Você não viu, mas deveria: adaptado de best-seller de Joyce Carol Oates, filme com Nicolas Cage está na Netflix Divulgação / Eagle Films

Você não viu, mas deveria: adaptado de best-seller de Joyce Carol Oates, filme com Nicolas Cage está na Netflix

Desde a aurora da consciência, os seres humanos têm se debatido com a questão de transcender o comum, de se elevar além da mediocridade que marca a existência cotidiana. Busca-se incessantemente indivíduos que, de alguma forma, rompam com a trivialidade da existência terrena, adotando uma aura quase mágica, capazes de navegar com facilidade pelas esferas do imaginário e do ideal. À medida que o tempo se desenrola, como um complexo mecanismo de engrenagens, cada época se entrelaça na próxima com uma certa fluidez. No entanto, essa continuidade revela, eventualmente, um mosaico de contrastes — em cor, textura, forma e essência — destacando a natureza diversa da existência humana. Esse caráter multifacetado do ser reflete a dualidade intrínseca à condição humana, sujeita às adversidades do destino, cabendo aos indivíduos a responsabilidade de moldar o curso de suas vidas.

Em sua essência, o ser humano anseia por um farol de luz, ainda que tênue, que ilumine o caminho para a sabedoria intuitiva, essencial para a jornada em direção ao autoconhecimento. Esse pilar é fundamental para construir os baluartes que protegerão o espírito das sombras do mundo. O percurso inicial, repleto de desafios e sofrimento, é apenas o prelúdio para um estágio de maior significância: a autoafirmação. A sensação de derrota é como um veneno que corrói o ânimo, e sucumbir diante de um desafio, independentemente das justificativas, é percebido como uma fraqueza. No entanto, é a consciência dos propósitos inalienáveis da vida que resgata o indivíduo nesses momentos de vulnerabilidade. São essas missões, impulsionadas pelos raros, mas influentes ícones de virtude, que moldam o destino humano.

Nicolas Cage, ao longo de quarenta anos de trajetória artística, capturou com maestria essa dualidade de heroísmo temperado com uma latente ferocidade. Sua interpretação de Johnny Martin em “Uma História de Vingança” é um testemunho dessa habilidade, especialmente considerando o jogo de palavras entre vingança e amor implícito no título original. Cage dá vida ao detetive John Dromoor, cujo coração se divide entre duas mulheres, mãe e filha, trazendo à tona complexidades emocionais e morais. O texto de John Mankiewicz aprofunda a nobreza do personagem principal, deixando suas tragédias pessoais em segundo plano, que se revelam gradualmente, especialmente quando Dromoor se envolve na defesa de Teena Maguire, interpretada por Anna Hutchison, e sua filha Bethie, vivida por Tabitha Bateman, ambas enredadas em uma trama de violência e redenção.

O roteiro se mantém fiel ao romance de Joyce Carol Oates de 2003, adaptado com liberdade por Martin, enquanto ressoa com momentos marcantes da carreira de Cage, como seu papel em “Olhos de Serpente” de Brian De Palma. Mankiewicz e Martin extraem com habilidade os elementos mais impactantes da obra de Oates, trazendo à tona nuances que, no livro, poderiam permanecer obscuras. A participação de Don Johnson como o advogado Jay Kirkpatrick introduz um debate sobre ética na advocacia, enriquecendo a narrativa com uma camada de complexidade moral. Este aspecto, juntamente com a abordagem não pretensiosa, mas intrincadamente cínica da história, é um dos pontos altos do filme, capturando o espírito único de Nicolas Cage.


Filme: Uma História de Vingança
Direção: Johnny Martin
Ano: 2017
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10