Um quase diário de um festival Pablo Regino / MTur

Um quase diário de um festival

Deveria começar explicando a função do “quase” no título, elencando uma série de motivos que me fazem antever que a regularidade deste relato sobre o 23º Festival Internacional de Cinema Ambiental, nosso querido FICA, pode — ou deverá — ser feito de maneira alternável em função de fatores como a imprevisibilidade dos acontecimentos (isso também é uma maneira de dizer que por estar em um dos juris do evento não sei se terei tempo hábil para escrever. Como se diz no show business: it’s a fun job, but still a job). Poderia dizer também em minha defesa que a conexão anda bem precária por aqui, verdade que a internet no Brasil como um todo não é lá essas coisas, mas aqui deveria ganhar um prêmio, resta definir se uma framboesa ou um abacaxi.

Feito este preâmbulo que me serviu tanto para adiantar desculpas como para não entrar logo de sola no assunto, é certo dizer que a organização do evento impressiona logo de cara, pois montar uma estrutura que suporte duas semanas de festival tem que ser bem engendrada. E pelo que vimos até agora, é.

Cheguei na Cidade de Goiás com o Fica já rolando desde o dia 24 de maio, bem a tempo do começo da mostra competitiva (31/05), com aquela sensação mista de empolgação por estar novamente em um grande evento presencial, mas aquela ponta de receio — mesmo com as três doses de vacina devidamente tomadas — pelo recrudescimento dos casos de Covid fazerem necessárias algumas precações, como a reutilização de máscaras em ambientes fechados. É o “novo normal” em toda a sua plenitude.

Depois do lançamento oficial com as devidas apresentações e autoridades, o Cine Teatro São Joaquim deu início às exibições com a sessão especial de abertura, com o longa “Eami” da cineasta paraguaia Paz Encina, vencedor do festival de Roterdã deste ano. Um relato impressionante sobre a retirada de toda uma comunidade indígena, os “Ayoreo Totobiogosode”, do chaco paraguaio em virtude do avanço da pecuária, tudo sob o ponto de vista de Eami, uma menina de 5 anos. Um detalhe interessante é que o nome da personagem, como explicado no filme, significa tanto “floresta” como “planeta”, uma forma de avisar que uma coisa acaba influenciando na outra. Uma obra escolhida a dedo para iniciar um festival que traz em seu subtítulo “Meio Ambiente e Saúde: onde estamos e para onde vamos”… É a grande pergunta a se fazer depois de dois anos de pandemia.

P.S. Os dias são quentes, mas as noites frias, então se vierem para Goiás, não se esqueçam dos agasalhos, crianças.

P.S. 2 Tem um outro cara escrevendo para a Bula também, mas eu não confiaria em um cara que não toma uma cerveja antes das 10 da matina.