Série da Netflix revela segredos de bastidores e crises da família real britânica Divulgação / Netflix

Série da Netflix revela segredos de bastidores e crises da família real britânica

“The Royal House of Windsor” é uma série documental de 2017, narrada por Gwilym Lee, que tira das prateleiras empoeiradas do palácio real a história da monarquia britânica. Começando de 1917, a produção de quase cinco horas de duração conta como o rei George V teve de mudar o sobrenome da família de Saxe-Coburgo-Gotha para Windsor, por causa de suas origens alemãs.

Com um sentimento antialemão borbulhando pela nação, devido à Primeira Guerra Mundial, a realeza deveria tentar remover da lembrança dos súditos os resquícios ancestrais germânicos. Com praticamente nenhum sangue inglês, George V teve de criar laços praticamente inexistentes com seu povo.

A rainha Vitória, avó de George V, era filha de mãe alemã e falava o idioma tão bem quanto o inglês. Casada com Albert, da Baviera, adotou o sobrenome Saxe-Coburgo-Gotha do marido. O filho do casal, Edward VII era geneticamente mais alemão que britânico e se casou com a dinamarquesa Alexandra. O filho de Edward VII, que veio a se tornar o rei George V, que não tinha sangue inglês e chegou a ser chamado de ‘forasteiro’ pelo escritor H.G. Wells.

Na tentativa de apagar que sua origem não era realmente britânica, renomeou a família para Windsor, por causa do castelo real em Berkshire. Não foi preciso muito tempo para que os súditos se esquecessem que a ancestralidade da monarquia pouco tinha a ver com eles próprios.

George V foi traidor de seu primo mais íntimo, o czar Nicolau II, com o qual tinha semelhança de irmão gêmeo. O monarca britânico o deixou para morrer em um porão nos montes Urais, sem lhe dar asilo político, mesmo após este ter abdicado do trono para dar lugar ao regime bolchevique na Rússia.

George V também foi pai do rei Edward VIII, que em apenas 11 meses abriu mão da coroa para se casar com a americana Wallis Simpson. Um casamento considerado escandaloso, devido aos dois divórcios anteriores da mulher e ao relacionamento sádico, com direito a cenas presenciadas por outros membros da família em que Wallis tratava o rei com desprezo e o submetia a situações humilhantes, como  fazê-lo imitar um cachorro e deixá-la apoiar os pés em suas costas.

Em seguida, assumiu o irmão de Edward VIII, o rei George VI e, finalmente, pai de Elizabeth II. Com crises de pânico, gagueira e pouco carisma, a salvação de George VI foi ter-se casado com Maria de Teck, uma mulher forte, cheia de personalidade e decidida. Sua principal conselheira, Maria caminhou com o rei sobre os destroços da Segunda Guerra Mundial na Inglaterra e cumprimentou súditos, aproximando-o, o máximo possível, da imagem carismática de seu irmão mais velho e exilado.

O documentário, além de relembrar fatos há muito tempo esquecidos, traz os bastidores dessas histórias, com trocas de cartas e anotações em diários, e mostra que nem todo membro da realeza nasceu para o posto que assumiu, como o caso do pai de Elizabeth II. Sua morte precoce, aos 56 anos, em decorrência de um câncer, obrigou sua filha mais velha a assumir a coroa com apenas 25 anos. Mas, ao contrário do pai, Elizabeth II havia nascido pronta para reinar. E assim o fez por 70 anos.

Mas não sem desafios foi o reinado da rainha. E, talvez, o maior de todos tenha sido a relação de seu frágil e sensível filho mais velho com o furacão chamado Diana. A princesa de Gales era, no mínimo, muita personalidade para toda a insegurança de Charles. Ele, que desde os 24 anos era apaixonado por sua atual esposa, Camilla Shand, casou-se com Diana apenas para cumprir o dever real de ter uma esposa adequada.

Mas a escolha foi tão errada, que Diana se tornou o desespero da monarquia. Além de sua depressão e bulimia, a princesa gostava de chamar atenção. Era bonita, tinha um carisma natural, era progressista e era atraída por polêmicas. Um exemplo disso é que, enquanto a família real prezava por atos de caridade com crianças e animais, Diana decidiu apoiar entidades que ajudavam pessoas que haviam contraído HIV, tema sensível à época.

Apesar das inúmeras tentativas da rainha Elizabeth II, de Charles ou dos outros de controlar a princesa, Diana era simplesmente indomável e sua morte foi considerada por membros da família como uma “trágica solução para um problema terrível”.

Por fim, o documentário não tenta pintar a família como boa ou intocável, mas como pessoas que lutavam para sobreviver às pressões de sua posição social, muitas vezes acreditando que seus privilégios eram absurdos e sempre sacrificando seus desejos pessoais para o bem da dinastia.

A conclusão que se chega ao final dos seis episódios de aproximadamente 45 minutos cada, é de que a monarquia inglesa teve de passar por cima de escrúpulos e dos sentimentos pessoais e para sobreviver à chegada da democracia, às revoluções e às guerras. Os membros da realeza britânica foram, acima de tudo, implacáveis em remover todos os elos fracos ou ameaçadores de seu caminho.


Nome: The Royal House of Windsor
Ano: 2017
Direção: não assinada
Gênero: Documentário histórico
Nota: 8/10