Se você não é inteligente, nem tente assistir: o filme da Netflix com Jake Gyllenhaal que não é para todos Claudette Barius / Netflix

Se você não é inteligente, nem tente assistir: o filme da Netflix com Jake Gyllenhaal que não é para todos

Adentrando a análise do submundo artístico, onde poucos têm o privilégio de influenciar e menos ainda possuem a clarividência de compreender as nuances que direcionam as tendências artísticas, destacam-se várias figuras. Entre elas, artistas centrados em si mesmos, galeristas que visam apenas o lucro, consumidores de arte que carecem de discernimento estético, e, inevitavelmente, os críticos, frequentemente vistos como parasitas do talento alheio, incapazes de produzir algo genuíno, conforme expressa a visão crítica de alguns que lucram à sombra da ignorância de certos círculos elitistas.

Estes são agentes fundamentais nos mecanismos de comercialização de arte, que frequentemente ganham destaque mais por controvérsias do que pela sua própria beleza ou significado intrínseco. Dan Gilroy, sem se aprofundar totalmente nessa discussão, instiga o público a formar suas próprias conclusões acerca da transformação do conceito de arte e da figura do artista no turbulento século 21.

No filme “Velvet Buzzsaw” de 2019, Gilroy explora com autenticidade o ditado de que “nem tudo que reluz é ouro”. Quando a intelligentsia endossa tal visão, filas intermináveis se formam para adquirir a primeira obra da mais nova exposição do artista do momento. Gilroy utiliza as artes plásticas como veículo para uma reflexão que poderia igualmente aplicar-se a outros domínios, como o teatro, a literatura, a fotografia ou a televisão, através de uma sátira acurada. O filme avança com terror mais acentuado assim que o aspecto sociológico da crítica é consolidado, adentrando uma fase de violência gráfica que desafia julgamentos convencionais. “Velvet Buzzsaw” oferece múltiplas perspectivas sobre seu tema, provocando desapontamento em alguns enquanto liberta outros das restrições do politicamente correto, que frequentemente aprisiona os verdadeiramente autênticos enquanto eleva falsos ídolos.

Roger Scruton, crítico de arte e filósofo inglês, defendia ardorosamente a estética como uma ferramenta para o homem escapar da natureza totalitária da política. Distinguido como um dos mais influentes pensadores britânicos desde Edmund Burke, Scruton certamente discordaria de figuras fictícias como Morf Vandewalt, interpretado por Jake Gyllenhaal. Para Vandewalt, críticos primeiramente impulsionam o mercado, elevando ou destruindo a carreira de um artista com suas críticas, muitas vezes motivadas por interesses monetários. O personagem de Gyllenhaal representa essa dinâmica ao interagir com diversos outros personagens, como Rhodora Haze, interpretada por Rene Russo, e sua assistente Josephina, papel de Zawe Ashton, em meio a uma galeria diversificada e complexa de figuras ligadas à indústria da arte.

Gilroy transforma a chave narrativa para o horror quando um incidente macabro envolve Josephina, desencadeando uma sequência de eventos aterrorizantes, marcados por um humor negro que mantém o público engajado. O mistério dos assassinatos reflete diretamente a temática artística, com uma fotografia vibrante de Robert Elswit que desafia os padrões estilísticos típicos do gênero.

Refletindo sobre a “função da arte”, há argumentos que sugerem que ela deve educar e preparar, conectando o homem a um todo maior, enquanto outros advogam que a arte deve existir puramente como tal. Contudo, a influência de figuras como Morf Vandewalt apresenta um risco ao misturar indiscriminadamente valor e preço na arte. “Velvet Buzzsaw”, destacado no Festival Sundance de Cinema em 2019, encapsula a transformação contemporânea da arte em um produto cada vez mais comercializado e menos substancial, proliferando uma cultura de riqueza superficial.


Filme: Velvet Buzzsaw
Direção: Dan Gilroy
Ano: 2019
Gêneros: Terror/Drama
Nota: 9/10