A culpa da crise hídrica é do STF e dos índios que não fizeram a dança da chuva

A culpa da crise hídrica é do STF e dos índios que não fizeram a dança da chuva

Encontrar culpados pelos seus próprios erros é um grande vício dos seres humanos. Tal desvirtude ocorre, notadamente, pelo medo do fracasso; ao confrontarmos uma realidade em que falhamos, tendemos a buscar respostas em fatores outros que não as nossas próprias atitudes. Em determinado estádio da vida, contudo, amadurecemos e chegamos ao apogeu da responsabilidade — momento em que assumimos uma postura de adulto e confrontamos os fantasmas da culpa. Nem todos, porém, conseguem maturar essa dádiva comportamental. Parece ser o caso notório do digníssimo condutor dos rumos de nossa nação.

Estamos em uma democracia e o voto da maioria deve sempre prevalecer. O poder emana, de fato, do povo, que elege os seus representantes de acordo com o apreço por virtudes, ideologia e planos dos candidatos de uma eleição. Ao menos, na teoria de um mundo modelo. Por essa razão, é louvável assumir que o chefe do Executivo foi eleito de forma legítima. Questionar isso, no atual momento de evolução social, é flertar com a vulgaridade e o inconformismo; essa é, contudo, a posição do próprio Presidente, o qual, desde que assumiu a cadeira no Planalto, questiona a própria vitória nas urnas — logo ele, eleito pelas urnas eletrônicas durante quase 30 anos.

Essa é apenas uma das facetas de um chefe de nação, digamos, exótico. Com uma rotina que envolve motociatas pelo país afora, conversas diárias em um cercadinho com fanáticos apoiadores e uma tendência a criar uma polêmica a cada fala, acostumamo-nos a normalizar o absurdo. Isso, sem esquecer a qualificadora de sempre estar em aguerrido conflito com a mídia e com o Judiciário. Daí por que as pautas de importância e os holofotes estarem sempre voltados a teorias conspiratórias e inimigos invisíveis — com as bandeiras de anti-establishment e anticomunista. Os problemas da economia, as mazelas populares e os milhões de desempregados ficam à mercê de um segundo ou terceiro plano. Mais importante que o feijão no prato é o fuzil, ora pois.

A bravataria só podia culminar em desgoverno. Como um país não se move sem liderança, o dólar vai às alturas, a gasolina está em um preço exorbitante, há uma iminente crise hídrica, o gás de cozinha passou da centena de reais — e a lista, além de não ter fim, é retroalimentada. E a culpa disso tudo, é claro, é sempre dos outros: governadores, “fique em casa”, governos anteriores, comunismo, falta de fé… Talvez seja muito exigir de uma pessoa pusilânime que, de uma hora para outra, amadureça, assuma os próprios erros e tente, ao menos, fazer valer os votos de quem nele confiou. É de se admirar que aquele que mais repete João 8:32, aos quatro ventos, desconheça os Salmos 19:12-13.

Crédito editorial: Joa Souza / Shutterstock