Romance épico na Netflix é filme perfeito para amantes incuráveis de livros Kerry Brown / Netflix

Romance épico na Netflix é filme perfeito para amantes incuráveis de livros

Desde o início, é evidente o rumo de “A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata”, mas isso não impede o público de acompanhar a trama até o seu desfecho, previsível e envolvente, dirigido pelo inglês Mike Newell. Embora o filme pertença a um gênero específico, o estilo clássico de Newell, um dos diretores mais tradicionais de Hollywood, é refletido em toda a sua filmografia.

“Reykjavik” (2012), que aborda a disputa entre os Estados Unidos e a União Soviética pela supremacia durante a Guerra Fria, é um exemplo de seu trabalho meticuloso. Poder-se-ia até argumentar que o filme de 2018 funciona como uma espécie de prelúdio ao seu antecessor.

“A Sociedade Literária” inicia-se em 1941, com uma impressionante tomada que destaca a majestade do céu da ilha de Guernsey, localizada no Canal da Mancha, entre a Inglaterra e a França. A ocupação desse território pelos soldados de Hitler é retratada de maneira brutal e invasiva, com uma sequência em que uma tropa bloqueia moradores e os interroga, quebrando qualquer ilusão de encantamento que o roteiro de Don Ross, Kevin Hood e Thomas Bezucha poderia sugerir.

Eben Ramsey, o chefe dos correios interpretado por Tom Courtenay, reage de maneira justa e natural, enquanto a narrativa avança cinco anos, para um Reino Unido em reconstrução após os duros anos da Segunda Guerra Mundial. Juliet Ashton, uma escritora londrina interpretada com sensibilidade por Lily James, observa os destroços de sua cidade, manifestando uma mistura de descrença e estupefação.

Em uma conversa com seu editor, Sidney Stark, vivido por Matthew Goode em uma atuação que remete aos grandes nomes do cinema clássico, a tensão entre os desejos profissionais e pessoais de Juliet é evidente. Stark, um homem devotado ao seu ofício, mas isolado do mundo real, deseja que Juliet alugue um apartamento luxuoso e aceite diversas encomendas, aproveitando a lenta recuperação econômica.

Juliet, no entanto, está mais interessada em entender como as pessoas estão vivendo nesses tempos difíceis. Decidida a visitar Guernsey e conhecer os moradores com quem se corresponde, incluindo Ramsey, Juliet embarca numa jornada transformadora, muito além de uma simples viagem de uma metrópole para uma ilha remota.

A chegada de Juliet à ilha é marcada por pequenos incidentes e por um encontro decisivo com Ramsey, seu amigo de correspondência. Este encontro, que parece predestinado, adiciona profundidade à trama, mostrando as conexões entre pessoas de diferentes lugares e épocas, unidas por experiências compartilhadas de sofrimento e resiliência.

Juliet se hospeda com Charlotte Stimple, a única moradora que despreza o clube de leitura local, fundado por Elizabeth McKenna, interpretada por Jessica Brown Findlay. Charlotte, vivida por Bronagh Gallagher, tenta desacreditar os membros do clube, embora sinta que Juliet discorda dela.

Ao participar das reuniões da Sociedade Literária, Juliet descobre que Elizabeth não mora mais na ilha e começa uma investigação discreta sobre seu paradeiro. Esta subtrama, centrada na guerra e na ocupação nazista, é tratada com um certo mistério que Newell tenta manter, apesar de ser óbvio para o público.

As aparições de Elizabeth em flashbacks, embora desnecessárias, não conseguem desviar o foco das reuniões do clube e das interações de Juliet com os outros membros, incluindo Dawsey Adams, um fazendeiro por quem Juliet desenvolve um interesse romântico, interpretado por Michiel Huisman. Este relacionamento, previsível desde o início, não diminui o charme do filme, que celebra o espírito humano e a importância das conexões pessoais.

Apesar de suas tendências ao sentimentalismo, “A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata”, na Netflix, transporta o espectador para uma época em que sonhar era essencial. O filme lembra que, mesmo em tempos de guerra e adversidade, a arte e a literatura podem oferecer consolo e esperança. O mundo pode ter retornado rapidamente a ciclos de paranoia e conflito, mas a capacidade humana de sonhar e buscar o bem-estar nunca deve ser subestimada.


Filme: A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata
Direção: Mike Newell
Ano: 2018
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 9/10