Diferente da concepção comum que permeia as mentes de muitos ao longo do tempo, a necessidade de heróis é constante e se torna ainda mais evidente em períodos de crise. “O Fotógrafo de Mauthausen” é um exemplo emblemático de narrativas onde indivíduos têm a coragem de desafiar as normas estabelecidas, superar seus medos e agir com justiça.
Estes personagens vão além das expectativas alheias, despertando em si a essência de um revolucionário em potencial, mesmo quando tudo ao redor está imerso em ódio, pânico e loucura. Eles oferecem uma fagulha de esperança, tanto para si quanto para os outros, demonstrando que é não apenas desejável, mas imperativo, imaginar e lutar por uma nova vida com a determinação de um soldado avançando nas linhas inimigas, indiferente aos perigos da escuridão.
Uma massa disforme de sete mil espanhóis esfarrapados chega a Mauthausen, um dos muitos campos de concentração nazistas da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Vindos de uma realidade de miséria, fome e derrota na Guerra Civil Espanhola (1936-1939), esses homens eram prisioneiros políticos desprovidos de nacionalidade, após a revogação decretada por Ramón Serrano Suñer, ministro de Francisco Franco. Os kapos, líderes dessas seções infernais, exercem uma autoridade cruel.
O roteiro de Alfred Pérez Fargas e Roger Danès ilumina que Mauthausen abrigava também criminosos comuns, identificados por triângulos verdes. Francesc Boix, o ex-soldado interpretado por Mario Casas, tem a sorte de atrair a atenção do obersturmbannführer Paul Ricken, interpretado por Richard van Weyden. Por mais absurdo que possa parecer, os nazistas precisavam de fotógrafos para documentar suas atrocidades, e Boix foi encarregado dessa tarefa, por razões deixadas ambíguas no roteiro.
No segundo ato, a narrativa explora aspectos subjetivos do protagonista, como sua habilidade de liderança, crucial em um ambiente como aquele. Casas retrata seu personagem com humanidade, realçando seu heroísmo genuíno. Uma sequência memorável mostra Boix, autorizado a visitar o prostíbulo mantido pelos nazistas, incapaz de consumar a relação com Dolores, uma prisioneira confinada ali para este fim, devido às visões perturbadoras de um corpo em chamas.
A breve participação de Macarena Gómez adiciona uma camada de complexidade a um enredo envolto em mistério, mesmo após Boix ter sido convidado a testemunhar sobre os horrores de Mauthausen no julgamento de Nuremberg, sendo o único espanhol a fazê-lo.
Francesc Boix sobreviveu a Mauthausen, mas as cicatrizes daquele lugar o acompanharam para sempre. Sofrendo de diversas doenças adquiridas no campo, Boix faleceu cinco anos após Nuremberg, em 7 de julho de 1951, pouco antes de completar 31 anos. Ele foi enterrado nos arredores de Paris, numa cerimônia simples, sem reencontrar sua família. Graças às suas fotografias, o mundo tem uma visão do que a humanidade pode se tornar quando se esquece de respeitar o homem, mostrando que honrar o presente é fundamental para qualquer progresso futuro.
Filme: O Fotógrafo de Mauthausen
Direção: Mar Targarona
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Thriller
Nota: 9/10