Regras de Umberto Eco para escrever bem continuam atuais e se aplicam a qualquer idioma

Regras de Umberto Eco para escrever bem continuam atuais e se aplicam a qualquer idioma

Umberto Eco sabe tudo o que se precisa saber e cospe essas coisas da maneira mais blasé na sua cara, como se fosse um robô.” Foi dessa maneira nada sutil que o cineasta italiano Pier Paolo Pasolini definiu seu compatriota, autor de “O Nome da Rosa” (1980), um cânone da literatura contemporânea que amalgama semiótica, filosofia e história medieval. Eco manteve por anos uma coluna na revista “Pape Satàn Aleppe”; o nome do espaço não poderia ser mais preciso: La Bustina di Minerva (A Caixa de Minerva), que fazia alusão a uma marca de fósforos. Inveterado fumante de cachimbo, o escritor tinha o hábito de fazer anotações dentro da embalagem.

Quanto à deusa romana Minerva, a original, Eco deixava no ar, como a fumaça de seu cachimbo, que no mundo moderno divindades e quinquilharias não raro se misturam, e há que se jogar fora estas a fim de se preservar aquelas. Para tanto, ele estabeleceu cerca de 40 regras, fundamentais quando se deseja transmitir uma mensagem de maneira clara e objetiva, a fim de se atingir a divina concisão e, por óbvio, sem menosprezar o estilo.

Aspirantes à carreira literária e mesmo escritores já renomados se veem constantemente capturados pelas armadilhas da língua, seja ela qual for. Mas as recomendações de Eco se aplicam a qualquer falante de um idioma. Para se escapar de deslizes léxicos, existem alguns estratagemas, uns mais evidentes, outros menos.

Aliterações, segundo Umberto Eco, são um maná para idiotas; clichês, a morte esquentada; generalizações, jamais; quanto a reproduzir o que outra pessoa declarou, o italiano comete um saboroso paradoxo e menciona o inglês Emerson: “Odeio citações. Diga-me apenas o que você sabe”; frases de um só palavra, nem pensar; ponto-e-vírgula e dois pontos são filhos de uma mesma mãe, porém servem a patrões diferentes. É necessário identificar quando se usar uns ou o outro.

E ele segue, declarando que perguntas retóricas são quase sempre desnecessárias, assim como são quase sempre inadequados os pontos de exclamação e, o principal: a tão desejada — e difícil — concisão. Eco admite que é, muitas vezes, um verdadeiro sacrifício expressar o que se pensa com o menor número possível de palavras, desafio que se concentra no desuso de frases longas ou sentenças interrompidas por ideias ocasionais, que acabam por confundir muito mais que explicar, ainda que tenham o nobilíssimo propósito de municiar o leitor com a maior quantidade possível de informações. Um recado elegante para os jornalistas. No caso de não se encontrar as palavras exatas, um pecado capital é apelar a expressões coloquiais, ou seja, “peso el tacòn del buso”, o nosso “a emenda sai pior do que o soneto”.

Grandes nomes da literatura e da filosofia, a exemplo de Walter Benjamin, Steven Pinker, V.S. Naipaul, Friedrich Nietzsche, Elmore Leonard e George Orwell também se notabilizaram por observar um esquema quase matemático no que se refere ao escrever bem. E falando do autor de “1984”, Eco não se pejaria de concordar com o britânico e declinar de qualquer um desses mandamentos antes de dizer uma barbaridade qualquer.