Inspirada em William Shakespeare, obra-prima ignorada pelo público é um dos melhores filmes da história da Netflix Divulgação / Netflix

Inspirada em William Shakespeare, obra-prima ignorada pelo público é um dos melhores filmes da história da Netflix

Em muitos momentos, todos nós enfrentamos um confronto direto com nossas próprias expectativas e desejos, questionando profundamente nossas escolhas de vida. Esta reflexão é especialmente intensa para aqueles que atuam desde jovens, onde uma decisão errada pode significar o desperdício de anos de esforço intenso sob o escrutínio implacável de críticos vorazes que parecem ter prazer em minar o entusiasmo de outros, especialmente atores atrativos que já não são tão jovens. Timothée Chalamet, por exemplo, certamente enfrentou seu momento de autoquestionamento decisivo. 

Chalamet transcende a imagem do típico jovem atraente, conforme evidenciado por sua extensa e diversificada carreira no cinema. Em mais de vinte filmes, o ator franco-americano se destacou por interpretar personagens que combinam uma elegância inata com traços mais acessíveis e humanos. Em destaque, sua atuação em “O Rei” (2019), dirigido por David Michôd e escrito em colaboração com Joel Edgerton, também ator no filme, ilustra sua habilidade em encarnar nobreza. Nesse filme, Chalamet é promovido a rei da Inglaterra, um papel que exige uma mistura de majestade e humanidade. 

O roteiro de “O Rei” baseia-se nas clássicas peças de William Shakespeare que exploram o reinado de Henrique V da Inglaterra. Apesar da aparência distinta de Chalamet em comparação com as representações históricas do rei — algo ainda mais pronunciado no contexto do medieval, uma época marcada por doenças e brutalidade — o filme faz um trabalho notável ao retratar semelhanças físicas e temperamentais entre o ator e o monarca histórico. 

Educado nos palcos, Chalamet lembra grandes nomes do teatro britânico como Laurence Olivier, Colin Firth e Malcolm McDowell, conhecidos por interpretarem reis. Em “O Rei”, sua transformação de um jovem impulsivo para um líder inspirador reflete a complexidade dos personagens shakespearianos, em particular a trágica figura de Hamlet, cuja jornada é marcada pela introspecção e fatalidade. A interpretação de Chalamet de Henrique V, por outro lado, mostra um homem mais ponderado e um governante atento às necessidades de seu povo e à dignidade dos seus adversários, mesmo no auge da Guerra dos Cem Anos contra a França. 

A direção de Michôd em “O Rei” oferece uma representação visceral e realista das batalhas medievais, destacando a habilidade do filme de capturar a brutalidade da época enquanto valoriza a narrativa humanista centrada em Henrique V. O filme, que deliberadamente evita o uso do inglês arcaico de Shakespeare, visa tornar a história acessível, mantendo o tom grandioso e cerimonioso que é característico da história inglesa. 

Finalmente, o desempenho de Chalamet é um ponto alto de “O Rei”. Ele demonstra uma maturidade artística que o distingue não apenas como um ator capaz de papéis românticos e introspectivos, como visto em “Me Chame Pelo Seu Nome” (2017), mas como um verdadeiro protagonista capaz de assumir complexidades dramáticas significativas. Isso posiciona Chalamet como um ator de destaque, cuja carreira promete continuar a evoluir, como evidenciado por seu papel em “Duna” (2021), de Denis Villeneuve. 


Filme: O Rei 
Direção: David Michôd 
Ano: 2019 
Gêneros: Filme histórico 
Nota: 9/10