A obra de arte na era do ChatGPT

A obra de arte na era do ChatGPT

Uma das novidades dos últimos tempos foi a chegada de dispositivos de inteligência artificial (IA) ao público em geral. Pela primeira vez, programas como o Chat GPT ficaram ao alcance da mão de qualquer pessoa. Assim caiu a ficha para muita gente de que o mundo está se transformando de maneira mais acelerada, para além do imaginado, principalmente após a pandemia do coronavírus.

Nos próximos anos, o efeito da IA na vida cotidiana pode ser semelhante ao que ocorreu com a abertura da internet para fins comerciais trinta anos atrás. Nas artes e na cultura, as mudanças tecnológicas também causam abalos. Foi o que enxergou Walter Benjamin nos anos 1930 antes de todo mundo, em seu clássico ensaio “A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica”.

Para Benjamin, havia acabado o momento mágico e único de se ouvir ou ver uma performance artística. O fazer do artista perdia a “aura”, numa referência ao registro mágico, sagrado e até religioso, e passava a ser algo reproduzível em cópias. Na internet de hoje, a mudança se radicaliza, pois as cópias são essenciais e virais. O cinema seria o indicador para o filósofo alemão de que nada mais seria como antes.

Inovações digitais de hoje são desdobramentos de tecnologias descobertas no final dos 1960 com a microeletrônica (sobretudo a internet). A IA é mais um passo da revolução cibernética. Os efeitos demoram a ser sentidos, uma vez que, segundo os economistas, leva ao menos 30 anos para descobrir o uso de uma solução tecnológica na vida prática.

Nesses movimentos, ressalte-se, cada nova engenhoca afeta as artes, alterando as formas de produção e consumo dos bens culturais. Esse pode ser um ponto de partida para discutir as artes na atualidade, tal como fez Benjamin, em seu tempo sombrio anterior à Segunda Guerra Mundial.

Última música dos Beatles

A cada semana, levamos um susto. O mais recente deles foi a canção “Now and then”, gravada por John Lennon (1940-1980) pouco antes de morrer e finalizada apenas este ano pelos Beatles sobreviventes, graças à tecnologia de IA que separa sons de vozes e instrumentos. O algoritmo retirou o piano original da gravação e encorpou a voz de John, ao ponto de parecer que foi gravada recentemente.

Paul McCartney e Ringo Starr cobriram as lacunas com seus instrumentos, além de recuperar a guitarra de George Harrison em ensaios gravados nos anos 1990. Nasceu então a última “beatle song”. Em outro caso, a inteligência artificial permitiu a captura da voz de Andy Warhol (1928-1987), que aparece no filme “Diários de Andy Warhol”, da Netflix. Foi gerada uma leitura fantasmagórica dele para seus próprios escritos.

Diários de Andy Warhol (2022), Andrew Rossi
Diários de Andy Warhol, da Netflix

O uso de IA está aterrorizando os dubladores, cujas vozes podem ser capturadas e aplicadas em novos filmes, animações ou peças de publicidade. Eles vão perder seus empregos e direitos. E os roteiristas de Hollywood estão em permanente estado de greve para proteger seu trabalho na indústria do audiovisual. A ideia de autoria e de propriedade mudou de figura.  

Reino dos smartphones

No mês passado, o crítico Jason Farago soltou uma provocação no jornal “The New York Times”, no artigo “Por que a cultura parou”. Não houve grande repercussão de um texto feito para chocar o público. Prevaleceu um silêncio. Mas o autor acendeu a chama de uma certa nostalgia do modernismo do século 20, valorizando o ideário do “faça o novo” e das vanguardas.

Farago se queixou da falta de inovação artística hoje, justamente numa época de fortes transformações tecnológicas da vida cotidiana. As artes, segundo ele, teriam assim apenas as glórias do passado.

Ao contrário do choro pelo leite derramado, um bom caminho é seguir a trilha de Walter Benjamin, que olhou para mudanças trazidas pela tecnologia para a produção artística. Dessa maneira, podemos concluir primeiramente o quanto o acesso à cultura e às artes dependem hoje de um aparelho chamado telefone celular, mais especificamente os smartphones surgidos a partir dos anos 2010.

