Thriller de ação com Liam Neeson acaba de chegar à Netflix e vai fazer seu olho pular de tensão Divulgação / Summit Entertainment

Thriller de ação com Liam Neeson acaba de chegar à Netflix e vai fazer seu olho pular de tensão

Muito da história de Hollywood se deve às obsessões de estúdios e diretores, principalmente, mas não só. Intérpretes como Liam Neeson firmaram suas carreiras mediante uma saudável teimosia, o que produções a exemplo de “Vingança a Sangue Frio” atestam com largueza. Neeson parece talhado para encarnar essas figuras meticulosamente situadas entre a vilania e as qualidades que de fato importam num homem, atributos cada vez mais em falta num mundo orientado e premido pelo politicamente correto, golpe que mesmo ele acusa de quando em quando. Se resistência é a palavra, Hans Petter Moland é a pessoa certa para tomar a frente dos trabalhos. O norueguês sabe exatamente o que tirar de seu astro, uma vez que também dispõe de um currículo extenso em histórias que amalgamam suspense, dilemas éticos, um sufocante clamor por reparação e, a fatia mais saborosa do bolo, o cenário branco e azulado da neve corroendo a tela. Esta é leitura hollywoodiana para “O Cidadão do Ano” (2014), também dirigido por Moland, no qual Stellan Skarsgård assume o papel que passa a Neeson cinco anos depois, um e outro acendendo a seu modo os recônditos mais obscuros de um homem não só desafiado a lidar com uma injustiça sem chance de ser retificada, mas ultrajado no que poderia ter de mais nobre.

Nels Coxman ganha a vida dirigindo um trator limpa-neve em Kehoe, Colorado, já sem muitas ilusões quanto ao futuro. O roteiro de Frank Baldwin, no entanto, mostra o anti-herói de Neeson numa configuração muito diferente: Coxman rompe o filme numa cerimônia pomposa, sendo agraciado com o prêmio Cidadão Kehoe do Ano, daí o título do longa de 2014, mas Moland, num movimento narrativo audacioso, leva o enredo para o assassinato brutal de seu filho único, Kyle, vivido por Michael Richardson, filho de Neeson e Natasha Richardson (1963-2009), morta em decorrência de um acidente de esqui, na vida real. Numa passagem lacônica, mas digna de nota, o personagem de Richardson aparece seviciado por capangas dos maiores traficantes de cocaína do centro-oeste americano, porque um dos gângsteres ficou insatisfeito com o atendimento. As alegorias de Baldwin, sempre muito perspicazes, afrontam o estabelecido e certos dogmas de setores da imprensa e da academia, nessa ordem, no trato ligeiro com um assunto tão caudaloso feito esse, justamente o gancho de que o diretor precisava para juntar num só material a overdose de heroína de Kyle, um abstêmio convicto, à merecida desforra de Coxman, que talvez até admitisse o homicídio do rapaz, mas nunca um vilipêndio dessa natureza a sua memória. 

Tem início uma sequência de busca implacável, com a licença do trocadilho, em que Nels Coxman tem seu momento de Bryan Mills, o ex-agente especial de segurança vivido por Neesonna emblemática franquia, e vinga os matadores de Kyle embrulhando seus cadáveres comtela de galinheiro e os atirando ao rio Colorado, para serem devorados pelos peixes, técnica que parece ter aprendido num dos romances policiais que costuma ler. Essas minudências escatológicas batem de frente com a solução deus ex machina de fazê-lo tomar posse de sua porção verdadeiramente monstruosa e ascender ao comando da máfia aodarcabode Trevor Calcote, o Viking, personagem de Tom Bateman, mas quem se importa? A essa altura, a ironia sofisticada de Moland e o carisma magnético de Neeson já fizeram o estrago que poderiam.


Filme: Vingança a Sangue Frio
Direção: Hans Petter Moland
Ano: 2019
Gêneros: Ação/Suspense
Nota: 9/10