Em 2016, os cineastas uruguaios Fede Álvarez e Rodo Sayagues lançaram o suspense original e intenso “O Homem nas Trevas”. No enredo, um grupo de ladrões invade a casa de um homem cego com o objetivo de roubar um dinheiro que ele havia guardado. No entanto, o que eles não esperavam era ficar presos na casa com o homem, que se revela um assassino implacável, um ex-combatente da Guerra do Golfo, experiente em lutas e armas, e marcado por traumas profundos.
A partir desse ponto, o terror e o caos se instauram. Surpreendentemente, a vítima não é o aparentemente frágil homem cuja casa foi invadida, mas sim os próprios invasores. O filme é marcado por sua tensão extrema e eletrizante, tendo sido amplamente elogiado pela crítica e pelo público na época de seu lançamento. Agora, na sequência “O Homem nas Trevas 2”, acompanhamos mais um capítulo da história de Norman Nordstrom, o Homem Cego (Stephen Lang).
Nesta continuação, o personagem assume um tom mais heroico. Em vez de ser um vilão, Norman se transforma em uma espécie de mocinho — ou anti-herói, se preferir. Se no primeiro filme éramos levados a torcer contra ele, assombrados por sua frieza e crueldade, neste segundo filme, a torcida é a favor dele. Isso ocorre porque queremos que ele proteja a todo custo a personagem-catalisadora, Phoenix (interpretada por Madelyn Grace), uma garotinha que, anos antes, sobreviveu a um incêndio, mas acabou sem ninguém. Foi Norman quem a encontrou e a levou para casa, tratando-a como filha e treinando-a para enfrentar situações perigosas.
A história se passa oito anos depois dos eventos do primeiro filme. Phoenix está insatisfeita com sua situação, se achando superprotegida por Norman e sufocada em seu excesso de cuidado. Ela não pode frequentar a escola ou ter uma vida social, porque ele considera que seja perigoso demais. Phoenix, que agora é uma adolescente, quer ter amigos e viver como uma garota normal. Norman acredita que ela não precisa mais da companhia de ninguém além da dele.
Quando durante uma saída de Phoenix ela é perseguida por uma gangue perigosa que acaba invadindo a casa de Norman (mais uma vez!), a gente se dá conta de que ele não estava tão errado em superprotegê-la. A partir disso, recomeça uma sucessão de eventos similares aos do primeiro filme: um jogo de gato e rato. Desta vez, é Norman e Phoenix que precisam se esgueirar entre paredes, se arrastar silenciosamente no assoalho de madeira e se camuflam por trás das escadas para passar despercebido de um grupo verdadeiramente cruel e perverso de invasores.
Embora a sequência não mantenha a originalidade que foi tão elogiada no primeiro filme, ela consegue criar cenas de tensão eficazes por meio de técnicas de iluminação e sombras, com fotografias claustrofóbicas e desorientadoras. A escuridão das cenas contribui para intensificar o medo do desconhecido.
Os cortes rápidos nos mostram que existe urgência nas cenas de ação. O ritmo vai ficando cada vez mais acelerado criando uma tensão crescente, conforme o filme se desenrola. As cenas de Norman geralmente limitam seu campo de alcance, para que o público entenda a limitação de sua condição física e suas vulnerabilidades.
O enredo, no entanto, falha em se aprofundar na relação dos personagens centrais, Norman e Phoenix. Não conseguimos desenvolver sentimentos por eles, porque não conseguimos acreditar no apego emocional entre eles. Os diálogos também estão entre os pontos de fraqueza nessa história.
Aquém do primeiro, “O Homem nas Trevas 2”, na Netflix, ainda consegue transmitir uma boa dose de tensão e apreensão ao espectador, mantendo a atmosfera angustiante que caracteriza a franquia.
Filme: O Homem nas Trevas 2
Direção: Rodo Sayagues
Ano: 2021
Gênero: Terror/Suspense/Ação
Nota: 8