10 textos sobre vinhos de 10 grandes autores da literatura mundial

10 textos sobre vinhos de 10 grandes autores da literatura mundial

O que é bom na vida? Em uma infinidade de coisas todas dispostas para diferentes gostos e aptidões podemos citar, com absoluta certeza, que dentre elas estão: filmes, música, comida, viagens, livros e vinhos. Conan diria: “Esmagar os crânios dos meus inimigos”, mas ele é um bárbaro!

Um bom livro, assim como um bom vinho não pode ser relativizado, e os dois fornecem experiências igualmente fantásticas, limitadas apenas pelos sentidos específicos relacionados as suas afinidades. Com a diferença de que um livro leva uma pequena vantagem em relação ao vinho. Um bom livro pode ser lido mais de uma vez, enquanto um bom vinho parece ser uma experiência única. Lendo um livro pode-se conceber a auto realização de maneira solitária, isoladamente. Com raras exceções, Hemingway é uma delas — “Uma garrafa de vinho é uma ótima companhia” —, o vinho sugere companhia, conversa, comida bem preparada, em especial as metodicamente trabalhadas, como é o caso dos maravilhosos queijos. Essa harmonia é uma consequência ímpar, estatisticamente impossível de ser repetida, assim como é muito raro que dois raios caiam no mesmo lugar.

Para Robert Louis Stevenson, “Vinho é a única obra de arte que se pode beber”. A literatura criou momentos mais do que especiais para falar de vinhos. No livro, o “Evangelho Segundo Jesus Cristo”, por exemplo, a palavra vinho aparece 29 vezes e 22 em “Memórias de Adriano”, onde o tema é tão ricamente explorado que se torna difícil elencar os trechos mais importantes. Ambos nem competem com “Por Quem os Sinos Dobram”, de Ernest Hemingway, no qual o escritor com verdadeira veneração pelo vinho cita a palavra 104 vezes. Repete a dose com moderação em “Paris é Uma Festa” citando o vinho 48 vezes. A matemática não mente. O vinho tem um lugar privilegiado na literatura. E é, em sua capacidade de motivar narrativas, incrivelmente amplo. Pode-se intuir que a necessidade de correlacionar sentimentos, situações essencialmente introspectivas e momentos de profunda alegria e festividade incluem uma entidade eficaz, capaz de traduzir em uma única palavra todo um conjunto de diferentes sensações.

Os Bebedores, de Vincent van Gogh (1890)

Existe algo mais civilizado que empunhar uma taça de cristal, observar o brilho do vinho que cintila e combinar harmoniosamente as sensações de olfato e paladar após a gloriosa degustação? Intimamente uma das artes capaz de materializar impressões é a literatura. A busca da escrita perfeita é, de alguma forma, a capacidade de passar para o papel, com robustez e valorosa performance, elegantemente numa disposição pensada e ordenada de palavras, a maneira intima de receber por meio dos sentidos uma sensação, dentre outras coisas. Para Paul Valéry, sobre a perfeição da escrita, “Eleva enfim uma página à potência do céu estrelado”. Trabalho árduo é esse do artista das letras que quer tornar sua escrita real, transportar o sabor do vinho e suas consequências para que outros degustem sensações alheais com fim de entretenimento e formação. Nas palavras de Enrique Villa-Matas “Pois seria necessária uma vida sem fim para guardar um único pobre segundo da lembrança, uma vida sem fim para lançar um único olhar de um segundo à profundidade do abismo do idioma”. Não seria difícil imaginar que um escritor se embrenhasse pelo quase exagero, referindo-se a importância do vinho, ao escrever coisa onde, virtualmente falando, um primitivo amante do vinho seria o indivíduo capaz de enunciar a seguinte frase: “Se me arrancassem do deserto portando a sede de todos os homens de todos os tempos e me perguntassem se para saciar-me eu preferiria água ou vinho eu trocaria todos os barris de água pura e doce por uma única taça de precioso vinho”.

O vinho estar inserido organicamente no texto é o objetivo. Como quando o jovem esposo em “Tia Julia e o Escrevinhador”, de Vargas Llosa, toma um gole de vinho direto do bico da garrafa omitindo a ela que é sua primeira vez, caracterizando um decente rito de passagem. O vinho não deve ser apenas citado, esta é regra, mas ser uma personagem essencial do texto e na altura da prosa ou do verso em que surge, ser obviamente protagonista.

Assim, é de sumo valor didático e potencialmente útil para uma conversa entre amigos, em companhia de vinhos, textos exímios de escritores imortais.