É nesse dispositivo, que cabe no bolso, que se dá atualmente o consumo de filmes, livros, músicas, fotos, vídeos, trocas de documentos e mensagens. Com isso, as salas de cinema já enfrentam uma crise impressionante porque os filmes são vistos mais e mais nos serviços de streaming. Esse movimento se acentuou na pandemia.

A música está aos montes no Spotify e no YouTube (uma espécie de arquivo público da canção popular). É possível carregar, para cima e para baixo, uma biblioteca de 3 mil livros no aplicativo Kindle do celular. As pessoas têm, portanto, um dispositivo, portátil, que jamais foi imaginado na história. Isso deve ser levado em conta por quem produz, usufruiu e pensa as artes contemporâneas.

Mundo instagramável

Qualquer museu de hoje, mesmo aqueles centenários, parecem ser feitos para o Instagram. Passeia-se por um corredor de quadros e esculturas repleto de pessoas tirando fotos. Basta pensar na instalação “A piscina”, do argentino Leandro Erlich, que rodou o mundo e o Brasil em exposições.

A indústria do turismo também vive de imagens e seria impensável sem as atrações culturais e artísticas — todas elas avaliadas com notas de zero e cinco estrelas nos serviços digitais. Como Benjamin notou a importância do cinema em sua época, o crítico atual deve partir da constatação de que há um novo cenário tecnológico que é, sim, definidor de tendências e antimodernista.

A forma da arte por meio dos smartphones demanda uma interação com o público e compartilhamento. As obras devem ter capacidade de circulação e de chegar às mãos dos diversos públicos. Um show musical é atualmente filmado por milhares de telefones celulares do ponto de vista da plateia.

A piscina do argentino Leandro Erlich
A piscina, do argentino Leandro Erlich | Foto / Kateryna Mostova

A mais recente turnê do grupo de rock U2 foi toda pensada na lógica dos ambientes digitais, na famosa Sphere (Esfera) na cidade de Las Vegas. Trata-se de uma experiência que coloca o velho cinema 180 graus em um novo patamar. O público faz lives do local, interage com o espaço e compartilha tudo em seguida nas redes sociais.

Uma obra emblemática dos novos tempos é o vídeo game “The Last of us” (2013), que virou recentemente uma série da HBO. É uma história de distópica de um fungo que mata meio mundo nos Estados Unidos, o que antecipa e muito o que foi a Covid-19. Os autores tiveram o cuidado até de colocar uma trilha sonora assinada pelo argentino Gustavo Santaolalla. O trabalho é todo refinado e sofisticado.

“The Last of us” pode ser entendido como uma obra de arte dos tempos de inteligência artificial e que toca no ponto central da modernidade no século 21: a falta de crença de que o futuro será melhor e que se vive num presente eterno. Parece absurdo chamar um game de arte, mas estamos em outra etapa de produção e consumo culturais.

Expectativas decrescentes

O progresso científico foi o motor do espírito moderno a partir do século 19 e em boa parte do 20. Essa visão de mundo teve uma força tão grande que moveu os corações e mentes de capitalistas e socialistas, ao ponto de partidos de esquerda se intitularem de “progressistas”. Em comum, havia um certo entusiasmo pela tecnologia.  

Os cinemas norte-americano e soviético comungaram da mesma crença do progresso tecnológico. Como um todo, o modernismo das artes também carregou um ideal de avanço social, econômico, cultural e artístico. Era um projeto “moderno” que orientou a utopia civilizatória. Mas quando se mudou para a distopia?

Uma hipótese para pessimismo está no surgimento da bomba atômica nos anos 1940. Um artefato científico que mostrou aos seres humanos a possibilidade de sua extinção, como se vê no filme recente “Oppenheimer”. O fim do mundo passou a ser um tema para o pensamento e as artes. Por outro lado, o pós-Segunda Guerra trouxe um bem-estar econômico e social de que durou até a virada dos anos 1960 para os 1970.

