A arte da humilhação: as lições de um supercoach

A arte da humilhação: as lições de um supercoach

Recentemente, tornou-se viral nas redes sociais um vídeo em que um supercoach humilha uma mulher na audiência por ela ter a audácia de começar a falar sem a devida orientação. “Você não vai falar mais!”, exclamou ele, justificando que era necessário ter inteligência emocional ao questionar.

Imediatamente após, ele explicou que tinha um compromisso familiar importante naquele dia e que não podia perder um segundo sequer sem objetividade — algo que, ironicamente, tomou talvez mais tempo do que a fala interrompida da mulher. Alguns sentem pena, outros criticam duramente; o que se observa, na verdade, é o ápice sublime da evolução da carreira de coach.

O líder perfeito, enfim. Em palestras custosas, há abundância de cenas em que ele repreende pessoas aleatoriamente, o que parece ser um encontro dos mais azarados com fragilidades psicológicas de cada cidade ou região do país.

Um caso ilustrativo ocorreu quando uma senhora falou por vários minutos sem interrupção — o que já era estranho — e, ao concluir, recebeu uma resposta dura, quase pintando-a como incapaz e fracassada. Pura genialidade. O constrangimento de testemunhar a destruição da autoestima de alguém não entretém os ególatras; os presentes estão cientes do que irão ganhar com isso.

Já não se pensa mais no estereótipo de uma alma errante em busca de míseras moedas dos vulneráveis. Fala-se aqui de um empresário, autor de quase trinta livros — sem entrar no mérito de sua qualidade — que, de fato, arrecada milhões por ano. Com maneirismos teatrais e uma aura quase profética, misturando religiosidade e motivação masoquista, o supercoach já realizou até o feito de acalmar um especialista em viagens aéreas durante um momento de crise.

Os memes foram muitos, mas tiveram apenas um efeito: proporcionar um palco para que milhares de pessoas necessitadas vissem no homem um propósito de vida. Mais público, portanto.

Entre as infelicidades de um país livre e democrático está a aceitação da exploração dos tolos. Não é necessariamente um crime se aproveitar da ingenuidade daqueles que acreditam em direcionamentos degradantes e ineficazes que, embora pretendam fortalecer e preparar mentes, na verdade, as destroem ainda mais. Testemunha-se uma clara evolução na carreira de coach, que antes se limitava a simular virtudes inexistentes.

Eram os dinossauros dos vorazes líderes de hoje. Devemos reconhecer aqueles que exploram as carências alheias para construir reputação e riqueza; existe aí um mercado incontestável. Afinal, somente uma mente bem treinada e desprovida de empatia consegue lidar com as constantes maledicências na vida alheia. E o brasileiro médio, como se vê, tem uma longa história de afeição por tais aproveitadores.