Não adianta: sempre chega o momento em que um grande filme do passado desperta novamente o interesse e a curiosidade. Assim é “Top Gun: Maverick”, que justifica cada centavo dos 170 milhões de dólares investidos na produção, liderada por Christopher McQuarrie e Tom Cruise, ao longo de mais de três anos. A direção de Joseph Kosinski retoma com maestria algumas das melhores características que Tony Scott (1944-2012) trouxe em “Top Gun — Ases Indomáveis” (1986), reunindo talentos tanto na frente quanto atrás das câmeras.
Tal como em 1986, Cruise carrega boa parte da aura mítica do filme de Kosinski. Se em “Top Gun” ele era o jovem e destemido Pete Mitchell, em “Maverick” ele se apresenta como um experiente piloto, mantendo seu charme e habilidade que conquistam públicos variados. Pilotando máquinas valiosas, Mitchell demonstra a versatilidade e o apelo duradouro de Cruise, que se tornou uma das figuras mais icônicas e lucrativas de Hollywood.
O roteiro, assinado por Jim Cash, Peter Craig e Jack Epps Jr., coloca Mitchell diante de um novo desafio: testar um dos F/A-18 da frota da Marinha americana, com a missão de atingir e manter um número específico de velocidade, uma tarefa que até os pilotos mais experientes têm dificuldade em realizar. É um papel que parece feito sob medida para o sempre espirituoso Mitchell, conhecido pelo apelido que dá título ao filme.
No entanto, a natureza audaciosa de Maverick o leva além dos limites autorizados, resultando em uma falha quase catastrófica que destrói a aeronave. Como punição, ele é enviado de volta à escola de formação de pilotos de caça, a Top Gun, destinada aos 1% mais talentosos dos aspirantes. Antes de sua primeira aula, o filme dedica cerca de quinze minutos a cenas que mostram Maverick em um restaurante de uma pequena cidade do meio-oeste dos Estados Unidos, antes de ele adentrar o bar onde os novos recrutas se exibem e competem entre si, mostrando a jovialidade que a vida militar costuma desencorajar.
As mulheres desempenham papéis importantes na trama, refletindo o que já era visto no primeiro filme. Penny Benjamin, interpretada por Jennifer Connelly, é uma velha amiga de Maverick, e suas interações oferecem um alívio cômico necessário, além de uma possível faísca romântica.
Quando assume o posto de instrutor na Top Gun, o enredo ativa memórias adormecidas do público, que esperavam apenas um estímulo para ressurgirem. A interação de Cruise com o novo grupo de pilotos é especialmente cativante, e Kosinski utiliza essa conexão para revisitar o conflito central de “Top Gun — Ases Indomáveis”: a morte de Goose, vivido por Anthony Edwards. Rooster, filho de Goose e um dos novos alunos de Maverick, protagoniza uma das subtramas mais emocionantes do filme. Miles Teller entrega uma performance excelente ao lado de Cruise, tornando os 130 minutos de filme mais do que compensadores. Para os fãs dos anos 1980, há até uma referência nostálgica com uma sequência de vôlei de areia, relembrando a peculiaridade do original.
“Top Gun: Maverick”, na Netflix, não é apenas uma sequência, mas uma celebração do legado de um clássico, atualizado com uma narrativa envolvente e performances marcantes, que mantém viva a chama do original enquanto explora novas dimensões emocionais e temáticas.
Filme: Top Gun: Maverick
Direção: Joseph Kosinski
Ano: 2022
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10