A crise global de 1971 é pouco citada, mas pode estar ali o ponto de virada do capitalismo e de um pessimismo com a noção de progresso. Foi naquele período que se começou a falar de crise ambiental e surgiu o movimento verde na Europa. Autores como Christopher Lasch deram o diagnóstico de “expectativas decrescentes” em relação às transformações do mundo contemporâneo.

Cinema nostálgico

No plano cultural mais estrito, coube a Frederic Jameson fazer a radiografia do que ele batizou de “pós-modernidade”, a partir daquele momento da década de 1970. A utopia modernista ficou incompleta em diversos sentidos, pois não daria às pessoas a autonomia, a liberdade e a equidade prometidas.

O capitalismo global havia entrado em nova etapa, focado na Terceira Revolução Industrial, tendo um centro na microeletrônica (o berço da inteligência artificial). Pela primeira vez, as empresas, o velho capital, poderiam se desenvolver sem a necessidade do trabalho humano. O desemprego estrutural virou uma realidade.

Jameson notou que, nesse período, a falta de crença no futuro levou a uma valorização do passado. As artes passaram a ter os olhos voltados para trás, algo notado também por outros críticos como Hans Ulrich Gumbrecht e Andreas Huyssen. Surge, por exemplo, um “cinema nostalgia” em obras do quilate de “O Poderoso Chefão” e “Chinatown”, analisados pelo crítico norte-americano.

Mais adiante veio a franquia “Guerra nas Estrelas” no cinema, que se parece com as velhas narrativas de capa e espada. Raciocínio semelhante vale para os filmes de Indiana Jones, incluindo uma certa nostalgia imperialista. O uso do passado foi chamado de “pastiche” por Jameson, ou seja, uma obra recria obras do passado e evoca outras épocas nos cenários, nas roupas e situações.

Games of Thrones
Games of Thrones

Uma série recente como “Games of Thrones” é a radicalização do culto ao passado, ao ponto de não se saber exatamente em que época se passa a história. São todos sintomas de que a utopia de um futuro melhor foi mesmo para o espaço.

“Estamos diante de uma imposição do próprio capitalismo de consumo — ou, ao menos, de um sintoma alarmante e patológico de uma sociedade que se tornou incapaz de lidar com o tempo e a história”, escreve Jameson em 1982, já antecipando o que seria acentuado nas décadas seguintes. O ponto talvez seja esse mesmo: a incapacidade de entender o tempo.   

Cânones obsoletos

A partir dos anos 1970, as artes podem ser interpretadas do ponto de vista de uma crise de época. Há um sentimento de pessimismo em relação ao futuro da humanidade e do próprio planeta que vai se desenvolvendo gradativamente. Todas as questões surgidas 50 anos atrás parecem ainda não resolvidas e vêm se juntar agora ao desafio de uma transformação digital para o fazer artístico.

A lista de problemas continua na pauta do dia: vai do já citado culto ao passado, passa pela “amnésia cultural”, e chega ao “retorno do real”, à mistura vida/arte, às distopias e às “expectativas decrescentes”. Há sintomaticamente uma busca firme pela realidade, por meio de inúmeros relatos de memórias, biografias, narrativas de viagens e thrillers policiais. Até as fantasias evocam o real.

Mas o que realmente pesa na arte contemporânea é a valorização do passado. Um dos sintomas e quase um mal-estar é a veneração dos cânones e dos clássicos. Tal moléstia já havia tomado conta da música erudita (só valeria a pena que o que foi feito até o século 19) e dado início à moda da pintura impressionista (sempre a grande atração de qualquer museu pelo mundo afora).

Na literatura, o crítico Harold Bloom “causou” nos anos 1990 ao atacar autores e autoras contemporâneos para defender Shakespeare e o romantismo inglês (sua grande especialidade). O tapa na mesa dado por ele teve, ainda bem, pouco efeito. Pois cresce cada vez mais a ideia de uma literatura-mundo (“world literature”) e a disseminação da escrita pós-colonial.

