As 51 maiores músicas brasileiras de todos os tempos A.PAES / Shutterstock

As 51 maiores músicas brasileiras de todos os tempos

Ao longo da história, a música alcançou papel de destaque cada vez maior. Na Idade Antiga, já se verificava o costume de diferentes civilizações celebrarem seus deuses mediante um desdobramento de sons harmoniosos entre si, que obedeciam a uma escala pré-determinada. Na vanguarda em muitos dos costumes adotados entre os povos atávicos — muitos dos quais ainda hoje observamos —, os romanos foram os primeiros a fazer da atividade musical um negócio ao encomendar composições e importar instrumentos; na Roma Antiga, a música adquiriu igual evidência na política, uma vez que todos os pronunciamentos no Senado eram acompanhados por uma orquestra.

A propagação do trabalho de músicos e intérpretes deve muito também à Igreja. Na Idade Média, o papado de Gregório (540-604) se caracterizou por uma verdadeira revolução nos usos durante as missas. Gregório, eleito em 590, se dedicou pessoalmente a catalogar e popularizar hinos em latim que reproduziam o Evangelho e exaltavam o divino. O canto gregoriano foi se tornando um hábito e conquistando plateias além dos templos, fenômeno que ganha ainda mais força a partir do século 11.

Pensadores que organizaram a filosofia como a conhecemos hoje, a exemplo de Platão (427-347 a.C), Aristóteles (384-322 a.C) e Santo Agostinho de Hipona (354-430), enxergam na música uma maneira eficiente — talvez a mais eficiente — de conectar corpo e espírito, justamente por ser uma atividade que demanda trabalho físico e elevação intelectual. Esses polímatas enaltecem na música seu caráter civilizatório, moldando personalidade afáveis ao diálogo, graças aos muitos gêneros em que pode se constituir. A música é alento para o desesperançado, estímulo para o covarde e sossego para o impetuoso.

Talvez tenha sido Friedrich Nietzsche (1844-1900) quem melhor declarou seu amor à música. O filósofo alemão, niilista convicto, era igualmente, quem diria!, um melômano devotado. Nietzsche chegara a dizer que a vida sem a música é um erro; autor de textos que despejavam chumbo grosso sobre a religião, a moral, a cultura contemporânea, a ciência e a própria filosofia, Nietzsche poupara a música, por se considerar nascido de suas entranhas, mais precisamente das entranhas do que compunha seu amigo Richard Wagner (1813-1883), que catalisava de modo genial o caos e a beleza da vida por meio de sua obra.

Pensando sobre a importância da música na vida do homem contemporâneo no Brasil, a Bula realizou uma enquete com o objetivo de conhecer as preferências musicais dos nossos leitores, encarregados de uma tarefa hercúlea — mas muito prazerosa: elencar as melhores músicas brasileiras em todos os tempos, sem importar o gênero. A consulta foi feita a assinantes da newsletter — via formulário de pesquisa —, e seguidores da página da revista no Facebook e no Twitter. O critério de desempate, quando houve essa necessidade, foi o lugar conquistado no ranking da revista “Rolling Stone Brasil”, publicado em 2009.

As 50 músicas mais votadas foram reunidas em uma lista, que contempla composições de diferentes gêneros: da bossa nova ao rock, do samba ao choro, da valsa à música sertaneja. Foram consultados 3.171 participantes. Os resultados foram organizados e filtrados, apresentados em uma lista final. É importante ressaltar que a seleção não pretende ser abrangente ou definitiva: trata-se apenas de saber a opinião dos leitores pesquisados. “Carinhoso” foi a peça mais lembrada entre o universo estudado. Composta por Pixinguinha (1897-1973) entre 1916 e 1917 — antes, portanto, que o maestro fosse aprimorar seus conhecimentos no Instituto Nacional de Música, atual Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1933 —, “Carinhoso” só foi gravada pela primeira vez em 1928, e mesmo assim sem letra. Trabalhos que se tornaram célebres em determinadas regiões, mas nem por isso menos importantes, também figuraram entre as composições mencionadas. É o caso de “Sabor Açaí”, do paraense Nilson Chaves, sobre a palmeira mais famosa do norte do país, da qual se extrai o fruto arroxeado que mata a fome do caiçara e ganhou o mundo. Constatação inescapável da riqueza cultural do Brasil.

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.