depois. Como na peça que encenava, ele interpretava um homem que acreditava estar doente, mas ninguém levava seu sofrimento a sério — até ser tarde demais. Sua última atuação foi, ironicamente, o próprio ato final de sua vida.


Mark Twain — Previu sua própria morte com um cometa

Mark Twain, autor de “As Aventuras de Tom Sawyer”, sempre teve um humor ácido e um talento especial para ironias. Ele nasceu em 1835, no mesmo ano em que o Cometa Halley passou pela Terra. Fascinado pelo fenômeno, ele fez uma previsão improvável: disse que sua vida estava ligada ao cometa e que morreria na próxima passagem dele. E ele acertou! Twain faleceu em 1910, um dia após a reaproximação do Halley, como se sua vida estivesse realmente sincronizada com o evento celestial. Ele costumava brincar que a vida era cheia de ironias, mas ninguém esperava que ele próprio fosse protagonista de uma delas.


Isadora Duncan — Estrangulada pelo próprio cachecol

Isadora Duncan, autora de “Minha Vida”, foi uma revolucionária na dança e na escrita, mas sua morte foi trágica e irônica. Em 1927, ela entrou em um conversível esportivo em Nice, França, sem perceber que seu cachecol longo estava pendurado para fora do carro. Quando o motorista acelerou, o tecido ficou preso na roda traseira, puxando Duncan violentamente para fora do veículo e quebrando seu pescoço na hora. Amigos e testemunhas assistiram horrorizados ao acidente, que parecia uma cena saída de um filme surrealista. Para alguém que passou a vida desafiando convenções e buscando liberdade no movimento, seu fim foi uma trágica ironia. Sua morte se tornou um dos acidentes mais inusitados já registrados, lembrando a todos que, às vezes, o destino pode ser tão cruel quanto uma coreografia mal planejada.


Albert Camus — Morreu em um acidente de carro após recusar o trem

Albert Camus, autor de “O Estrangeiro”, acreditava que não havia nada mais absurdo do que morrer em um acidente de carro, e foi exatamente assim que encontrou seu fim. Em 1960, ele estava pronto para viajar de trem para Paris, mas aceitou de última hora uma carona de seu editor, Michel Gallimard. No meio do caminho, o carro perdeu o controle e bateu violentamente em uma árvore, matando Camus na hora. No seu bolso, encontraram sua passagem de trem não utilizada, tornando a tragédia ainda mais cruel. O escritor do absurdo teve uma morte que parecia uma piada cósmica — um homem que refletia sobre a falta de sentido da existência sendo vítima de um capricho aleatório do destino. Sua morte ecoou os temas de suas obras, onde os personagens frequentemente se deparam com situações absurdas e inevitáveis.


L. Ron Hubbard — Criador da Cientologia morreu em sigilo absoluto

L. Ron Hubbard, autor de “Dianética”, começou como um escritor de ficção científica antes de fundar a Cientologia, um dos movimentos mais controversos do século XX. Nos últimos anos de sua vida, ele viveu em completo isolamento, cercado por seguidores leais que controlavam todas as informações sobre seu estado de saúde. Em 1986, ele morreu oficialmente de um derrame, mas a igreja manteve sua morte em segredo por dias antes de anunciá-la publicamente. Há teorias de que ele pode ter sido vítima de negligência médica ou até mesmo de conspirações internas dentro da Cientologia. Seus seguidores alegaram que ele não “morreu”, mas sim “deixou seu corpo para continuar pesquisas espirituais”. Sua morte misteriosa e a forma como foi encoberta tornaram-se um enigma tão grande quanto os dogmas da religião que ele criou.


James Joyce — Morreu por negligência médica

James Joyce, autor de “Ulisses”, passou grande parte da vida lutando contra problemas de saúde, especialmente relacionados à sua visão, mas sua morte veio de uma forma completamente inesperada. Em 1941, ele foi internado em Zurique para uma cirurgia de úlcera perfurada. A operação parecia ter sido um sucesso, mas, nas horas seguintes, Joyce começou a sentir fortes dores. Em um erro médico absurdo, os doutores simplesmente ignoraram suas queixas e não ofereceram assistência imediata. Quando finalmente perceberam a gravidade da situação e decidiram operá-lo novamente, já era tarde demais — Joyce morreu horas depois, vítima da falta de atendimento adequado. Para um escritor que desafiava as regras tradicionais da literatura e mergulhava profundamente na mente humana, seu fim foi um triste reflexo da burocracia e do descaso do sistema médico da época.

Carlos Willian Leite

Jornalista especializado em jornalismo cultural e enojornalismo, com foco na análise técnica de vinhos e na cobertura do mercado editorial e audiovisual, especialmente plataformas de streaming. É sócio da Eureka Comunicação, agência de gestão de crises e planejamento estratégico em redes sociais, e fundador da Bula Livros, dedicada à publicação de obras literárias contemporâneas e clássicas.