O som e a fúria de Kurt Cobain

O mundo do rock teve seu último terremoto em 1991. Trinta anos atrás, três rapazes da friorenta cidade de Seattle, nos EUA, lançaram o disco “Nevermind”, o segundo trabalho do grupo Nirvana. De imediato, a MTV e as rádios foram invadidas por um som de guitarras distorcidas (punk, metal) e uma voz que alternava o canto de melodias e gritos intensos.

A novidade trazida por Kurt Cobain é um formato que reunia canções ao mesmo tempo agradáveis de se ouvir, com melodias, e a explosão de gritos nos refrãos. Músicas como “Smells like teen spirit”, “Lithium”, “Heart-shaped box” e “All apologies” sinalizam com a normalidade da letra a ser cantarolada nos minutos iniciais que, porém, desemboca no ruído final.

A passagem da melodia ao barulho ficou marcado em uma das principais bandas do período — os também norte-americanos Pixies. Mais do que no conteúdo das letras, a mensagem estava na forma das canções. Sobretudo nos momentos de ruptura (gritos, ruídos) que rompe uma normalidade aparente de melodias.

Os berros de Cobain podem ser ouvidos como alertas desesperados de uma época e de uma vida pessoal em desintegração — que chegaria ao limite do suicídio em abril de 1994. Saiu finalmente no Brasil a edição dos diários escritos pelo líder do Nirvana, dando oportunidade para mais especulações para o ato de extremo de se matar.

Para cada história de jovens enriquecendo (como no livro “Fogueira das Vaidades”, de Tom Wolfe), havia no início dos anos 1990 um contraponto na juventude largada no mundo, furiosa e alienada. Era o que se via nas bandas de grunge rock de Seattle e nos filmes “Drugstore Cowboy” e “My Own Private Idaho”, de Gus Van Sant.

Do dia para noite, ocorreu naquela época a invasão global de Nirvana, Pearl Jam, Mudhoney e Soundgarden. A MTV, sem dúvida, globalizou o fenômeno nascido na distante Seattle. E o festival Lollapalooza (hoje multinacional do entretenimento) surgiu em 1991 para reunir aquela trupe de rapazes e moças.