No Dia da Educação precisávamos de um ministro, mas temos um meme

No Dia da Educação precisávamos de um ministro, mas temos um meme

O dia 28 abril é uma das mais notáveis e emblemáticas datas comemorativas internacionais: Dia Mundial da Educação. Um momento para se refletir sobre valores, métodos, progressos e, sobretudo, para conscientizar os jovens a respeito da importância da formação educacional. Em um período no qual escolas e universidades estão de portas fechadas em função da pandemia, o cultivo do pensamento na estrutura educacional do país merece atenção redobrada.

O Ministério da Educação é o órgão que elabora e executa a Política Nacional da Educação (PNE); assim, todo o sistema educacional se concentra sob a sua responsabilidade, desde a iniciação infanto-juvenil até a formação profissional e tecnológica. Apesar de a educação ser uma responsabilidade contributiva de todos os participantes do núcleo da sociedade — aí compreendidos a família, o Estado e os educadores em geral —, sem dúvida a reverência às diretrizes do Ministério é o fiel da balança no desenvolvimento escolar no Brasil.

É preciso ter em mente que, desde o período eleitoral, o atual presidente sinalizou que faria escolhas técnicas para todos os ministérios. Seria uma forma de demonstrar mudanças na filosofia de governança e colocar fim aos ditames da chamada “velha política” de conchavos. Porém, com apenas três meses de governo, o então ministro Ricardo Vélez foi demitido. Dentre outras pérolas, afirmou que o brasileiro era “canibal” ao viajar, solicitou que as escolas filmassem as crianças cantando o hino nacional e estava por iniciar uma espécie de revisionismo histórico sobre o período da ditadura civil-militar. Para o seu lugar, foi escolhido Abraham Weintraub, até então secretário-executivo da Casa Civil, apresentado pelo presidente como doutor, mas sem possuir o título. O panorama de polêmicas, todavia, não se alterou.

Reunimos uma série de gafes gramaticais e polêmicas de autoria do ministro, como forma de fazer um contraponto comemorativo a um dia que deveria ser resguardado apenas para reflexões positivas. É justamente pelo contraste com o que se esperaria do ocupante de um cargo tão representativo, que se afasta notadamente da esperada razoabilidade em sua gestão educacional, que listamos essa reunião de situações pitorescas.

O exterminador da gramática

Imprecionante

Em uma mensagem em que se dirigia ao filho do presidente, o ministro disse que era “imprecionante” o fato de em momentos passados não haver pesquisas em segurança pública no país. Um crasso erro ortográfico na troca do “s” pelo “c”.

Paralização e suspenção

Em ofício dirigido ao ministro Paulo Guedes, da economia, Abraham Weintraub solicitava mais recursos para a sua pasta, tendo em vista que os do ano em questão poderiam causar “paralização” e “suspenção” das atividades. Assim, com “z” e com “ç”, em vez de “s”.

Acepipes

 “Tranquilizo os ‘guerreiros’ do PT e de seus acepipes (…)” — essas foram as exatas palavras iniciais do ministro em uma indignação contra o Partido dos Trabalhadores. O dicionário “Aurélio” até registra a palavra “acepipes”, uma maneira de temperar para deixar algo mais apetitoso.

Cafta

“(…) Ou no livro do Cafta ou na Gestapo”. — Ao se referir ao escritor Franz Kafka, o ministro utilizou seu nome com essa estranha grafia.

Antecessores

Em uma discussão com aliados Olavistas, o ministro Weintraub disse “…lidar com compromisso de antessessores (…)”. O termo está obviamente grafado errado, no que parece uma mistura da palavra correta “antecessores” com “assessores”.

Piadas de mau gosto

Não são apenas as ações caricaturais e os erros gramaticais que chamam a atenção ao ministro. Há muitas de suas posições que destoam da posição que ocupa. Exemplos não faltam:

Comparou os ex-presidentes Lula e Dilma a drogas transportadas por aviões oficiais (caso que o levou a uma advertência pelo Conselho de Ética da Presidência).

Afirmou que as universidades públicas eram redutos de plantações de maconha e fabricação de drogas sintéticas.

Respondeu uma internauta que o chamou de “bobo da corte” que preferia isso a estar perto da mãe dela, que seria uma “égua sarnenta e desdentada”.

Ameaçou as universidades, ao dizer que reduziria as verbas das que estivessem promovendo balbúrdias em seus campi.

E, é claro, em tempos de preocupação com a pandemia mundial, o ministro achou por bem estremecer um pouco as relações diplomáticas com a China. Em seu twitter, publicou uma tirinha da Turma da Mônica, com um cenário nipo-asiático, em que o personagem Cebolinha troca os “r” pelos “l”, em uma alusão xenofóbica à maneira com a qual os chineses falam o português no Brasil.

Enfim, por essas e outras razões, apesar da importância da data, talvez não haja tantos motivos para comemorações. Para o ministro, sobra irreverência, deboche e polêmicas. Contudo, o primordial está em falta:uma gestão com seriedade para conduzir a segunda pasta mais importante do país. Fica nítido que o que falta mesmo na realidade, é educação, com toda vênia e utilizando os devidos e escorreitos vocábulos.