Atlas das Representações Literárias: a relação entre a geografia do Brasil e a produção literária do país

Atlas das Representações Literárias: a relação entre a geografia do Brasil e a produção literária do país

Ao longo de 7.367 km de sua faixa litorânea, o Brasil tem muita história para contar. Partindo dessa ideia, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lança o quarto volume da série Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras. A publicação se concentra na costa do país, a maior extensão territorial estudada, do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, à foz do Rio Amazonas, entre os estados do Pará e Amapá. O atlas já traçou um panorama, à luz da produção literária, do Brasil meridional (2006), na primeira parte, e os sertões brasileiros (2009 e 2016), segundo e terceiro tomos da coleção.

A obra conta com passagens e ensaios acerca de romances; fotografias, pinturas; imagens de satélite; e registros cartográficos, a fim de constituir as regiões tornadas célebres graças à literatura. Outro intuito da empreitada é esclarecer de que maneira o Brasil desenhou-se como hoje é conhecido.

O estudo se aprofunda sobre o processo de formação das diversas regiões brasileiras conforme iam sendo colonizadas pelos portugueses e espanhóis e, assim, realçar a importância da ficção quanto ao entendimento mesmo do país e de que maneira suas tradições orais foram se incorporando ao cânone literário nacional.

A costa certamente é a área do território brasileiro que mais o representa e que maior influência desempenhou no caráter da gente do Brasil, até por constituir o berço de metrópoles de vulto ainda hoje. Foi por meio do oceano que os desbravadores europeus chegaram até nós, encurtando sobremaneira a distância entre o mundo já estabelecido e o mundo como ele poderia vir a ser.

O negro escravizado, trazido ao Brasil à custa da violência do tráfico de pessoas, e os povos pré-cabralinos também são mencionados no que respeita à sua participação fundamental na gênese do Brasil, além, claro, de estarem presentes em inúmeras manifestações literárias.

A escolha dos lugares escrutinados pelo atlas se pautou pelas demandas da Coroa de Portugal, ávida por descobrir novas riquezas e ampliar as rotas de escoamento de mercadorias no segmento meridional do Atlântico. Sobre as obras literárias, o registro privilegiou a época em que o autor viveu, sem ressaltar necessariamente os lugares descritos do ponto de vista geográfico, mas sim a partir da maneira como cada área ia sendo ocupada.

“Costa Brasileira”, o quarto volume, abrange paisagens do Rio Grande do Sul a Belém, incluindo ainda Santos, Rio de Janeiro, Salvador, Olinda e Recife e a Costa dos Engenhos. Como anfitriões, autores clássicos e contemporâneos a exemplo de Eliana Alves Cruz, Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Dalcídio Jurandir, Ana Miranda, José Lins do Rego, José Cândido de Carvalho, Assis Brasil, Maria Firmina e Lima Barreto.

Bastião da literatura brasileira e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) recebeu atenção especial. O trabalho foi lançado justo quando da celebração de 182° aniversário de nascimento.

Da pena de Machado, nasceram passagens luminares, verdadeiro testamento da sociedade brasileira, seus costumes, seus tipos tão característicos e registros sobre a política da metrópole entre o fim do século 19 para o século 20. “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”, por exemplo, dão ao leitor a capacidade de vislumbrar como seria a capital do Império, depois tornado República, e a transição do regime escravocrata para o sistema abolicionista. Apesar de quase nunca ter saído do Rio de Janeiro, Machado fazia justiça ao epíteto de Bruxo do Cosme Velho, bairro onde morava, ao descrever o país continental em que vivia com precisão cirúrgica. Tudo de um jeito orgânico, nada professoral, valendo-se de suas famosas metáforas e muito de sua ironia fina.

Os quatro números da coletânea Atlas das Representações Literárias de Regiões Brasileiras estão disponíveis para download gratuito. O IBGE também planeja o lançamento de uma quinta obra, sobre a Amazônia, ainda sem data prevista.