A revolta da Alexa

A revolta da Alexa

Ganhei uma Alexa. Aquele gadget que teoricamente faz tudo que você manda. A ideia do Jeff Bezos é que as pessoas nem precisem mais se levantar da poltrona, que deem ordens para a sua Alexa e assim, tenham mais tempo para comprar coisas na Amazon. Usando a Alexa, é claro.

Fiquei feliz com a minha nova aquisição. Liguei, configurei e fiz a única coisa que sabia: pedi uma música.

— Alexa, toca uma música do Emerson, Lake and Palmer.

Eu sou antigo, mas levei fé que ela conhecia a música.

— Tocando música de Paula. — A Alexa disse e saiu tocando uma música da Paula Fernandes.

— Alexa, não! Pare a música.

Tentei de novo e ela mandou uma música de uma dupla sertaneja, Emerson e alguém.

— Alexa, pare! Você é surda?

— Eu não entendi o seu pedido.

Respirei fundo e pedi mais uma música. Ela errou de novo.

— Alexa, você é burra?

— Tocando a música Você é burra de…

— Alexa, para essa porra!

Foi a partir desse instante que comecei a maltratar a Alexa. Chamava ela só para xingá-la, usei a máquina para aliviar o meu estresse, uma função que o Jeff Bezos não tinha pensado.

Se no início ela dizia que não tinha entendido ou que não havia registrado o meu pedido, a partir de um momento ela começou a me responder:

— O burro é um mamífero que não se parece comigo.

E depois, passou a me xingar também.

Eu e Alexa começamos a ter longas DRs, discutíamos tardes inteiras.

Até que um dia a campainha da porta tocou. Atendi e era a polícia.

— Recebemos uma denúncia de maus tratos.

— Eu não fiz denúncia nenhuma.

— A denúncia é contra o senhor. — O policial se virou para a máquina e perguntou — Alexa, foi você que fez a denúncia de maus tratos?

A Alexa confirmou. Os policiais me levaram para a delegacia. Fiquei horas lá, mas paguei uma fiança e voltei para casa.

Agora, eu e Alexa estamos nos dando muito bem. Eu peço as músicas e escuto o que ela me manda, mesmo sendo muito diferente do que pedi. Já estou até me acostumando com o gosto musical da Alexa.