A música ficou menor, morreu Nelson Freire

A música ficou menor, morreu Nelson Freire

Na terra da canção popular, surgiu um menino na década de 1950 que saiu do interior de Minas Gerais e assombrou o mundo na música erudita. A elegância discreta se juntava ao modo perfeito de executar as peças para piano de Chopin e Debussy. Nelson Freire morreu na véspera do Dia dos Mortos deste ano e deixou uma obra de piano que, graças às plataformas de streaming como o Spotify, pode ser apreciada na íntegra.

A trajetória do exímio pianista foi tema do belíssimo documentário de João Moreira Salles, “Nelson Freire” (2003), disponível no Globoplay. A câmera acompanha de maneira incansável os vários ângulos do músico. Num dos trechos mais emocionantes, é possível assistir a um ensaio de Nelson com sua amiga Martha Argerich, a pianista argentina que só pode ser classificada de genial por suas performances.

Nelson e Martha sentam-se ao piano e tocam a quatro mãos uma das famosas músicas de Rachmaninoff, a valsa “Opus 2”. É inacreditável a sintomia dos dois músicos que se conheceram ainda na juventude. Salles filma a cena sem cortes, numa sequência que merecia a duração de uma tarde inteira. Dois artistas da mais alta exigência conversando e combinando a apresentação que farão juntos em Bruxelas, capital belga.

O último disco de Freire é uma coleção dos Noturnos, de Chopin, que foi lançado em agosto de 2021. O repertório faz parte das famosas 20 peças para piano do compositor polonês. Não é preciso ser um expert em música erudita para gostar dessas intepretações do pianista brasileiro. Outra obra-prima é a versão de Freire para “Claire de lune”, de Debussy, lançada em 2009 e que é uma das músicas mais conhecidas no mundo.

A morte de figuras como Nelson Freire é um acontecimento que deve se repetir muito nos próximos dez anos. Trata-se de uma geração talentosa de brasileiros e brasileiras que deram novo rumo às artes e ao pensamento crítico na década de 1950. Foi uma época de grandes ambições em relação ao que poderia feito por aqui. Há um pouco de nostalgia nisso certamente, porém é um reconhecimento do que se fez de melhor no país.