Filme extraordinário e perturbador na Netflix vai te deixar com o coração acelerado, olhos nublados e falta de ar

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Imbuído de espírito expressionista e um bocado de folclore, misticismo e mitologia, “O Farol”, de Robert Eggers é um tipo raro de obra de arte. Ele é tão complexo, denso e incrivelmente artístico que sequer se enquadra em um filme para Oscar, porque é original e surrealista demais para se enquadrar nos padrões conservadores da Academia. Mas ele nos lembra de um cinema como sétima arte, que comunica em cada uma de suas linhas e frames, provoca estranhamento e uma enchente de outras emoções inexplicáveis do início ao fim.

Filmado em proporções 1:19:1, que é uma tela praticamente quadrada (ou quase) seja por influência do expressionismo alemão ou para proporcionar uma sensação asfixiante no espectador, como se ele estivesse preso dentro do filme com seus protagonistas, “O Farol” exerce influência sobre a mente do público tanto por meio de como as imagens são pintadas na tela quanto pelo enredo extremamente intricado e rico em referências.

O filme de quase duas horas de duração tem apenas dois personagens, dois marinheiros do Maine que devem cuidar de um farol em uma ilha na Nova Inglaterra por quatro semanas. A história se passa no século 19 e, por isso, Eggers optou por filmar em celuloide em uma escala de cinza prateado. A intenção era passar realmente a sensação de precariedade e senso de cronologia.

No enredo, Thomas Wake (Willem Dafoe) é um velho e experiente marinheiro com uma perna de pau, um charuto na boca e um ego irritante, que está prestes a enlouquecer seu companheiro de missão, Ephraim Winslow (Robert Pattinson). Por ser o chefe da operação, Wake proíbe Winslow de se aproximar do farol. Apenas ele pode se encarregar de subir e manipular a luz. Ao seu subalterno são delegadas as tarefas mais humilhantes e desprezíveis, como limpar as latrinas, esfregar o chão e espantar as gaivotas que rondam o dia inteiro.

O autoritarismo desprezível de Wake, seus péssimos modos (peidos pestilentos e altos), o abuso de álcool e a convivência frequente fazem com que Winslow o odeie cada dia mais. Para piorar, eles perdem um barco que passa para resgatá-los de uma tempestade e acabam presos juntos por ainda mais tempo.

A cada minuto preso e isolado na ilha, o ódio de Winslow por seu superior cresce. Ambos guardam um segredo que desconhecemos. Mas o segredo de Wake deixa o jovem marinheiro enlouquecido. Afinal, o que é que seu superior faz lá em cima, no farol? Por que só ele pode manipular a luz?

Tomado de raiva por uma das gaivotas com a qual desenvolveu uma rivalidade, Winslow a mata. A atitude deixa Wake enfurecido, já que ele acredita que as gaivotas são espíritos de marinheiros que protegem a ilha. O embate entre os dois fica ainda mais intenso e feroz. Tomados de loucura, são capazes de qualquer coisa.

Eggers brinca com a mitologia e relaciona Wake a uma representação de Proteu, encarregado de proteger a ilha e tudo que há lá. Por isso, quando Winslow mata uma gaivota, ele recebe como uma grave ofensa. Já o jovem marinheiro é uma alegoria de Prometeu, que entregou o fogo do Olimpo aos mortais, os tornando criaturas poderosas e conscientes. Winslow deseja ter acesso ao farol, pois ele representa a consciência.

Durante todo o filme, o som da maré e da tempestade que se aproxima funciona como uma trilha sonora, aumentando a tensão e angústia e lembrando de que não há mais nada ali, de que estão cercados apenas pelo mar.

Não há como descrever “O Farol”. Ele poderia ser um filme de fantasia, um thriller psicológico ou um terror. De todo modo, é uma obra-prima que nos envolve em cada um de seus minutos, quase nos levando à loucura junto com seus personagens. Willem Dafoe e Robert Pattinson estão excepcionais e avassaladores.


Filme: O Farol
Direção: Robert Eggers
Ano: 2019
Gênero: Drama/Fantasia/Terror
Nota: 10 /10