Queda das torres gêmeas

Os cânones estão se abrindo, incluindo mais obras de fora dos grandes centros capitalistas, ao invés da restrição proposta quixotescamente por Bloom. A vida, a oxigenação das artes, vêm das margens e das periferias do mundo. Assim a inovação demandada por Jason Farago floresce na África, na Ásia e nas regiões de povos indígenas, e não mais na Europa e nos Estados Unidos.

Mas o sinal dos tempos é que tanto o pós-modernismo quanto o modernismo não dão mais conta das questões atuais. Eles podem até explicar muita coisa, mas o cenário é o outro, mais especificamente o sentimento de que estamos mais próximos de um “fim do mundo”, de um colapso planetário.

O ataque as torres gêmeas | Foto / Walter Cicchetti

O que surgiu nos 1970 e 1980 não foi o início de uma nova era. Foram respostas emergenciais para a crise capitalista e sua revolução tecnológica. Naquela época, Jean François Lyotard chegou a imaginar a morte das “grandes narrativas” que orientaram a humanidade: nacionalismo, religiões, marxismo, psicanálise. No entanto, bastou um acontecimento para provocar a reviravolta: os ataques de 11 de setembro de 2001.

Na derrubada das Torres Gêmeas, ficou mais evidente que a crença religiosa havia voltado ao centro das discussões e que a guerra seria o paradigma do século 21. O “fim da História” não era a paz mundial, a adoção da democracia liberal em todos os países e a integração de mercados.

A guerra é um horizonte real hoje. A bomba atômica retornou às discussões. Vemos, por exemplo, a disseminação de artefatos como os drones. Criados pela indústria militar, eles foram totalmente incorporados à produção audiovisual, até mesmo na forma de elemento narrativo (na série israelense “Fauda”, da Netflix, por exemplo).  

A partir dessa tentativa de criar um grande painel, é possível sugerir quatro hipóteses para se pensar as artes na era da inteligência artificial, do ponto de vista de alguém na América do Sul. São elas: a volta da ideia de espaço, a centralidade do capital financeiro, a presença das plataformas digitais e a crise climática.

O espaço

A geografia é um elemento organizador das artes. No modernismo do começo do século 20, a grande questão era o tempo e suas transformações. Hoje não se imagina mais um “lugar nenhum” da globalização que seria a síntese de todos os espaços, conforme se pensou trinta anos atrás.

Fala-se hoje em “desglobalização” após a pandemia de Covid e a crise financeira de 2008. Dessa maneira, cresce o interesse por uma literatura-mundo, a produção de uma escrita fora dos grandes centros editoriais da Europa e dos Estados Unidos. O leitor demanda outros mundos.

O romance pós-colonial revela situações muito particulares, sobretudo de personagens na África e na Ásia. Os acadêmicos do Prêmio Nobel de Literatura são bem sensíveis a esse cenário e valorizam escritores e escritoras das periferias globais. Diante disso, não se pode mais falar de uma arte universal. Virou algo anacrônico e até etnocêntrico.

O que chamam de “universalista” é, na verdade, uma produção meramente europeia e norte-americana, os centros capitalistas globais. As periferias do mundo ganham nova relevância com a mudança de visão e abertura dos cânones. Um tema central nesse contexto são os refugiados asiáticos e africanos que chegaram à Europa nos últimos anos, algo tão bem trabalhado na obra do artista plástico Ai Weiwei.

Capital financeiro

Frederic Jameson faz uma relação entre as fases do capitalismo e as formas artísticas ao longo dos dois últimos séculos. No final da década de 1990, ele sugeriu que o capital financeiro havia se tornado o padrão do mundo contemporâneo e tinha sua expressão mais adequada nos trailers de filmes.

TikTok
Kwai, TikTok, Youtube e Instagram: narrativas breves

Seria um tipo de narrativa curtíssima, sintética, que tinha correlação com a volatilidade dos mercados financeiros. Nota-se que essa sugestão do crítico norte-americano brotou antes do surgimento das redes sociais e todas as suas plataformas atuais.

