Narrativas que exploram o sobrenatural costumam revelar aspectos ocultos da natureza humana, trazendo à tona tanto as peculiaridades mais obscuras quanto os cantos mais sombrios da alma. “Fantasma e Cia”, no entanto, se destaca ao ultrapassar essa fórmula. O diretor Christopher Landon utiliza o terror apenas como uma camada superficial para conduzir o espectador por uma trama que mistura humor e críticas sociais. Landon, já reconhecido por sucessos como “A Morte Te Dá Parabéns” e “Freaky: No Corpo de Um Assassino”, constrói aqui uma obra que desafia expectativas e mantém o público em constante alerta, sem se preocupar com possíveis frustrações.
Não por acaso, “Fantasma e Cia” é uma experiência cinematográfica com falhas, mas que brilha ao usar os recursos técnicos disponíveis para conduzir a narrativa a um lugar onde o foco recai sobre a desintegração social de uma família diante dos desafios da vida. A influência sutil de Tim Burton é notável logo de início, com uma cena de abertura que evoca uma lua cheia brilhante sobre uma casa decadente, preparando o cenário para uma história que mistura o cômico e o trágico. O casal Presley, vivido por Erica Ash e Anthony Mackie, se destaca ao lidar com as mudanças em suas vidas, com Ash assumindo as responsabilidades práticas enquanto Mackie tenta, sem sucesso, criar novos esquemas de enriquecimento rápido.
O filme ganha profundidade quando Kevin, o filho adolescente interpretado por Jahi Di’Allo Winston, rompe sua apatia para desafiar seu pai, destacando a dinâmica familiar tensa. A presença subutilizada de Fulton, o irmão mais velho interpretado por Niles Fitch, traz um contraste necessário à atmosfera melancólica, enquanto o espírito de Ernest, interpretado por David Harbour, se revela o verdadeiro trunfo da história. Harbour, mesmo sem falas, utiliza sua expressão corporal para dar vida a um fantasma cativante, cuja imagem esverdeada e etérea ganha forma através da fotografia de Marc Spicer e dos efeitos especiais de uma equipe dedicada.
Landon incorpora temas como racismo, xenofobia e injustiças sociais de maneira que, embora oportuna, às vezes parece um tanto forçada, especialmente nos diálogos dos personagens de Ash e Mackie. Contudo, a química entre Harbour e Winston mantém a trama coesa, mesmo quando o roteiro se aventura por caminhos instáveis. No fim, “Fantasma e Cia” se afirma como uma história de fantasmas que, ao explorar medos e frustrações, ressoa tanto no mundo dos vivos quanto no dos mortos.
Filme: Fantasma e Cia
Direção: Christopher Landon
Ano: 2023
Gêneros: Aventura/Comédia
Nota: 8/10