Duvido que você vai chegar até o fim deste filme, no Prime Video, sem derramar um rio de lágrimas Divulgação / MGM

Duvido que você vai chegar até o fim deste filme, no Prime Video, sem derramar um rio de lágrimas

Seria ideal se a vida seguisse uma harmonia constante, como os minuciosos cenários de ferromodelismo que nos encantavam na infância. Com essa premissa, Zach Braff conduz “Uma Boa Pessoa” no Prime Video, retratando a queda ao abismo de uma jovem mulher que reconhece seus erros e deseja redimi-los, mas para isso deve revisitar repetidamente os caminhos de sua própria existência, na esperança de um dia alcançar a redenção.

Braff, em seu texto magistral, faz com que a protagonista compartilhe com o espectador suas experiências sombrias acumuladas após um evento quase cômico, não fosse pelo trágico desfecho. As cenas, ricas em vigor, beleza, poesia e prudência, revelam a dualidade humana, insistindo que viver é um ciclo contínuo de decadência e ascensão, deixando a escolha entre lamentar eternamente ou levantar-se e tentar novamente nas mãos de cada um.

Repentinamente, alegria, leveza, amor e dignidade se transformam em culpa, dor, vício e abandono para Allison, que se orgulhava tanto de suas escolhas recentes. Ela está noiva de Nathan, prospera como representante comercial de uma farmacêutica, promovendo um medicamento para doenças de pele — o que mitiga sua culpa por integrar o “sistema” e proporciona ao diretor-roteirista momentos de raro humor ao longo dos 128 minutos —, e busca estreitar laços com a família do futuro marido, organizando passeios até o dia do casamento.

Antes de serem brutalmente separados, Florence Pugh e Chinaza Uche formam um casal incomodamente feliz, e Braff evita mencionar a diversidade racial, pois a tragédia dos dois transcende o óbvio. A caminho da loja onde Allison compraria seu vestido de noiva, uma distração resulta em um acidente de carro. E sua vida nunca mais será a mesma.

No segundo ato, o diretor ilustra a dor que se enraíza na essência de Allison. Pugh captura todas as nuances do desespero de sua personagem, e por mais que a jovem se empenhe em superar seu drama, talvez não consiga, presa à dependência do potente opioide prescrito durante sua longa recuperação. Daniel, pai de Nathan, surge como seu salvador, com Morgan Freeman perfeitamente à vontade como esse homem adorável e sereno, mas justo, atento a cada movimento da nova pupila.

Daniel, evidentemente, também possui suas próprias feridas a curar, um conflito evidente na cena final, quando, numa carta, expressa sua preocupação com o futuro de Ryan, a filha caçula, interpretada por Celeste O’Connor. É chegada sua hora de embarcar para outra estação, o que ele faz com a tranquilidade que o caracteriza, confiando na ex-nora. É a oportunidade ideal para que ela demonstre, finalmente, se aprendeu a lição.


Filme: Uma Boa Pessoa
Direção: Zach Braff
Ano: 2023
Gêneros: Drama/Comédia
Nota: 10