A proposta de Jameson antecipou o que se vê hoje nos pequenos vídeos das plataformas Kwai, TikTok, Youtube e Instagram. Narrativas brevíssimas que dispensam contextos maiores e captam o público de maneira instantânea.

As telenovelas brasileiras, por exemplo, já estão sendo pensadas para uma audiência que vê os capítulos na forma de cortes e trechos pequenos nas plataformas de vídeo como o TikTok. As pessoas criam hábitos de consumo que afetam diretamente as formas narrativas. E os artistas vão se adaptando ao novo mundo.

Redes digitais

Usando a terminologia de Walter Benjamin para analisar os anos 1930, pode-se pensar que hoje ocorre um duplo movimento nos meios digitais: a “politização” das redes sociais e a “estetização” da política.

Na semana que escrevo, um grupo de manifestantes entrou num museu de Londres e quebrou o vidro de proteção de uma tela de Diego Velásquez. As imagens mostram uma performance política de ativistas em protesto para chamar atenção sobre os danos das mudanças climáticas. Já um governo estadual no Brasil decidiu tirar de circulação livros em papel como “Laranja Mecânica”, para proteger crianças e jovens. Só esqueceram de que tudo está aberto na internet.

As artes assumiram o centro do debate e viraram alvo no que se convencionou chamar de “guerras culturais”. Políticos conservadores surfam e estimulam a perseguição de artistas, para gerar divisões ou fraturas na sociedade. Há um esmero na criação de uma estética que consegue unir um moralismo sexual, a defesa de armas de fogo e a leitura distorcida de textos religiosos.

O fato é que as redes sociais são espaço de fruição e consumo das artes. As pessoas não vão mais atrás de conteúdos, e estes chegam às timelines de forma organizada pelos algoritmos. Há reações com curtidas, comentários e compartilhamentos.

É interessante ver, por exemplo, como o consumo de música migra para o TikTok, tendo ocupado antes o YouTube de maneira ostensiva. Não é apenas funk, sertanejo ou piadas para passatempo. Com o toque frenético na tela do smartphone, os adolescentes estão descobrindo pequenos vídeos de mestres da MPB.

Antropoceno

A grande moldura para tudo isso é a crise climática, mais precisamente o que foi chamado de antropoceno. Trata-se da era geológica caracterizada pelo impacto dos seres humanos no planeta Terra. Ao longo dos últimos cinco séculos, o progresso técnico e científico levou ao consumo desenfreado de recursos naturais e à elevação das temperaturas na Terra.

Charlie Brooker
Charlie Brooker, criador da série Black Mirror | Matt Holyoak / Netflix

Estamos diante de um destino que só tem lugar na distopia da ficção científica. Nisso tudo, a palavra “colapso” é central. Apenas as narrativas distópicas dão conta de tamanho descalabro. Desaparece qualquer ideia de futuro viável. No Brasil, um grupo de autores publicou o livro “Depois do Fim: Conversas sobre Literatura e Antropoceno” para tratar dessas questões na escrita.

As conclusões apontam para a necessidade de incorporar outras cosmovisões ao pensamento e às artes ditas ocidentais/universais anteriormente. Somente a superação dos modos de ver/escutar/representar dos europeus e norte-americanos pode responder às urgências do presente e do futuro.

Entram em cena as ancestralidades negras, africanas, indígenas e até o grande enigma da cultura chinesa. A boa arte vai mais e mais passar pelo tema da crise do antropoceno.

Se existe alguém que reúne boa parte das questões da arte em tempos de inteligência artificial, ele é o inglês Charlie Brooker, criador da série “Black Mirror”, da Netflix. Os episódios são curtos e mergulham nos efeitos extremos da tecnologia na vida de hoje. Exemplo está em “A Joan Está Péssima” (2023), que traz a reflexão de Brooker sobre o que é narrar e criar no mundo da inteligência artificial. A razão é pessimista.